vinte e quatro - amar é deixar ir

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Tudo que eu quero é nada mais
Do que ouvir você batendo na minha porta
Porque se eu pudesse ver seu rosto mais uma vez
Eu poderia morrer como um homem feliz, tenho certeza
Quando você disse seu último adeus
Eu morri um pouco por dentro
Eu deito e choro durante a noite inteira
Sozinho, sem você ao meu lado
Mas se você me amava
Por que você me deixou?
Tome meu corpo
Tudo que eu quero
E tudo que eu preciso
É encontrar alguém
Como você, oh
All I Want by Kodaline

Com um abraço amistoso de despedida, um sorriso triste e os olhos cheios de lágrimas, Paliwal deixou o nosso apartamento, meu apartamento.

— A gente se vê! — disse antes de seguir para o aeroporto.

Silenciosamente, prometendo que em algum momento nós dois teríamos um futuro que eu gostaria muito de acreditar ser verdade, mas que, diante das circunstâncias, se fazia impossível. 

Tomei um banho e tentei evitar deixar que as lágrimas caíssem junto com a água, mas em algum momento isso deixou de importar. Talvez, no mesmo momento em que percebi que agora seria assim.

Silêncio mórbido, quietude, limpeza e organização perfeitas que o meu TOC amavam, nada de cheiros doces, nada de livros eróticos espalhados pela casa, nada de cremes na minha pia ou de lençóis arruinados pelo cheiro de Paliwal. Ela se foi e ficou o nada. E eu.

Me deitei na cama em que passamos as últimas noites juntos. Todas elas. E mesmo que as três palavras estivessem presas em minha garganta por todo esse tempo, eu não ousei pronunciá-las nenhum momento sequer. E agora está tudo acabado.

Com um cansaço mental que estava me deixando louco, tentei pegar no sono, mas tudo que consegui foi uma dor de cabeça insuportável e uma vontade imensa de ligar para Shivani e perguntar quais eram as chances de a gente tentar ficar junto mesmo à distância. Eu não fiz.

Pelo contrário, liguei para o hospital e pedi que o meu plantão começasse hoje e me enfiei no trabalho. Gastei até o último segundo que pude dentro do hospital, a base de café, até que alguém teve o bom senso de me enfiar no quarto de descanso e me colocar para dormir. Antes disso, imagino que tenha passado mais de 40 horas seguidas atendendo, operando e trabalhando feito um louco.

Não parei de pensar em Paliwal um segundo sequer, mas dentro daquele hospital cheio de tantas memórias, eu podia fazer com que meus pensamentos sobre ela ficassem em segundo plano, enquanto a medicina, como sempre, mostrava o porquê de eu nunca me envolver emocionalmente com ninguém. No fim, sempre somos eu e ela. Eu e a medicina que me faz a pessoa mais feliz do mundo todos os dias. Minha profissão que mudou quem eu sou e que me tornou alguém preocupado em dedicar cada célula do meu ser à saúde de outras pessoas.

A maioria das mulheres não entende isso, mas assim como em todas as situações, Paliwal foi a exceção, porque se dedica tanto quanto eu aos seus pacientes e à sua profissão. Ela nunca me julgaria por me curar de sua falta passando 40 horas seguidas no plantão, porque ela entende que a medicina, para nós médicos, é como um remédio para nossas feridas.

Apesar do tempo sem dormir e de todo o cansaço que pairava sobre o meu corpo, ainda foi difícil pegar no sono, mas eu consegui. Ou talvez tenha desmaiado de exaustão. Voltei à consciência apenas algumas horas depois, sem eufemismo, muitas horas depois, pouco mais de doze.

Passava das 16 horas e tomei um café no hospital antes de seguir para casa. Dali a 16 horas eu tinha uma cirurgia marcada e provavelmente apareceria mais algum procedimento para fazer. Dormi mais um pouco e fiz comida caseira antes de me sentar para estudar.

Doutora Tentação (Shivley Maliwal)Onde histórias criam vida. Descubra agora