Doutora Tentação (Shivley Maliwal)

trinta - amor imperfeito

Estamos nos afogando em nossos olhos
Não sei o que iremos encontrar
Não tenho certeza, deveríamos voar ou lutar contra isso?
Estamos apavorados
Fingindo agora que não nos importamos
A tensão corta o ar
Estamos mais do que assustados
Estou me afogando em seus olhos
Estou apavorada
Não sei o que está acontecendo comigo
Você consegue ouvir minha pulsação?
As palavras estão se tornando difíceis de dizer
Isso é novo para mim
Demonstrando os meus medos até eu conseguir encará-los
Como posso saber para onde você e eu vamos?
Caramba, espero que você volte para casa
Come Back Home by Sofia Carson

Acordei com uma dor incomoda em quase todos os membros do meu corpo. Logo entendi o motivo para tal:  posição na qual adormeci.

Eu e Shivani ainda estávamos abraçados, deitados no sofá e meus braços estavam presos em uma posição muito cansativa.

O sol brilhante de Los Angeles aparecia por trás do vidro da janela e já fazia um calor um pouco acentuado. O clima por aqui era bem diferente do de São Paulo, isso já era um conceito perceptível em minhas 12 horas vivendo por aqui.

— Ei, Paliwal! — beijei sua testa e ela suspirou baixinho.

— Bom dia! — sussurrou, meio rouca de sono. Uma expressão meio confusa e sonolenta tomando conta de seus belos traços assim que ela abriu seus olhos — Você dormiu aqui. — concluiu, com uma emoção que eu não consegui distinguir na voz qaundo se levantou, se mantendo sentada no sofá, os belos olhos castanhos focados no sol nascente.

— Acho que fiquei um pouco perdido e nem me lembro de quando adormeci. — fui honesto.

— Achei que fosse correr de mim quando eu te contasse. — ela focou seus olhos nos meus — Tive tanto medo de te perder ontem. — disse, entrelaçando nossas mães.

— É claro que estou triste com a situação e por alguns segundos me senti culpado por não estar por perto para te apoiar. Mas não posso fazer absolutamente nada a esse respeito... Só posso me conformar e entender que tem coisas que acontecem em nossas vidas para nos deixar mais fortes. Não está sendo fácil pensar no que poderia ter sido, mas existe uma linha tênue entre a possibilidade e a realidade que não diz respeito à nós. Não somos os donos de nossos futuros, somos donos apenas das nossas atitudes individuais influenciadas pelo ambiente. — tentei consolá-la, porque por nenhum segundo eu a culpei por algo que não estava nas mãos de ninguém — O que eu sinto em relação à nós não vai mudar por causa do que aconteceu. Eu sei que vamos ser fortes e superar isso juntos.

— Por mais terrível que seja para mim, sua arqui-inimiga, aceitar, você é uma das pessoas mais maduras que eu conheço. — ela brincou e me tirou uma risada, aliviando o clima pesado entre nós — Vamos tomar café? — chamou e eu assenti, levantando do sofá com um leve incômodo na coluna e no resto do corpo.

Nos sentamos na bancada da cozinha e comemos em silêncio, apenas apreciando a companhia um do outro. Era como um TBT, um momento que, no passado, era frequente e acontecia todo dia e agora parece ser um sonho como os milhares que eu tive com minha morena nos tempos em que estivemos longe.

— Eu sonhei com a nossa filha. — Shivani falou, quebrando o silêncio — Uns dois dias depois que voltei do hospital. — sua voz embargou e eu segurei sua mão como forma de demonstrar meu apoio.

— Se não estiver bem para contar, não precisa. Quero que fique bem, morena! — fiz um carinho em seu pescoço e uma lágrima solitária caiu de seus olhos.

— Ela estava em um campo de cosmos chocolate. É a minha flor favorita. Era uma garotinha morena, dos cabelos cacheados como os meus na infância e com os olhos exatamente como os seus. E o sorriso... O sorriso mais lindo que já vi na vida. Ela pulava no meu colo e eu podia sentir seu corpinho quente contra o meu. Foi tão real! — a medida que Shivani contava o sonho eu me sentia, estranhamente, mais próximo da nossa filha — Não me lembro muito bem, mas ela só me disse que estava bem e que eu deveria parar de chorar por ela. Que as coisas tinham que ser assim. — ela soluçou — Acho que chorei ainda mais quando acordei. Mas eu precisava que você soubesse. Depois que sonhei com ela, por mais que eu esteja sofrendo pra caralho, as coisas parecem mais suportáveis e eu sei que vamos superar isso.