vinte e cinco - batalha do dia

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Deitado no silêncio
Esperando pelas sirenes
Sinais, quaisquer sinais de que ainda estou vivo
Eu não quero enlouquecer
Eu não estou conseguindo passar por isso
Me tirar desse desastre
Desfazer as cinzas
Desencadear as reações
Eu não estou pronto para morrer, ainda não
Me puxe para fora do desastre
Porque uma chance em um milhão
Ainda é uma chance, ainda é uma chance
Não diga que eu não morreria por você (ah)
Train Wreck by James Arthur

Los Angeles é simplesmente a cidade mais incrível do mundo! Apesar de metrópole, é consideravelmente menor do que São Paulo e mesmo que as pessoas vivam suas vidas em uma velocidade bastante acelerada, não é tão corrido.

Gostaria de dizer que tive tempo suficiente para explorar a parte turística da cidade e tirar fotos em lugares como a calçada da fama ou o letreiro de Hollywood, mas, se isso for possível, estou trabalhando mais do que trabalhava antes. E além do meu período de adaptação, onde voltei a ser tratada como uma pobre residente recém formada, tenho que comparecer às aulas da minha especialização extra em neurocirurgia pediátrica na UCLA.

Sou fluente em inglês, mas ainda tenho alguns problemas com a linguagem científica, então, quando não estou no hospital ou nas aulas, estou no pequeno apartamento que a faculdade banca para mim estudando inglês "médico". E para deixar a minha vida ainda mais corrida, meu corpo parece não estar muito feliz com a mudança e tenho tido algumas crises em relação aos alimentos daqui. Mesmo quando cozinho algo em casa, quase sempre passo mal.

— Boa dia, Doutora Paliwal! — um médico moreno que fazia parte do quadro de cirurgiões residentes me cumprimentou quando adentrei a sala de anatomia naquele dia.

Não fiz nenhuma amizade ainda e sentia muita falta de Júlia e principalmente do meu Doutor May... Era muito estranho morar sozinha depois de ter me acostumado a estar sempre com ele, dormir junto e acordar com sexo.

— Bom dia, Doutor James! Estou adiantada? — perguntei ao perceber que na sala em que mais de 100 alunos tinham aula não tinha mais do que 20 pessoas.

— Na verdade, sim. Faltam 10 minutos para a aula começar. — sorriu levemente, seu sorriso era um daqueles perfeitos, os dentes brilhando e alinhados e uma covinha no canto direito de sua boca — Então, está gostando de LA?

— Muito! — coloquei meu laptop ao lado do dele e me sentei — Sempre sonhei em morar nos Estados Unidos e trabalhar como médica por aqui e até agora está sendo melhor do que as minhas expectativas.

— Já teve tempo de curtir a noite californiana? — neguei na hora — Meu Deus... Não sabe o que está perdendo. As noites em LA são as melhores. Talvez só percam para as de Vegas. — ele deu o sorriso perfeito de novo — E nas praias? Já esteve em Malibu ou Santa Mônica? — neguei novamente.

— Estive atolada nos trabalhos, nos estudos e em me adaptar ao inglês, Doutor James. — fui sincera e ele negou com um aceno de cabeça.

— Só Lukas. E estou decepcionado que ninguém tenha te dito ainda que não importa o quanto de trabalho nós tenhamos, os sábados são única e exclusivamente para festejar... — ele disse como se fosse óbvio — Pelo visto a fama dos brasileiros de festeiros e do Carnaval não se estende à você... — revirei os olhos de brincadeira.

— Não sou do Rio, então o Carnaval não é tão importante assim para mim. Na verdade, eu amo os bailes funk. Cresci na favela. — ele olhou sem entender — Favela é uma comunidade, um gueto, onde as pessoas mais pobres vão se virando pra construir suas casinhas e nesses lugares rolam umas festas de rua muito incríveis... Os bailes funks. O negócio todo é bastante erótico e sexualizado, como a maioria das coisas no Brasil, mas a verdade é que os bailes são a diversão pra quem é pobre. Eu mesma cresci lá, então sim, a fama de festeira ainda se estende à mim, só que amo muito mais a medicina do que qualquer festa. — fui honesta e ele assentiu.

Doutora Tentação (Shivley Maliwal)Onde histórias criam vida. Descubra agora