XXVI. Aquela Menina

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 — No que posso ajudar hoje? — Roberto sorriu.

— Bom dia, senhor! — Luke lhe sorriu.

O jovem vestia seu smoking mais fino, joias e usou seu melhor perfume. Tinha um sorriso muito confiante e largo.

— Bom, primeiro, gostaria de exibir algumas das minhas sugestões quanto aos nossos negócios. Não quero que, por mera misericórdia, a exportadora cogite ter prejuízos.

— Sabe que jamais seria mera misericórdia, não!? — Roberto o repreendeu com o olhar. — Além de fazermos negócios há muito tempo, somos próximos enquanto famílias.

— Sei, senhor... mas, é importante para mim não afetá-lo com problemas pessoais que competem apenas a minha parte.

— É incrível o quanto parece com seu pai! — riu.

— Isso não é meramente por negócios, quero cuidar da sua filha e ela se importa muito com a herança que receberá; se importa muito com tudo que construiu.

— Então... devo entendê-lo como um perfeito amálgama entre o enorme coração de sua mãe e o forte ímpeto do seu pai quanto aos negócios? — brincou.

— Talvez, senhor! — Luke assentiu com a cabeça.

— Deixe os papéis e eu ponderarei. Não quero ouvir sua ladainha sobre isso — deu de ombros. — Posso ponderar, mas não garanto. Essa é a minha forma de fazer negócios.

— Saber que ponderará já me é uma vitória! — Luke riu. — Além disso, eu quero me casar com sua filha, senhor.

— Percebi a aproximação e já começava a me preocupar por não vir até mim! — Roberto brincou, rindo.

— Eu precisava, antes de vir a ti, me sentir certo disso. Agora que sinto, não poderia continuar sendo omisso.

— Quem diria, não!? — riu. — O que aconteceu para o rapaz que disse não querer casar com minha filha há algumas semanas chegar aqui para dizer que quer?

— Eu não saberia explicar.

— Uma boa resposta! — riu. — Adotar Amanda mudou minha vida, garoto. Quando fiquei viúvo, sua mãe me aconselhou buscar um herdeiro... para não morrer de tristeza.

Roberto se levantou para servir duas doses de uísque.

— Eu realmente achei que morreria. — O homem suspirou. — A fortuna da família sempre seguiu aumentando, mas perdi absolutamente tudo... Já estava certo que tudo ruiria.

— Meus pêsames de novo, senhor.

— Foi uma viagem de negócios ao Rio de Janeiro... e a pequena parecia muito esperta! — O homem sorriu saudoso. — Pedia dinheiro na porta do hotel, mas, espirituosa, não gostava de ser procurada e nem aceitava grandes montantes.

Luke franziu o cenho, curioso com o dito.

— Tinha medo que aceitar grandes montantes fosse sinônimo de precisar ceder favores sexuais. Ainda era uma menina linda e inteligente numa situação terrível!

— O que foi determinante para decidir adotá-la? — Luke o perguntou. — Soube que resistiu muito a ideia da mãe.

— Muito! Fiquei um tempo no Rio de Janeiro; no dia de dois anos completos da morte de minha esposa e filho, eu estava lá... não consegui trabalhar... parei num bar decadente para beber e chorar... como já estava se tornando habitual.

Dando um generoso gole, Roberto suspirou.

— A mocinha foi empática demais e ofereceu ajuda. Nem aceitou dinheiro depois, me fez companhia e também compartilhou o pouquíssimo que sabia de sua vida.

— Nunca conversamos muito desse tempo dela...

— Depois que adotei, ela não fala sobre isso nem comigo! — Roberto deu de ombros. — Não é tão ruim que não fale... confesso que tenho medo de saber o que ela já viveu na rua.

— Com isso, somos dois medrosos. — Luke riu.

— Ela resistiu a adoção. Até um dia me procurar chorando e pedir ajuda... para eu levá-la o mais longe possível. Não disse o que houve, mas implorou por proteção, para não ficar só.

Roberto engoliu seco, tornando a respirar fundo.

— Eu nunca impus nada a minha filha, garoto... Fiz de tudo para mostrar para ela as facilidades do mundo e prepará-la para as dificuldades de tentar ser alguém nesse mundo. Eu investi em todos os sonhos daquela menina.

Dessa vez, já não foi possível respirar fundo para conter as lágrimas nos olhos; mas, Roberto não se incomodou.

— Espero que, se casará com ela, torne-a a mulher mais feliz do mundo. Não poupe esforços para dá-la seu melhor, torne-a melhor. Ela é tudo que tenho, tudo que me restou.

— Eu prometo, senhor... todos os dias, eu vou acordar pensando em como me tornar melhor e fazê-la mais feliz! — Luke assentiu com a cabeça, sorrindo-lhe.

— A parte mais difícil da responsabilidade será convencê-la a cuidar da própria saúde — riu —, mas eu sempre estarei ao dispôr para oferecer ajuda.

— Necessário! — Luke riu. — O senhor deve conhecer parte de como lidamos com o casamento... Entendo um pouco como vocês lidam... Há alguma exigência quanto a isso da sua parte?

— Não vou dar pitaco no casamento de ninguém. — Roberto riu. — Gostaria que houvesse, ao menos, um jantar para um noivado, mas isso vai depender de vocês.

— Quanto a isso, não muda. Há uma cerimônia de noivado... precisamos detalhar como será o contrato... gostaria que o imam estivesse conosco até no noivado.

— Não entendo tão bem dos seus casamentos. Perdão!

— Não se preocupe. Agradeço pela confiança e garanto que não será em vão! — sorriu, levantando e o cumprimentando.

— Já está partindo?

— Logo é hora do almoço e marcamos de almoçar juntos.

— Entendo... juízo, garoto! — alertou.

Luke o cumprimentou e deixou sua sala.

O sorriso em seu rosto estava bem largo, afinal, ele se sentia muito vitorioso pela boa conversa com Roberto.

Parecia que nada poderia estragar seu dia.

Passando na porta da sala de reuniões, ficou intrigado com os quatro seguranças que estavam parados ali.

— Algum problema? — indagou-lhes.

— Fomos requisitados para estar aqui, senhor. — Um deles o cumprimentou. — A presidente está em reunião, não entendemos toda a situação, mas não ouvimos nada ainda.

Ele franziu o cenho, verificou se a porta estava aberta e entrou. Lidando com a exótica cena das mãos do iraniano passeando pelo corpo da moça enquanto ele estava com o rosto enterrado em seu pescoço, murmurando coisas.

Amanda estava simplesmente parada... em choque.

Lágrimas escorriam sem parar por seu rosto e a moça simplesmente se desligou do próprio corpo.

O jovem nem pensou ao ir na direção do homem para separá-lo de Amanda. Nada disse em momento algum, mas os seus olhos exprimiam o que ele pensava: "Eu vou matar você!"

Ambos se distanciaram da realidade; num espaço em suas mentes onde não havia som ou cores; onde não havia ninguém.

Claro, a comoção foi geral.

Os seguranças entraram para tirar Luke de cima do homem desacordado e ensanguentado; para tirar Amanda da sala e solicitar o socorro e a polícia.

A pele parda de Luke chegou avermelhar e todo o corpo estava tenso. O segurança precisou imobilizá-lo para impedi-lo de ir na direção do corpo e terminar de lidar com sua vida.

O grande circo estava armado.

Para Sempre LaylaOnde histórias criam vida. Descubra agora