vinte e seis - provações

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Você me ensinou a coragem das estrelas
Antes de partir
Como as luzes continuam interminavelmente
Mesmo após a morte
Com dificuldade de respirar
Você explicou o infinito
Como é raro e bonito
Existirmos
Saturn by Sleeping at Last

As paredes brancas em que passei todos os dias desde que cheguei em Los Angeles me recepcionaram de forma diferente dessa vez. A luz forte no teto me deixou tonta e uma dor de cabeça insuportável se apossou de mim.

Em uma rápida e superficial observação, analisei meu corpo vestido em uma camisola genérica, um acesso ligado ao soro no meu braço esquerdo, as batidas do meu coração sendo monitoradas e uma máscara de oxigênio presa ao meu rosto.

Apesar do soro, muito provavelmente eu estava sem efeito de analgésicos já que as minhas articulações doíam, minha cabeça doía e uma sensação muito estranha de vazio enchia meu ventre.

A percepção dos últimos acontecimentos da minha vida vieram rapidamente na minha cabeça. A curiosidade me prendeu e me estiquei para acionar o pager de algum enfermeiro. Minutos depois, a enfermeira Brittany, chefe da ala cirúrgica de ginecologia, apareceu na porta branca com uma expressão séria.

— Boa noite, Doutora Paliwal! — desejou — Que bom que você voltou à consciência.

— Olá! Por quanto tempo eu estive sob efeito dos remédios? — perguntei, curiosa e aflita.

— Cerca de 5 dias. Desde ontem você não foi medicada para que ficasse consciente, então creio que sinta algumas dores. — comentou enquanto media minha pressão — Você esteve em uma situação delicada e passou dois dias na UTI. Seu quadro se estabilizou, mas precisamos aguardar a chegada do Doutor Parker para que ele te explique mais sobre seu quadro. Te darei uma dose de analgésico e voltarei em instantes com alimentos para você.  — disse e saiu.

Coloquei a mão sobre meu abdômen plano e senti um leve incômodo e um vazio que me assustava. Até onde entendi, eu tive uma hemorragia. Mas em primeiro lugar, eu estava grávida? Ou tive um rompimento de colo de útero que me causava uma condição de estéril?

Não gostaria de pensar em nenhuma das duas situações. De qualquer forma, eu estaria ainda mais longe do meu sonho de ser mãe. De gerar uma criança. De amar meu filho como a mim mesma.

— Boa noite, Doutora Paliwal! — o Doutor Parker entrou e se sentou na poltrona de acompanhante.

— Boa noite, Parker. — devolvi desanimada.

— Como você é médica, creio que já imagine o que aconteceu, mas vou te explicar um pouco melhor. Você chegou aqui depois de perder muito sangue. Tivemos que providenciar um transplante e você esteve em observação na UTI por 48 horas. O sangramento hemorrágico foi decorrente de uma gravidez abortada espontaneamente pelo seu corpo. Eu imagino que você nem tenha conhecimento de que estava grávida, mas infelizmente, o feto não teve condições de sobrevivência e pelo nível de delicadeza do seu quadro, você foi uma guerreira. — eu senti um bolo na garganta quando ele me contou, dessa vez, a verdade.

— Quantas semanas? — perguntei, tentando segurar o embargo em minha voz.

— Era bem recente, pouco mais de 5 semanas. — respondeu, um sorriso triste no rosto.

— E eu fiquei estéril? — questionei, a dor tomando conta de tudo em mim, dessa vez, sem ter nada a ver com dor física.

— Felizmente não. Você é uma mulher jovem, em idade fértil, ainda poderá engravidar. Obviamente, devido à esse acontecimento, caso você venha a ter outra gravidez, deverá ter muitos cuidados, mas de nada afetará na sua saúde. Eu sinto muito pelo feto! — falou honesto e eu parei de segurar o choro — Se precisar de algo...

Doutora Tentação (Shivley Maliwal)Onde histórias criam vida. Descubra agora