vinte e três - te deixar...

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Chegamos aqui da maneira difícil
Todas aquelas palavras que trocamos
É de se admirar que as coisas quebraram?
Porque no meu coração e na minha cabeça
Nunca vou retirar as coisas que eu disse
Tão alto, sinto que estão caindo
Não posso nos salvar, minha Atlântida, nós caímos
Nós construímos essa cidade em terreno movediço
Nós a construímos para derrubá-la
A dor só me deixa assustado
Perdendo tudo que já conheci
Tudo se tornou demais
Talvez não fui feito para amar
Se eu soubesse que eu poderia chegar até você, eu iria
Atlantis by Seafret

Lentamente, Paliwal organizou suas coisas para que sua viagem se tornasse concreta. Um mês depois ela tinha até mesmo a passagem marcada para menos de duas semanas. E a medida que o tempo passou, nós, sem conversar sobre, nos afastamos.

Os livros que estavam perdidos por todas as partes do apartamento foram embalados e mandados de volta para a casa de Radha. Outros itens pessoais de Shivani seguiram o mesmo rumo, até que entrar no apartamento me trazia uma sensação de vazio, tristeza e aperto na porra do coração que não estava ali antes.

Lentamente tudo estava voltando ao normal. Ao normal antes de Paliwal colorir a minha vida, encher meu apartamento com seu perfume, a prateleira do banheiro com seus produtos de cabelo e seus cremes coloridos, minha mesa fodidamente organizada com seus livros eróticos, a sonoridade até então poluída apenas pelo movimento da cidade com suas músicas do Filipe Ret, minha cozinha com suas comidas estranhas e deliciosas, minha cama com seu corpo quente e a porra da minha mente e do meu coração com a percepção de que eu já não desejava que tudo voltasse ao normal.

Eu preferia mil vezes dividir meu espaço com ela do que voltar as minhas noites solitárias regadas a leituras sobre anatomia e cirurgias e o fim em uma cama gelada e vazia. Eu preferia mil vezes jantar ouvindo trap, tomar banho junto com Paliwal, ler livros de putaria que nos levavam a fazer a nossa própria putaria e terminar a noite tão embolados que era impossível saber onde começava o meu corpo e terminava o dela.

E tudo foi tirado de mim. E sinceramente, eu não tenho o mínimo direito de ficar decepcionado por isso, porque Shivani vai realizar o maior sonho de sua vida. Algo que ela sempre lutou para conseguir, e mais importante, conquistou por mérito e por um trabalho incrível que desenvolveu desde que começou a trabalhar. Por mais triste para a nossa relação recém começada que fosse, eu era obrigado a reconhecer que Paliwal seria muito feliz com a sua nova vida.

Vamos ignorar como ficarei quando ela for... Isso não deve ser discutido quando meu coração para só de pensar nessa ideia.

Quando cheguei em casa depois de 36h de um plantão muito exaustivo, que envolveu quatro cirurgias de emergência e mais cinco procedimentos semi cirúrgicos, Paliwal estava sentada no sofá lendo um livro.

Já fazia algum tempo desde a última vez que ela tinha tempo de fazer qualquer coisa além de trabalhar e organizar sua mudança. Um pequeno sorriso se formou em minha boca considerando a mim mesmo um sortudo do caralho por ter o privilégio de vê-la dessa forma. Por, mesmo que em pouco tempo, ter Paliwal só para mim.

- Ei! - cumprimentei, um pouco tímido e totalmente sem saber como deveria agir em relação a ela, a nós e afins...

- Oi! - ela levantou os olhos de sua leitura e coloquei um livro sobre a mesinha, junto com as chaves do carro e tirei a jaqueta preta que eu usava, o tempo estava um pouco mais ameno esses dias, mas o apartamento estava quente e aconchegante. Algo como lar. - Você parece cansado. Plantão pesado?

- Muito. - suspirei e me joguei no sofá ao lado dela, que chegou um pouco mais perto - Quatro cirurgias de emergência.

- Você deve estar péssimo! - comentou - Amo ser platonista, mas tem dias que tenho vontade de cavar um buraco e me jogar... A medicina é tão cansativa. - ela fechou o livro, dessa vez "Uma Farsa De Amor Na Espanha" e começou a massagear os músculos tensos do meu ombro.

Doutora Tentação (Shivley Maliwal)Onde histórias criam vida. Descubra agora