LII. Um Passo, Rumo ao Futuro

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 "Que tal um encontro no telhado de casa?", a mensagem chegou para Luke em meio ao expediente.

Foi um dia de muito trabalho e eles nem conseguiram almoçar juntos. Contudo, a moça não queria adiar a conversa.

"Claro, habibti... será adorável!", Luke a respondeu.

Na volta para casa, nem tiraram a roupa do trabalho, seguindo direto ao canto no telhado para observar o sol se pôr.

Nada falaram no caminho de volta, nem enquanto subiam, como se tivessem acabado de se encontrar, só trocaram um beijo após se sentarem e fitaram o horizonte.

— Como já me sinto adolescente de novo? — Amanda disse.

— Se ajuda... eu também.

Ambos se entreolharam e riram.

— Tenho medo... não vou mentir. — Ela confessou.

— Tenho muita confiança — riu. — É muito importante que você realmente pense sobre isso... não tem que me consultar quando quiser realmente... só me chama e eu vou.

Luke sorriu acanhadamente, suspirando.

— Falando desse jeito, nem sei o que responder — riu.

— Sempre estarei ao seu lado... Quero que, quando se decidir, procure um médico. Não é só parar com o remédio... entendeu? — Ele a olhou, pegando sua mão para acariciar.

— Obrigada! — A moça deu um sorriso acanhado.

— O mais importante é sua saúde e felicidade...

— Não me sinto tão preparada para pensar em gravidez. — A moça assumiu. — Sabe quando você morre de vontade de viver algo, mas a mera ideia é apavorante? — Franziu o cenho.

— Adoraria dizer que sim, mas nada nunca foi apavorante realmente. — Ele riu. — Já tive medo por decisões, claro, mas tentei ser sábio ao sobrepujar o medo, principalmente considerando o que a decisão significava para mim.

— Já que estamos falando de filhos... Vi como olhou para a menina... Najra... Ehrr... acabou ficando bem evidente do quanto gostaria de ser pai... e isso mexeu bastante comigo.

— Acredito que aprendi o melhor dos dois mundos onde nasci — sorriu, olhando-a. — Sei que minha responsabilidade de vida é a paternidade... e essa responsabilidade também é um sonho que nutro desde muito jovem.

Ele não podia conter o largo sorriso ao falar sobre.

— A entrega ao Islã foi o ponto que consolidou todos os meus objetivos para minha vida... mas, também aprendi que nada está sob meu controle... — deu de ombros.

— Assim você parece estar me enrolando — riu.

— E-eu... tenho medo de... admitir que, sim, eu a adotaria ontem e, por admitir, acabar forçando você a decidir por algo que você não decidiria por si mesma.

— Entendo... vou pensar sobre isso... e não! — A moça o impediu de assumir a palavra. — Não é sobre uma imposição que estará me fazendo ou coisa parecida.

— Eu quase que a vi crescer. — Ele voltou a fitar o horizonte. — Era menor... não falava tão bem, perdeu os pais bem cedo... eu me comovo fácil! — riu de si.

— Fofo em série... — A moça riu.

Silenciados, eles terminaram de observar a noite tomar o céu para descerem. Luke seguiu aos seus preceitos religiosos e Amanda cuidou de buscar suas roupas.

Levou o rapaz ao banho quando ele se encerrou e eles se arrumaram para descer ao jantar. Amanda bebeu seu vinho enquanto ele a acompanhou com um suco.

Tiveram sua refeição e se recolheram. Até conversaram frivolidades na cama, planejando uma viagem que poderia nem acontecer, mas só falar sobre já era divertido o suficiente.

Passada a conversa sobre filhos, Amanda tinha muito o que pensar e, mesmo focada no serviço como sempre, dedicou parte de seu tempo nos dias seguintes para isso.

Até levou a conversa para as sessões de terapia e esses momentos com a terapeuta, explorando a memória da viagem, de quando conheceu a menina até às memórias mais distantes onde estava só, foram o que lhe fizeram decidir pela adoção.

Antes de sentar para conversar com Luke sobre sua decisão, ainda tomou alguns dias a mais para estudar sobre as burocracias necessárias, se informar com cuidado.

Um encontro na copa de telhado colonial foi onde ela simplesmente surpreendeu Luke ao dizer:

— Vamos adotar Najra.

Com o forte palpitar, ele nem conseguiu respondê-la.

— Pude refletir e, antes de tomar a decisão de ter um filho seu, geri-lo, quero que possamos dar esse passo. — A moça suspirou, fitando o horizonte bem alaranjado.

Luke acabou dando uma risada.

— Não ri, estou falando sério! — A moça o repreendeu.

— Imagino que sim... eu já esperava que fosse concluir algo do tipo e estou rindo do fato que meu corpo, mesmo já esperando, ainda tem fortes reações a notícia.

— Não quero que ela encontre novamente um mau lugar, que novamente ela crie expectativas, que novamente as expectativas sejam quebradas — suspirou.

— É uma boa motivação. — Ele sorriu acanhadamente.

— Acho que todos que vivem a experiência que vivi acabam sonhando, uma vez na vida, em fazer a mesma benfeitoria por alguém... e isso também é parte do que me motiva.

— Isso é bem inevitável, não!? — Ele a olhou.

— Sempre foi algo que tive em mente, mas nunca pensei realmente nisso de um ponto de vista tão realista... nem sentia nenhuma confiança para levar a ideia para a frente, sabe!?

— Eu entendo, também temo... já disse! — Ele lhe sorriu.

— Um frio na barriga... — A moça pôs a mão na barriga e riu. — O que me diz? — Ela o perguntou, fugindo o olhar.

— Não posso pular no telhado — riu.

A moça acabou gargalhando e seus olhares se encontraram. Luke pousou a mão no rosto de Amanda para acariciar, a observou por algum tempo até falar:

— Eu te amo, habibti... obrigado por ser você!

— Ai, Luke! — A moça gargalhou. — Como você transforma as situações... dessa forma... Não é possível! — reclamou por entre as gargalhadas. — Sério! Não é possível.

— Gosto de saber que poderei mudar a vida dela e estou tentando não ser emocionado demais agora! — Ele riu. — E-eu sinto que o coração pulará para fora do peito.

O olhar de Luke lacrimejou e, compadecida, Amanda o abraçou. Ele sorriu e chorou, meramente pelo alívio, por poder salvar a pequena da incerteza e salvar a si de seus haramat.

Sendo o mais relevante haram, aquele que ele não poderia optar por cometer: negar dar a vida, mesmo atendendo aos desejos de Amanda por noites sucessivas.

Não era necessário mencionar que aquele era o motivo, afinal, isso tinha grande potencial de plantar culpa em Amanda por algo que já conversaram e já estava "pacificado".

— Logo a noite termina de cair... descemos? — Amanda foi quem o chamou, acariciando os poucos fios.

— Tenho minha oração... sim... descemos! — assentiu.

— Podemos só comer pizza no jantar? — Ela pediu.

— Claro... posso pedir para fazerem...

— Ah, eu queria pedir pizza na rua! — Manhosa, ela riu.

— Sendo halal, eu te acompanho com o que quiser!

Amanda comemorou com palmas e eles desceram.

Enquanto Luke lidava com seus preceitos religiosos, Amanda comunicou aos empregados do pedido e também o realizou, cuidando para atender às necessidades da casa.

Para Sempre LaylaOnde histórias criam vida. Descubra agora