Doutora Tentação (Shivley Maliwal)

nove - confiança

Um dia, meu pai me disse
Filho, não deixe as chances escaparem
Ele me segurou em seus braços, eu o ouvi dizer
Quando você ficar mais velho
Seu coração selvagem viverá pela juventude
Pense em mim se algum dia sentir medo
Ele disse: Um dia, você deixará este mundo para trás
Então viva uma vida da qual você irá se lembrar
Meu pai me disse, quando eu era apenas uma criança
Estas são as noites que nunca morrerão
The Nights by Avicii

Eu estava morto de cansado. Eram 7 da manhã. Eu estava quase completando 48 horas direito no hospital. Obtive sucesso em duas cirurgias e agora estava apenas esperando o resultado de um exame pós cirúrgico para ir embora.

O sono já pesava nos meus olhos e minha enxaqueca já atacava, mas eu precisava ter certeza que tinha conseguido salvar a vida da minha pequena paciente Isa. Por mais que eu levasse a sério a regra sobre não me apegar aos pacientes, era impossível não tentar fazer o meu melhor diante de uma situação em uma criança. 

— Doutor May! — ouvi uma voz surpresa atrás de mim na cafeteria.

— Doutora Clark! — a cumprimentei com um aperto de mão — Aceita um café? — perguntei e ela assentiu, se sentando na minha frente.

Busquei um copo de café para ela e me sentei em sua frente em seguida, me segurando para não bocejar.

— Me surpreende que esteja aqui. Pensei que hoje você pegasse apenas o meio-turno da madrugada. — disse, enquanto tomava o café. 

— Acabei unindo o meu turno de anteontem com o de hoje e ainda não estive em casa. — eu disse sincero.

— Percebi que a equipe de vocês é de fato muito dedicada! — disse, terminando seu café.

— O hospital é a minha casa. Dedico a minha vida para minha profissão e amo isso. — ela deu um pequeno sorriso.

— E você tem disponibilidade e vontade de morar fora do país, Doutor May? — perguntou e eu comemorei internamente, será que ela gostou de mim?

— Com certeza. Estou disposto a qualquer coisa para ajudar as pessoas e crescer na minha condição profissional.

— Ótimo. — ela assentiu — Preciso ir. Tenho uma cirurgia com o Doutor Rodrigues. Até mais. — sorri — Vá para casa, Doutor May. Ninguém se torna um médico de sucesso se desenvolver problemas neurológicos relacionados a falta de sono. — ela ordenou, me fazendo levantar. 

Passei na sala de exames e conferi o resultado, me sentindo mais tranquilo e indo em direção ao meu carro no estacionamento.

Dirigi pelas ruas parcialmente movimentadas e parei no estacionamento de meu prédio algum tempo depois. No elevador, eu quase adormeci enquanto me observava no espelho e não foi fácil enfiar a chave na fechadura. Eu estava bêbado de sono.

Entrei no apartamento, segurando minha maleta e o jaleco e deixando a chave na mesinha de centro, sobre o livro de Paliwal, que dessa vez observei ser um livro do Stephen King.

Entrei no meu quarto e coloquei minhas coisas no lugar, antes de pegar uma toalha e ir em direção ao banheiro para tomar uma ducha. Eu estava esgotado e precisava relaxar os músculos tensos em todo o meu corpo. 

Gastei pouco mais de dez minutos no banho e enrolei a parte inferior do meu corpo na toalha, enquanto escovava os dentes e ajeitava meu cabelo. Minha barba estava um pouco grande, mas eu estava um pouco sonolento demais para usar uma lâmina sem deixar marcas na minha pele. 

Saí do banheiro e avistei Paliwal com um prato na mesa, enquanto tinha um fone de ouvido na orelha e parecia muito alheia à minha presença. Como sempre, diga-se de passagem.