Nêmesis - Carrare

XXXIV- Paris

Voltei
Espero que gostem

A

mansão de Violet estava iluminado pela luz da manhã quando Carmem chegou para tomar um café com ela antes do trabalho. Violet estava organizando papéis na mesa da sala, enquanto Carmem a observava com um sorriso discreto, o tipo de expressão que ela costumava ter quando estava tentando disfarçar algo.

— Tudo isso é para quê? — perguntou Carmem, sentando-se no sofá e pegando uma xícara de café que Violet havia preparado.

— A escola das meninas — respondeu Violet, sem tirar os olhos dos documentos. — Preciso ir a Paris resolver a transferência delas. Alguns papéis só podem ser assinados presencialmente, e estou atrasada com isso.

Carmem ficou em silêncio por um momento, processando a informação.

— Paris? Isso é inesperado — comentou ela, tentando soar casual. — Quanto tempo vai durar?

Violet parou por um instante, empilhando os papéis antes de encarar Carmem.

— Alguns dias, no máximo. Preciso pegar os documentos, assinar o que for necessário e trazer tudo de volta. Nada muito complicado.

O que Violet não mencionou — pelo menos, ainda não — era a parte mais complicada dessa viagem: Kate também precisava ir.

— Você vai sozinha? — perguntou Carmem, desconfiada.

Violet hesitou, desviando o olhar por um segundo antes de responder.

— Não... Kate também vai.

O silêncio que se seguiu foi tão pesado que Violet quase pôde ouvi-lo. Carmem colocou a xícara de café na mesa, os olhos fixos em Violet, como se esperasse que ela dissesse que era uma piada.

— Kate? — Carmem finalmente perguntou, a voz mais baixa, mas claramente tensa. — Por que ela?

— Porque ela é a mãe das meninas também, Carmem — explicou Violet, tentando soar racional. — Precisamos assinar juntos alguns documentos da transferência. Não é algo que eu possa fazer sozinha.

Carmem se levantou do sofá, cruzando os braços, seu rosto demonstrando claramente que não gostou nada da ideia.

— Então você vai viajar com a sua ex para Paris? Sozinhas? — disse ela, o tom de voz ficando mais ácido. — Isso soa como o início de uma péssima comédia romântica, Violet.

— Não é nada disso, Carmem — respondeu Violet, levantando-se para encarar a namorada. — É uma viagem necessária. Tudo o que importa é resolvermos isso pelas meninas.

— E não tem ninguém mais que possa ir no lugar dela? Um procurador? Um advogado? — Carmem insistiu, sua insegurança transparecendo.

Violet suspirou, passando as mãos pelos cabelos.

— Carmem, por favor. Isso não é sobre nós. É sobre as meninas. Kate e eu somos mães delas, e precisamos resolver isso juntas. Só isso.

Carmem começou a andar pela sala, claramente tentando organizar seus pensamentos. Ela sabia que Violet tinha razão, mas não conseguia evitar o ciúme que crescia dentro dela como uma chama descontrolada.

— Eu confio em você, Violet — disse ela, finalmente. — Mas é difícil não me sentir desconfortável com isso. Você e Kate têm história. História que, sinceramente, ainda parece estar muito viva.

— Carmem, escute... — começou Violet, mas Carmem a interrompeu.

— Não, me escute você! — disse ela, virando-se para encarar Violet. — Você sabe o que sinto por você. Mas, às vezes, parece que há partes de você que ainda pertencem a ela, e eu não sei lidar com isso.