onze - ciclo vicioso

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E essa é para os campeões
Eu ainda não perdi desde que comecei, sim
É engraçado como você disse que era o fim, sim
Então eu fui, e fiz de novo, pois é
Eu te disse há muito tempo, na estrada
Que eu tenho o que eles estão esperando
Eu não fujo de nada, cara, chame seus soldados
Você nunca torceu por mim, de qualquer forma
Quando eu voltar ao topo, quero te ouvir dizer
Ele não foge de nada, cara, chame seus soldados
Diga a eles que a pausa acabou
Eu sou o queridinho da indústria
Industry Baby by Lil Nas X & Jack Harlow

Eu estava nervosa. Há anos não tinha um trabalho tão importante. Eu precisava impressionar Olivia Clark. Eu precisava ser escolhida.

Meu sonho nunca esteve tão próximo das minhas mãos. Meu coração chegava a acelerar em imaginar integrar a equipe do UCLA Medical Center. Aquele sempre tinha sido meu objetivo.

Desde os meus 16 anos, eu desejava conseguir uma chance de ser cirurgiã nos Estados Unidos e fiz de tudo possível para receber essa oportunidade. Não ia subestimar meus colegas de trabalho, porque obviamente eles eram ótimos profissionais, mas eu merecia essa oportunidade. Lutei por ela a minha vida inteira e desejava finalmente alcançar. 

Higienizei meus braços e mãos, utilizei um pouco de álcool e saí da pequena sala de desinfecção em direção a sala de cirurgia. 

Olivia Clark, em toda sua imponência, já se encontrava lá, com todos os equipamentos de segurança, ao lado da minha instrumentadora Júlia.

Saudei o anestesista e o interno que iria auxiliar e em seguida fiz o mesmo com a Doutora Clark, me aproximando da paciente, uma senhora de pouco mais de 40 anos, que estava com um tumor preocupante que eu tentaria ressecar totalmente naquela cirurgia de emergência, se eu errase, ela morreria.

Respirei fundo e ouvi a música da Billie Eilish, when the party's over, tocar aos fundos da sala e sorri levemente sob a máscara de proteção. Olhei para minha instrumentadora e recebi o bisturi sem que falasse qualquer coisa.

Fiz o pequeno corte que sabia ter de fazer e continuei no processo cirúrgico com a música,  repetidas vezes, na minha trilha sonora.

Doutora Clark não disse nada. Eu não disse nada. Qualquer outra pessoa dentro daquela sala sequer abriu a boca e quando deixei que o interno auxiliar fizesse a sutura e respirei aliviada pelo sucesso da cirurgia, olhei para a galeria de observação, onde havia diversos enfermeiros e médicos de vários setores e sorri levemente ao ver Bailey May.

Ele veio me ver.

Nunca tinha sentido tanto orgulho de mim mesma ao perceber que naquela galeria, todos sorriam para mim e ele movimentou a boca com um "Parabéns".

Olhei para toda a minha equipe e agradeci a cada um, saindo da sala em seguida e começando a tirar todos os meus paramentos e lavando minhas mãos sujas de sangue.

— Você fez um ótimo trabalho, Doutora Paliwal! — minha instrumentadora, Júlia, me disse e eu sorri mais ainda.

— Não seria possível sem você, querida. — respondi e a abracei rapidamente, antes de sair, já higienizada, da sala.

Nos corredores, tudo voltava a ser como era. Eu era a Doutora Paliwal que não abaixa a cabeça para ninguém e amava isso. Eu gostava de estar em uma posição de autoridade, porque era onde eu lutei para estar.

Andei até a sala de espera e encontrei diversas pessoas em sua agonia habitual. Deve ser terrível ter alguém naquela ala, em cirurgia, sem saber o que poderia acontecer.

— Familiares de Cássia Campos! — eu disse, vendo diversos rostos se virarem e um homem que mais parecia um modelo, alto e bonito, se aproximou de mim com um bebê no colo.

Doutora Tentação (Shivley Maliwal)Onde histórias criam vida. Descubra agora