Irmão

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A noite estava fria, mas fria que o normal.

Pelo menos o corpo de um alfa já é bastante quente por natureza, então Seth não precisava se preocupar em pegar um resfriado. Ele vestia um roupão de seda preto e uma calça do mesmo tipo de tecido, o roupão também estava meio frouxo, mas ele não se importava com isso.

Tinha uma garrafa de uísque encima da mesa e um copo na mão direita do alfa, que ficava mexendo o conteúdo de um lado pro outro. Ele sempre fazia isso quando estava pensando muito.

Depois da conversa com o Hórus, Seth percebeu uma coisa que ignorava durante toda a sua vida.

Ele não conhecia o seu irmão.

Apesar de compartilharem do mesmo sangue e sobrenome, Seth não sabia de guase nada dele. Eles nunca conversaram cara a cara e as únicas vezes que se viam, eram nos jantares e nas sessões de fotos em família.

Como o único filho alfa da família, seu pai alfa sempre o manteve longe do seu pai ômega e do irmão também, já que tinha sido declarado como seu único herdeiro e possuía muitas expectativas sobre ele. Talvez tenho sido por isso que Seth odiava tanto o seu pai alfa, ter sido afastado do seu pai ômega e ter sido usado só como um boneco de enfeite.

Então, os seus pais morreram em um acidente de carro.

Seth tinha seus 14 anos na época, e o seu irmão estava em um outro país estudando, o alfa ruivo sentiu uma mistura de sentimentos que até hoje não entende.

Felicidade? Tristeza? Alívio? Solidão?

Ele não sabe dizer. E por incrível que pareça, ele só soube o nome do seu pai ômega no funeral dele.

Mas se esqueceu do nome do irmão.

"Nem o seu rosto... será que é parecido com ele?" Comentou a voz, e Seth fechou os olhos, ele tentou se concentrar para se lembrar daquele dia.
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Chovia. Chovia muito naquele dia. Talvez era outono. Seth se lembrava de folhas caindo no chão através da janela. Ele vestia um terno totalmente preto, e ao seu lado, uma mulher de meia-idade chorava com um lenço na mão, enquanto o seu marido a confortava.

Seth estava sentado na primeira fileira, de frente pra um caixão branco com detalhes dourados. Ele podia ver o rosto tranquilo do seu pai lá, com o seu cabelo loiro espalhado nos seus ombros, parecia que estava dormindo profundamente, mas sabia que ele não acordaria mais.

Em pé, de frente pro caixão, tinha uma pessoa de terno também.

Seth sabia que era o seu irmão, por causa do longo cabelo vermelho escuro, mas antes era loiro aquele cabelo, igual ao do seu pai. Talvez tenha sido a única coisa que ele tinha em comum com o ômega.

Quantos anos ele tinha agora? 16? 17?  Não sabia, na verdade, não estava interessado.

Aquele cara era um estranho pra ele. Apesar de crescerem na mesma casa e comemerem na mesma mesa, Seth sentia que aquela pessoa era um completo estranho pra ele.

-Parece que finalmente acabou, pai. -Disse o irmão mais velho pro seu falecido pai.

Seth não entendia a gravidade daquelas palavras naquele momento. Sempre que ele ficava sozinho com o seu pai ômega, eles ficavam conversando sobre a chata rotina do alfa e sobre as origens do ômega. Ele apreciava esses momentos como se fossem os últimos da sua vida.

Mas ele não conhecia completamente o ômega.

Pai e filho nunca tiveram um momento realmente de pai e filho.

O adolescente estava se virando, mas Seth não conseguia ver o seu rosto. Tinha abaixado a cabeça quando o irmão se virou, não sabia porque.

Talvez porquê ele possuía os olhos do seu outro pai?

"Não! Eu quero ver o seu rosto!"

Então ele levantou a cabeça, alguns fios do seu cabelo ruivo ficaram na frente da sua visão, mas ele pode ver o rosto do irmão.

Era um rosto semelhante ao seu, elegante e com um ar de superioridade, um nariz reto e sobrancelhas afiadas, como também os olhos finos e suaves, mas o que lhes diferenciavam era a cor dos olhos.

Dourado e preto.

Dizem que quem nascesse com olhos pretos, possuía as trevas dentro do seu coração.

Seu pai alfa tinha olhos pretos e era um cara horrível, então Seth, um garoto de 14 anos, achou que o seu irmão também era um cara ruim.
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Céus. Ele era muito idiota.

Não é atoa que eles nunca mais se viram depois daquele dia.

Seth colocou a sua mão livre no seu rosto. Talvez se ele não tivesse associado essa frase ao irmão, talvez eles poderiam se conhecido melhor.

"Ou talvez não..."

Seth suspirou. Então olhou pro telefone encima da mesa.

Ele estava tendo muita dificuldade para convencer os seus superiores de adiantassem as suas férias. Eles diziam que precisavam dele naquele mês para uma missão especial (que nem sequer falavam que tipo de missão era), mas o alfa tinha que estar lá pro casamento.

Ele já usou todos os argumentos que tinha, mas eles ainda se recusavam a deixá-lo ir. Sempre com a desculpa de que a missão era muito mais importante do que os preparativos de um casamento.

Pela primeira vez, Seth deve que discordar deles. Como também ir contra o seu próprio pensamento.

Ele discou uma sequência de números no monitor do aparelho, depois clicou no botão de ligar.

Levou pelo menos uns dez segundos para que a pessoa atendesse.

-Seth. A quanto tempo. -Um voz suave tocou do outro lado da linha. -Há que devo a honrar de receber uma ligação sua?

Seth tomou um gole do uísque antes de responder a outra pessoa. -Eu... preciso de um favor seu.


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Uma curiosidade sobre a família Ludwig:

A maioria dos seus membros nascem com os cabelos vermelhos, ou nascem com outra cor de cabelo, e com o passar do tempo, passam a ser vermelhos. É claro que existem algumas exceções, mas são bem raras.

Um par... improvável- ABOOnde histórias criam vida. Descubra agora