02, Ella.

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Nas próximas horas que se passaram comigo sentada naquele barzinho curtindo o show, foi um misto de sentimentos estranhos, a cada shot que eu virava de alguma bebida eu me perguntava como era possível reconhecer algo que eu nem sequer me lembrava, o ácool que entrava não estava fazendo efeito, mas que droga de sensação esquisita.

Ashie recebeu uma mensagem da garota que estava afim e teve que ir até ela, então eu acabei ficando ali bebendo, o guitarrista não me olhou mais, por mais que eu tenha o encarado frenéticamente, ele não me olhou mais, havia muitas garotas ali, então eu simplesmente segui o show bebendo e ouvindo a música boa.

A última música foi tocada e as luzes se apagaram, a multidão começou a ir embora e de repente só havia eu e o barman ali, eu continuei sentada e pedi um shot de despedida, e ele preparou.

Assim que o shot escorreu pela garganta eu me levantei, só então eu percebei que estava tonta, Ashie não estava aqui e eu não sabia como iria para casa, minhas pernas fraquejaram por um instante e meu corpo cedeu para baixo, mas em uma velocidade quase inacreditável, dois braços firmes me seguraram.

Primeiramente eu senti o perfume amadeirado, era doce e era bom, céus, era muito bom. Meus olhos subiram dos braços até o rosto e finalmente eu consegui ver quem me segurava, o meu coração deu uma breve parada e meus olhos piscaram rapidamente, acabei soltando um suspiro alto, que porra foi essa?

O guitarrista da banda me segurava tão forte e com tanto cuidado, era como se meu corpo fosse algo extremamente frágil, o toque não me machucava e eu juro que poderia ficar ali por horas nos braços dele.

─ Você está bem? consegue ficar de pé? ─ A voz dele era calma, e o tom em que falava demonstrava cuidado, aos poucos ele foi me erguendo e minha vista foi ficando mais clara.

─ Sim, consigo. ─ Me soltei dos seus braços, não de um jeito brusco, meus pés fincaram no chão e eu consegui ficar firme novamente. ─ É só que eu estava sentada esse tempo todo e não sabia que ia acabar ficando tonta, mas eu estou acostumada com isso, e muito obrigada.

Dei um leve aceno com a cabeça, peguei minha bolsa em cima do balcão e fui saindo do local, meu celular havia descarregado e eu só percebi isso de novo quando abri a bolsa, nem tem como chamar um táxi, que confusão.

Aceitei a derrota e me sentei em um banco, acendi um cigarro e fiquei vendo o céu escuro, era tão lindo, estava nublado por isso não havia estrelas, mas mesmo assim, era desse jeito que eu gostava, me desprendi do céu quando escutei a mesma voz de minutos atrás ao meu lado.

─ Eu não sou de oferecer carona, mas se você quiser, eu posso te levar até em casa em segurança, você bebeu, táxi por aqui vai ser difícil e o cara que estava com você te deixou. ─ Disse em pé ao meu lado, com as mãos nos bolsos, ele não me olhou nem por um segundo.

─ Sim, ele foi atrás da garota dele. ─ Disse sorrindo de lado, eu estava feliz por Ashie estar apaixonadinho por alguém.

─ Achei que fosse seu namorado. ─ Senti o tom sarcástico.

─ Ele é meu melhor amigo, literalmente, um irmão. ─ A fumaça saia lentamente da minha boca e voltei a focar no céu.

Ele se sentou ao meu lado, pegou um maço de cigarros no bolso e acendeu um também, depois de um tempo eu pude sentir ele me olhando pela primeira vez desde o acontecido do palco, olhei para ele de volta. Não estávamos perto, mas também não estávamos longe, eu podia ouvir meu coração batendo forte e aposto que se ele estivesse alguns centímetros mais perto, ele também ouviria.

─ Eu não quero ir pra casa. ─ Minha voz saiu tão baixinha, mas eu tinha a certeza que ele havia escutado o que eu disse.

Ele se virou para frente, dando mais um trago no seu cigarro, de repente se levantou, jogou o cigarro e o apagou com a sola do seu sapato, virou para mim com as mãos no bolso, me encarando com aqueles olhos brilhantes.

─ Então, não vamos pra casa.

Ele sorriu e me puxou pelo braço, nisso algumas gotas de água começaram a cair do céu, parecia cena de filme, ele me puxava e me levava para algum lugar, eu não fazia idéia, mas eu só queria estar junto dele.

Chegamos ao estacionamento e entramos correndo em um dos carros, estávamos rindo que nem idiotas, motivos? não havia, apenas a adrenalina em nós por termos corrido na chuva.

─ Como você se chama? ─ Ele perguntou após o silêncio permanecer por uns minutos depois que paramos de rir.

─ Me chamo Ella. ─ Subi os pés no banco e puxei as pernas até o peito, me encolhi por conta do frio. ─ E você?

─ Tom, Tom Kaulitz. ─ Falou me encarando. ─ 'Tá com frio?

─ Nada demais, só por causa da água, mas eu não me importo, dias chuvosos assim, me deixam feliz, principalmente em dias de muita tempestade, eu simplesmente me sinto melhor, eu não faço idéia do porquê. ─ Disse em um tom calmo, como se fosse fácil falar da minha vida com ele.

─ Então, senhorita 'Monsun' o quê quer fazer? ─ Sussurrou aquela palavra em um sotaque diferente e eu pude perceber que era outra língua, eu literalmente conhecia.

─ Caralho, você é alemão? ─ Ele fez um cara de desentendido, e eu fiquei me questionando, depois pensei bem, e como ele era famoso, era uma coisa que todo mundo deveria saber. ─ Ah, desculpa, não se sinta ofendido, eu não sabia tanto sobre você.

─ Tudo bem, eu sou sim alemão. ─ Deu uma leve risada, o que me deixou menos envergonhada. ─ Mas você conhece alemão, então?

─ Sim! eu era da Alemanha, morava em Lípsia antes de me mudar para L.A com meus 8 anos. ─ Estava empolgada com o assunto.

─ Eu também era de lá, me mudei tem pouco tempo para cá, olha o destino fazendo coisas, em. ─ Ele mexeu no piercing com a língua e me olhou, logo depois deu uma risadinha.

─ Sim.. ─ Ele realmente me deixava ansiosa, como pode ser tão enigmático desse jeito? ─ Podemos dar uma volta na cidade? conversar mais e só depooois, você me da uma carona até em casa?

─ Olha como já 'tá se sentindo a vontade. ─ Ele sorriu, se ajeitou no banco e deu partida no carro.


E assim rodamos a cidade, mesmo na chuva, ele parou em uma conveniência e comprou bebidas para gente, também me emprestou uma blusa, eu estava com frio pela chuva, mesmo negando ele insistiu, disse que eu não poderia morrer de pneumonia antes de irmos juntos à nossa cidade natal.

Conversamos e rimos muito, mas quando beirava as 5 da manhã, o dia estava para clarear, ele me levou para casa, minha mãe devia estar preocupada e mesmo ela sendo tranquila, o meu telefone tinha zerado a bateria.

Estacionou na frente da minha casa, ficamos alguns segundos nos encarando, eu sabia que seria só aquela noite, mas eu precisava só de mais 5 minutos naquela noite infinita, eu ao menos queria que ela fosse, infinita.

─ Tom, eu sei que talvez eu não te veja de novo, talvez eu não te procure, eu não sou de fazer isso, e eu nem vou conseguir te passar meu contato.. ─ Continuei, olhando para o vidro do carro, eu não iria conseguir encarar ele, mas eu podia sentir seu olhar em mim. ─ Mas se um dia você quiser se sentir assim de novo, andar pela cidade e tomar umas bebidas no carro, conversar sobre tudo.. ─ Dessa vez, virei a cabeça para o lado e encarei ele. ─ Você sabe exatamente onde vou estar.

Sorri, tirei sua blusa e deixei dobrada no banco de trás, abri a porta e caminhei em direção à minha casa, eu sentia um vazio novamente, só queria reviver as últimas horas.

─ ELLA! ─ Escuto Tom saindo do carro e batendo a porta, correndo diretamente para mim, por um instante eu só paralisei, e quando percebi, Tom havia me puxado pela cintura e envolvido meu corpo no seu, o abraço era quente, então descansei a testa em seu ombro. ─ Fique exatamente aqui, eu prometo que um dia, eu vou voltar, Senhorita 'Monsun.'

Tom me soltou, sorriu e voltou para seu carro, meu corpo estava paralisado, e eu só consegui ver seu carro virando a esquina, quando consegui me mexer, sentei na varanda da minha casa e acendi um cigarro.

─ Eu vou estar te esperando Tom, volte logo.

Apaguei o cigarro e entrei para minha casa, o vazio que percorria naquele momento era pior do que nos dias normais, me joguei na cama e adormeci.

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