Talvez, quando eu te encontrar de novo
Eu já não seja o mesmo moço, e você não se sinta igual
Um papo de palavras reduzidas
E aí, como tá tua vida? Legal
O que o amor vira quando chega o fim?
É só que dói um pouco quando eu lembro assim
Mas, enfim
Acontece
Meu Deus, quando eu te encontrar de novo
Eu vou te dar um beijo solto, desses inter-continentais
Quem sabe o gosto não te lembra ontem?
Quando eu te levava a pé, pra casa dos teus pais
Acontece by JãoTrabalhei como nunca assim que meu atestado acabou e me enfiei nos estudos, como sempre me saindo como a melhor da turma nos testes. No entanto, por mais que eu tentasse não chorar, todas as noites eu ia dormir chorando com a sensação de vazio em meu abdômen.
Pelas minhas contas, no momento eu estaria beirando os 4 meses de gestação. Provavelmente já teria contado para Bailey sobre nossa filha e estaria tão radiante quanto possível por ser mãe. Por mais focada na minha profissão que eu fosse, sempre sonhei em ter uma família numerosa. Em ter filhos, casamento e uma casa feliz como nas últimas cenas das novelas das 9.
Fui ingênua de pensar que em pelo menos um segundo minha vida se compararia à um último capítulo de novela. No dia 77 da minha tristeza e de todos os meus sorrisos fingidos, acordei com um pressentimento muito bom. Me arrumei e passei meu turno no hospital de uma forma surpreendentemente leve. O turno no curso se deu da mesma forma e quando eu me encaminhava para casa, recebi uma ligação da Doutora Clark.
Acabei tendo que voltar ao hospital para uma reunião de emergência com ela, mas ao contrário de todos os momentos em que fiquei super ansiosa por coisas desse tipo, eu estava incrivelmente tranquila quando me sentei na cadeira à frente da mesa da minha chefe direta.
— Boa tarde, Doutora Paliwal! — me cumprimentou — Gostaria de dizer que sinto muito por tudo que você passou nesses dias. — disse, honesta e eu assenti, sem querer dar espaço para perguntas que eu certamente não conseguiria responder sem chorar — Bem, apesar de imaginar a sua dor, creio que tenho uma notícia que poderá te animar. — sorriu brevemente, sem deixar o profissionalismo de lado.
— Tudo bem, Doutora Clark. Eu estou bem. — menti, como em todos os momentos dos últimos 77 dias em que eu disse a mesma coisa.
— Um dos nossos alunos resolveu retornar à seu país logo que começou a trabalhar conosco e sua vaga, seu apartamento e seu trabalho ficaram vagos por um tempo. A ideia da diretoria do UCLA Medical Center era manter essa vaga em aberto e não preenchê-la. Eu, como uma das mais antigas funcionárias daqui, acabei por discordar e sugeri trazer para o nosso quadro de funcionários um dos profissionais que, apesar de muito competentes, não chegaram as vias de fato para trabalhar conosco na primeira seleção. Eu fiz reuniões on-line com todos os pré-candidatos em todos os países em que estivemos e por fim, decidimos que o melhor para ocupar a vaga seria seu ex-colega. — suspirei, em um misto de alegria, medo e tristeza.
— Bailey? Ele aceitou? — perguntei, deixando as formalidades de lado.
— O Doutor May, nesse momento, deve estar pousando no LAX. — respondeu e eu sorri um pouco — Tive a informação de que vocês dois são grandes competidores dentro dos estudos e práticas e gostaria de parabenizá-los por serem tão empenhados! Sinceramente, é difícil encontrar profissionais tão engajados, apesar da pouca idade. — sorriu um pouco para mim — Além disso, me disseram que vocês dois também se dão muito bem no âmbito pessoal e eu gostaria muito que você pudesse retomar sua alegria habitual, Doutora. — eu assenti, limpando meus olhos lacrimenjantes — Eu me enxergo em sua dor, Doutora, mas desejo que você possa fazer dela uma força maior do que a que você já tem. De qualquer forma, era só isso.
— Muito obrigada, Doutora Clark! — apertei sua mão.
— O avião dele pousa as 17h. Provavelmente ele estará em casa às 18h30min. A propósito, ele será seu vizinho! — me entregou um papel com o número do voo dele e sorriu levemente — Seria uma ótima de dar boas-vindas! — e acenou para o papel em minhas mãos.
Me despedi dela e corri até em casa. Por um segundo, me senti animada, mas quando a água do chuveiro caiu em meu corpo o medo e a dor voltaram com força total. O que Bailey diria ao saber que eu perdi a nossa filha? Ele me culparia por não conseguir sequer cuidar de nossa bebê? Sem que eu conseguisse me segurar, as lágrimas inundaram aquele banheiro pequeno e impessoal que viu meus piores momentos dos últimos dias.
Terminei o banho e fiquei parada em frente ao guarda roupa, enrolada na toalha, sem saber o que deveria fazer. Eu poderia pegar um táxi, ir até o LAX e fingir que nada aconteceu, me agarrar à Bailey e dizer que o amo. Ou eu deveria ficar em casa com a minha tristeza e me encontrar com ele apenas no hospital porque muito provavelmente ele não quer nem me ver depois de eu ter vindo embora.
Como minha mãe sempre me disse para fazer, não importa com o que, analisei a situação friamente e escolhi o caminho mais difícil. Segundo ela, o caminho mais difícil costuma machucar mais, mas também ensina mais. E de qualquer forma, não acho que eu possa ficar mais destruída do que já estou agora.
Vesti uma calça jeans e uma camiseta simples e calcei um tênis. Peguei minha bolsa com documentos e me agarrei ao papel do número do voo e peguei o primeiro táxi que encontrei. Em 45 minutos eu estava caminhando pelas vastas alas do Aeroporto de Los Angeles, completamente perdida.
Encontrei um painel de voos e localizei o número do voo dele. Nas informações, dizia que começaria o desembarque em 10 minutos no portão 4 e eu comecei uma busca incessante pelo espaço.
Quando finalmente encontrei o portão 4, 20 minutos já tinham se passado facilmente e eu tinha o coração apertado e um bolo na garganta que me fazia querer chorar a qualquer momento.
Os portões se abriram e um mar de pessoas e malas foi passando, me fazendo ficar cada vez mais ansiosa. Quando a onda de pessoas passou e não consegui localizar meu Doutor, fiquei mais ansiosa ainda. Os minutos passando e nada dele aparecer.
Quase meia hora depois, quando eu estava praticamente decidindo ir embora e fingir que nem sequer fiz isso, vi Bailey May, meu Doutor, meu inimigo, meu amor, caminhando em toda a sua postura de dono do mundo que me faz querer matá-lo. Puxando duas malas e com uma expressão séria que me estressa mais do que tudo.
No primeiro momento ele não me viu e acho que ele não esperava ninguém buscando por ele no aeroporto, porque continuou andando sem se focar em nenhum rosto, até que parou no meio do caminho. Seus olhos focaram dentro dos meus. O olhar que costumava significar loucura, ódio, tesão e as vezes carinho, estava recheado de mágoa e tristeza e senti os meus próprios sentimentos refletidos em May.
Ele caminhou até mim com a postura afetada pelo que parecia ser apenas dor e ressentimento e eu esperei, em pé como uma idiota, sem sequer desviar o olhar do seu. Meu coração acelerou e minha garganta fechou, eu queria abracá-lo, chorar de alegria e de tristeza em seus braços, dizer que o amo pra porra do mundo todo, mas quando ele parou na minha frente, perdi a voz.
Seu perfume me trazia lembranças de muitas alegrias, seu rosto me lembrava todos os anos que passei o odiando sem motivo e secretamente tendo um tesão do caralho em seus belos traços e seus olhos me faziam pensar em nossa filha. Será que ela pareceria comigo ou com ele?
— Paliwal! — ele me cumprimentou com um aceno seco de cabeça — Foi a Clark que te mandou pra cá? — perguntou, sem sequer fazer a menção de me abraçar e muito menos de me beijar.
— Sim. Você será meu vizinho. — eu disse com dificuldade, mas minha expressão continuou séria e impassível.
Como se ele não me afetasse... Bem, como se existisse um mundo em que eu não sou afetada pela presença de Bailey.
— Vamos! — virei as costas e caminhei em sua frente rumo à saída, emocionada demais para continuar olhando para ele.
Agora, além de todos os meus outros problemas eu ainda teria que lidar com Bailey... Com todo o meu amor, ódio, saudade e a nossa bebê.
Meu único medo era não conseguir aguentar se as coisas piorassem ainda mais!
Bem pertinhoooooo do fim!
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Doutora Tentação (Shivley Maliwal)
Fiksi PenggemarUma mulher de origem humilde, mas que nunca deixou as pessoas a rebaixarem por suas raízes. Uma mulher focada e inegável em tudo que faz. Uma mulher desejada por todos que a veem, que nunca usou sua beleza para conseguir o que desejava, conseguindo...