Doutora Tentação (Shivley Maliwal)

dezenove - provocando

Eu ainda menor
Nunca sonhei pequeno
A minha coroa me criou sozinha
Levantando sempre no raiar do dia
Bem cedo
Hoje tu só vê os close
Nunca viu meus corre
Mas pra quem confia em Deus
O sonho nunca morre
Fé pra quem é forte
Fé pra quem é foda
Fé pra quem não foge a luta
Fé pra quem não perde o foco
Fé pra enfrentar esses filha da puta
Fé by Iza

Praticamente voei pelos corredores, estou atrasada para a última entrevista com a Doutora Clark e depois da entrevista preciso encontrar com a minha advogada, para falarmos sobre o meu apartamento.

Me ajeitei na porta da sala provisória da Doutora Clark, ajeitando os fios do meu cabelo e apertando minhas bochechas descoradas por quase 24 horas seguidas sem dormir em um plantão terrível. Passei a mão pelo jaleco, para tentar desamarrotar e por fim, bati na porta de madeira branca ostentando o nome da Doutora Clark em uma placa de metal.

— Entre, por favor. — disse, educada e direta como sempre. Essa mulher é foda.

— Boa tarde, Doutora Clark! — eu me encaminhei até ficar de frente para ela, sentada em sua cadeira, em minha pose de confiança habitual, isso que eu sempre fui, fodidamente confiante, e isso tinha me trago até aqui e me levaria mais longe ainda, eu acreditava nisso com todas as minhas forças.

— Boa tarde, Doutora Paliwal. Sente-se, por favor! — pediu, educadamente e me sentei na cadeira à sua frente, nós duas separadas por uma mesa detalhadamente organizada.

Será que ela tinha TOC do nível de May?

— Podemos começar, certo? — eu apenas assenti — Observei seu trabalho de perto nas últimas três semanas. Confesso que me surpreendi pela qualidade da equipe de cirurgia desse hospital. Os profissionais são dedicados e confiantes, além de muito centrados em sua profissão e seu propósito. Hoje mais cedo eu tive uma conversa com o seu colega, o Doutor Rodrigues e amanhã conversarei com o Doutor May, vocês todos estão na mesma posição para mim no momento: posição de profissionais qualificados e suficientemente dedicados à salvar vidas para integrar a equipe do UCLA Medical Center, e é por isso que resolvi conversar com cada um de vocês individualmente. — Olivia suspirou e eu permaneci séria, esperando pelo que viria — Gostaria de saber qual a sua motivação para ser médica e o que a vaga para cirurgiã no UCLA Medical Center significaria na sua vida, além de obviamente, o porquê de você merecer essa vaga. Nada muito treinado, quero as suas motivações reais. — Doutora Clark pediu e eu respirei fundo.

— Bem, Doutora, eu cresci em uma comunidade, fui criada apenas pela minha mãe e dentro do lugar da onde eu vim, dizer que alguém irá fazer faculdade, ainda mais de medicina, não é costume para os moradores. Lutei muito para alcançar a posição em que estou hoje. Eu e minha mãe dedicamos anos de vida, horas de trabalho para que eu pudesse chegar até aqui hoje. Durante meus primeiros anos de faculdade eu não tinha tempo para sequer ter uma noite de sono adequada, mas valeu a pena. Eu consegui. E seria ingrata ao dizer que não estou orgulhosa e feliz com a minha posição atual nesse hospital. Mas apesar de a minha origem costumar limitar os sonhos das pessoas, o meu maior sonho de adolescente sempre foi trabalhar como médica nos Estados Unidos. Minha carreira na medicina só começou por causa de uma série médica americana, foi o que me despertou interesse por nosso mundo, e desde então eu lutei para que fosse digna de uma oportunidade dessas, viver o meu sonho, ainda mais, no país em que imaginei por anos viver... Minha trajetória como médica tem sido impecável desde que me formei porque eu sempre esperei que aparecesse uma oportunidade dessas para mim. Não vou ser modesta, eu sei que eu mereço essa vaga, meus colegas também, mas eu mereço porque esse sempre foi meu objetivo e eu fiz mais sacrifícios do que possa me lembrar para estar nessa posição hoje e ainda sim, acho que mereço mais. — eu fui o mais sincera que consegui, deixando claro todos os motivos que eu tinha para desejar a vaga mais que tudo.