Reunião com o pai

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Treinar os novatos, explicar algumas estratégias, supervisionar os combates, instruir os seus suportinados e ler relatórios, Seth sente que precisará de uma dose de rum depois desse dia.

É claro, ele não podia beber no trabalho, por isso espera até acabar o seu período. O ruivo tinha que aguentar os longos relatórios de equipamentos e controlar o desejo de mandar todo mundo calar a boca, faltava poucas horas, para a sua felicidade.

Seth está sentado na sua cadeira, olhando para o teto, ele sempre fazia isso quando refletia sobre algumas coisas, começou a fazer isso a dez anos atrás, depois de uma missão fracassada.

"Porque ainda questiona sobre essa decisão?"

-Porque é algo importante. -O alfa não se lembra quando começou a ouvir essa voz, mas suspeita que estava com ele desde sempre. -Eu concordei com algo que odiava desde criança!

"Casar?" A voz parecia incrédula.

-É um casamento arranjado. -Seth não gostava de ter que explicar isso. -Terei que passar cinco anos da minha vida com um desconhecido!

Casamento arranjado é algo que todo mundo teme, principalmente os ômegas. Por lei, quando alguém não encontra um parceiro adequado até os 30 anos, o Império providenciará um e organizará um casamento para oficializar, por isso que a maioria das pessoas começam a namorar bem jovem, o que também geram mais crianças (que benefício pro Império). O casamento arranjado pode durar cinco anos, se nenhuma criança nascer durante esses anos, é claro, e se nascer, o casamento durará até a criança virar um adulto.

Seth não queria isso, já viu os efeitos que isso causa nas pessoas, principalmente na sua família.

"Ele está morto. Não lembra?"

-Claro que lembro. Eu estava lá. -Ele se ajeitou na cadeira e massageou as têmporas.

"Agora aceite isso e siga em frente." Apesar de ser grossa na maioria das vezes, Seth sentiu que a voz tinha suavizado.

-Coronel. -Um soldado falou do outro lado da porta. -O senhor tem uma visita.

-Fale que já estou indo. -Seth se levantou da cadeira, depois colocou o seu quepe e seguiu até a porta.

O homem é pontual. Foi o que pensou, afinal, recém era 17:30.

Como os pais dele já estavam mortos, Seth terá que resolver isso sozinho, o seu único confidente estava ocupado em outro lugar, mas lhe orientou sobre o que deveriam conversar. O ruivo torcia para que a pessoa fosse bem clara sobre o que quer pro filho.

O soldado o levou para a sala de reuniões, onde já tinha um homem de pele castanha claro e cabelo preto puxado para atrás, ele se vestia de uma forma formal e quando o ele olhou para os militares, tinha olhos claros e sardas pelo rosto (bastante único, na opinião do alfa ruivo).

-Obrigado soldado, está dispensado. -O soldado fez um cumprimento e saiu da sala, deixando o general com o visitante.

Sem rastros de feromôrnios. Isso é bom.

-Olá. -Seth foi o primeiro a se apresentar. -General Seth Ludwig.

O homem apertou a mão que o ruivo ofereceu. -Sokaris Evans, antropólogo forense do Instituto Hoffman. -Ambos se sentaram, Sokaris na lateral da mesa e Seth na ponta. -Quero ressaltar que estou em uma situação delicada, principalmente sobre o meu filho mais novo.

-Ah, sim... -Seth sabia quem ele era, afinal, leu sobre ele hoje mais cedo, quando foi na reunião sobre o soldado azarado. -Soube que os D'Noirs estão incomodando muito a sua família.

"Olha só! Já conhecemos o noivo, agora estamos falando com o pai dele!" Comentou a voz, bem alegre. "Parece que o universo conspirou para isso acontecer..."

Seth mandou a voz calar a boca. -Então, quais são os seus termos sobre o casamento?

-Que trate o meu filho bem, é claro. -O homem respondeu sem hesitar, depois tirou uma folha do seu paletó. -E também que tenha paciência com ele, Hórus pode levar algum tempo para conversar com você.

-Ele é tão tímido assim? -Pelo o que Seth tinha visto do sujeito, percebeu que não era muito fã de socializar, apesar de ter uma ótima musculatura e aparência bonita.

O homem a sua frente olhou para cima, pensando em uma resposta. -Em uma escala de 1 à 10, ele está no 8 de timidez, se é que isso conta. -Sokaris olhou de volta para o alfa, esperando as suas exigências. -Ah, mais uma coisa, se por acaso o Hórus entrar no cio, peço que ligue para mim.

-Por que? Esse tipo de pedido é meio estranho vindo de um pai.

-Hórus é um alfa-ômega. -O moreno falou como se fosse muito óbvio. -Seus feromôrnios não são como os de um alfa comum e muito menos como os de um ômega comum também, tive que leva-lo para várias clínicas para conseguir um supressor que combinasse com os seus feromôrnios.

Seth entendia bem pouco de supressores, já que seu primeiro cio foi bem tardio, mas sabia que cada supressor tinha que ser feito sobe medida para cada pessoa, tanto alfa quanto ômega, o que era um processo muito longo, até ele teve que esperar muito para conseguir um supressor que funcionasse direito nele. Mas para alguém como o Hórus, um raro alfa-ômega que teve o cio reprimido por um ano, não teve ter sido fácil.

-Certo, compreendo os seus termos. Não se preocupe, vou cuidar bem do seu filho.

"E talvez enchê-lo com um ninhada..." Disse a voz, mais rouca que o normal e, se o ruivo estiver imaginando, lambendo os beiços. O alfa não esperava que essa voz fosse tão pervertida.

-Acho bom que cuide. -O homem acenou com a cabeça, satisfeito. -Agora, quais são os seus termos?

-Ele gosta de crianças? -Seth perguntou sem rodeios, pegando o homem de surpresa.
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A reunião durou três horas. Termos esclarecidos, organizando onde será feito o casamento, também onde será feito o jantar familiar, as datas marcadas e quem vão chamar para serem testemunhas. Seth logo concluiu que Sokaris era alguém nada normal, já que ofereceu várias ideias estranhas para a cerimônia.

Seth meio que gostou disso, já que ele não era tradicionalista, mas nem morto ele ia comer inseto frito.

Já era 20:37 quando a reunião acabou. Ambos os homens se levantaram e caminharam para a saída, o horário de trabalho do ruivo já tinha acabado e o moreno tinha que ver os seus filhos, pois tinha que falar com o Hórus logo.

Seth se despediu dos soldados e dirigiu para casa, estava doido para se jogar no sofá e rever o filho, mas também estava preocupado. Só tinha sido ele e o menino, agora vai ter uma terceira pessoa para morar junto.

"Porque tanta preocupação?" A voz perguntou, ela tinha ficado quieta durante algum tempo, mas sempre voltava a falar.

- Se você fosse uma pessoa de verdade, entenderia. -Disse o alfa. -Mas como não é, terei que explicar. O Anúbis pode se sentir ameaçado com a presença de um novo membro lá em casa, é por isso que eu estou preocupado. -O ruivo não entendia porque estava explicando isso para uma voz imaginária.

O trajeto foi como de costume. Seth dirigia enquanto a voz continuava falando, mas hoje falava muito daquele soldado azarado, melhor dizendo, seu noivo agora. A voz ficava comentando tanto que irritou o ruivo.

-Tá para parar de falar por 5 minutos?

"Não."

-Olha, eu quero ter uma noite tranquila e silenciosa. Eu não quero ouvir um piu seu enquanto estiver com o meu filho e dormindo também! Então, cala a porra da boca!

Parece que funcionou. A voz ficou quieta, para a alegria do alfa, mas sentiu algo no seu interior se mexer. Talvez se afastando.

Ele nunca iria compreender como sabe disso.

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Essa voz que o Seth tem é tipo o Venon, um ser que fica comentando sobre qualquer tipo de situação na vida do hospedeiro. Enfim, até o próximo capítulo, 👋.

Um par... improvável- ABOOnde histórias criam vida. Descubra agora