um - colegas de apartamento

253 27 3
                                    

De vez em quando, me sinto um pouco solitária
De ouvir o som das minhas lágrimas
De vez em quando, me sinto um pouco nervosa
Pelos melhores anos já terem passado
De vez em quando, me sinto um pouco apavorada
E então eu vejo o olhar dos teus olhos
De vez em quando, me sinto um pouco inquieta
E eu sonho com algo selvagem
E eu preciso de você hoje à noite
E eu preciso de você mais do que nunca
Total Eclipse Of The Heart by Bonnie Tyler

A Doutora Paliwal passava mais tempo no hospital do que eu. E eu pensava que isso era impossível, mas pelo visto, não para ela, já que não nos encontrávamos quase nunca em casa. E já tinha mais de uma semana que estávamos morando juntos.

Eu não tinha absolutamente nada a reclamar. Ela era extremamente obsessiva por organização, assim como eu. Quando cozinhava, deixava comida na geladeira  mim. A única coisa que me impressionava é que todo dia havia um livro diferente na mesa de centro, sempre do lado das chaves do carro que ela insistia em não usar. Ela também tinha a mania estranha de lavar os sapatos de dois em dois dias e jogar qualquer tipo de flor que eu comprasse fora.

Talvez tivesse alergia, mas eu sempre me esquecia de perguntar e acabava comprando algum buquê sempre que via. Minha mãe gosta muito de flores e eu simplesmente não consigo ver uma e não levar pelo menos um botão para casa.

— Ei, é verdade que você está morando com a Doutora Coração de Pedra? — um dos enfermeiros me perguntou, interrompendo meu momento de descanso enconstado na parede, tomando café.

— A gente está dividindo um AP. — concordei — Mas não a chame assim.

— Eu nem sabia que vocês namoravam. — ele disse, surpreso.

— Porque a gente não namora. Pelo amor de Deus, a gente mal se encontra. Em casa, desde que estamos morando no mesmo lugar, acho que só vi ela uma vez, quando eu estava chegando do plantão e ela saindo para vir ao hospital. — neguei na hora.

— Ah, entendi. — ele assentiu — Se eu fosse você comeria aquela Doutora Delícia. O que ela tem de chata ela tem de gostosa. — ele disse, como se estivesse se lembrando de Shivani.

— E de assassina se te ouvir falando assim dela. — comentei, revirando os olhos.

— As marrentas são as mais gostosas. — ele disse antes de sair andando.

Joguei o copo de café no lixo e peguei o prontuário de um paciente que eu tinha que visitar antes da cirurgia. Era um senhor mais velho, não tinha família, mas era bem engraçado e gentil e costumava me chamar de pequeno May, ao invés de Doutor. Ele faria uma cirurgia de válvula em poucas horas, mas quando cheguei no quarto ele ria e conversava com uma das enfermeiras que colocava o acesso nele.

— Olá, Senhor Pascoal! — cumprimentei sorrindo.

— Oi, pequeno May! — ele riu — Veio me dizer que a cirurgia foi cancelada e eu não vou mais morrer? — ele disse em tom de brincadeira.

— Infelizmente não, senhor. Vamos operar no horário combinado. E o senhor não vai morrer. Faremos o melhor trabalho possível.

— Se você me matar, juro que voltarei para te dar uns tapas. — ele brincou e a enfermeira riu.

— O senhor está muito engraçadinho hoje. — eu ri, conferindo os batimentos cardíacos dele.

— Não soube que eu tive que passar por uma avaliação neurológica e quem fez a tomografia foi a médica mais bonita desse hospital? — ele perguntou e eu ri.

— Posso saber quem é essa médica?

— A Doutora Paliwal. Mesmo que ela não seja das mais amigáveis, é a médica mais bonita que eu vi por aqui. — ele sorriu — Porque enfermeira é claro que é a minha querida Flor! — ele sorriu para a enfermeira e eu ri de seu jeito galanteador.

Doutora Tentação (Shivley Maliwal)Onde histórias criam vida. Descubra agora