quatro - na toca do leão

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No banco do carona, ela é maravilhosa
Ouvindo Madonna, dançando, espaçosa
Azul e rosa, reflexo neon
Toda convicção pode ser perigosa
Com ela a vida tem momentos incríveis
Com ela todos meus sonhos são mais possíveis
Separados somos fortes, juntos, imbatíveis
Com competência e fé, ignoramos sorte
Montei o meu esquema, hoje eu tô de nave
Eu e minha pequena na velocidade
Ilusão by Filipe Ret

— Não, mãe! Não posso ir hoje. — Paliwal falava no telefone, logo pela manhã, eu sequer tinha levantado ainda — Eu sei que é o baile dela, mas não dá. Não tenho nem como pegar um táxi até aí. — ela repetiu e eu tentei entender o sentido da conversa — Eu sei que faz muito tempo, mas hoje eu não posso e sinceramente, não quero ter que voltar aí pra ver esse bando de abutres que tanto me humilharam beijar o chão que eu piso só porque eu consegui sair da minha realidade fodida e fazer alguma coisa. — disse com raiva e eu me levantei, vestindo a camisa e passando a mão pelo cabelo.

Entrei no banheiro e continuei ouvindo a conversa enquanto fazia minhas necessidades.

— Tudo bem, eu vou pensar. Juro que vou pensar. Começa às 8 né?! Se eu for, durmo na casa da senhora essa noite, falou? Mas não sei ainda. — ouvi — Te amo! Fica com Deus! — ela se despediu e eu terminei de escovas os dentes sabendo que ela saíria do quarto logo.

Arrumei meu café da manhã e não demorou para que a Doutora viesse também, passando manteiga em um pão e servindo café em uma xícara.

— Vai fazer alguma coisa na noite de folga? — joguei verde.

— Estou pensando em ir pra uma festa onde eu morava antigamente.

— Você é do interior? — perguntei curioso.

— Não. A minha mãe é do Ceará, mas veio pra São Paulo e se enfiou em Paraisópolis como se fosse sua terra natal. Eu nasci num hospital em Santo André, porque minha mãe trabalhava lá, mas cresci em Paraisópolis. — explicou e eu realmente me surpreendi — Não queria ter que voltar pra ver a cambada de filhos da puta invejosos dos meus vizinhos, mas é aniversário da minha madrinha e o baile essa noite é em homenagem a ela. Não tenho como fugir. — explicou.

— Posso ir contigo? Sempre quis ir em uma comunidade. — pedi e ela riu.

— É uma favela, Doutor, não um conto de fadas. Táxis e Uber não sobem o morro e tem que pegar uns 4 ônibus pra ir até a entrada de lá. Mas se você quiser, vou sair às 6 da tarde. — avisou e eu dei de ombros.

Passei o dia organizando os prontuários de meus pacientes e fazendo pesquisas sobre alguns casos mais complicados e específicos, saindo do quarto só para receber a marmita que pedi pelo telefone.

Às 4:30 eu fui tomar meu banho, já que Paliwal já havia liberado o banheiro e me vesti com uma calça jeans escura, uma camisa branca com as mangas dobradas e um sapato social, penteando meus cabelos e passando um pouco de gel e passando perfume.

Me sentei no sofá a espera de Shivani e quando ela apareceu tinha uma mochila na costas e usava apenas um top dourado e um short jeans super curto, além de calçar tênis brancos da Nike e ter um boné dourado da Lacoste, meio de lado, na cabeça.

— Caralho. — foi a única coisa que eu disse e ela sorriu sem jeito.

— Por que está vestido assim? — perguntou e eu olhei sem entender — Se você for assim, parecendo um mauricinho da Zona Sul, vai é levar uma surra. — explicou — Coloca um tênis e uma camiseta pelo menos. — pediu e eu assenti.

Encontrei uma bermuda e uma camisa do Real Madrid e em seguida calcei meu Air Max branco, me olhando no espelho antes de pensar em quão diferente eu estava.

Doutora Tentação (Shivley Maliwal)Onde histórias criam vida. Descubra agora