Secret Hero // h.s

2|Flashback

Safira's P.O.V

 

Os meus olhos analisam o seu corpo e tomo algum tempo, para me adaptar ao gémeo de olhos verdes à minha frente, a olhar-me com preocupação. Engulo em seco e tento parecer descontraída.

- Harry... - Digo, mais uma vez. Soa estranho. – Não esperava ver-te aqui. – Engulo as lágrimas que se querem formar nos meus olhos. Não acredito que depois de um ano e meio, voltei a encontrar o rapaz que me abandonou no dia do nosso casamento.

- Safira, eu...meu Deus. Estás igual. – Ele fala.

- É. Tu também.

- Ah! – Rose fala, vindo até nós! – Até agora eu pensava que ele era o Sean! Então espera! Há dois Seans?

- Não. – Respondo, olhando para o chão. – Há apenas um.

- Eu soube que estás com ele. – Harry sussurra.

- É. Foi o que escreveste na carta. – Olhei para ele, vendo-o a juntar as sobrancelhas. – Disseste que querias dar-me uma segunda oportunidade de ser feliz. Eu aceitei-a. E sabes? Estou mesmo feliz.

- Fico feliz por isso. – Fala, calmo.

- Bem, eu tenho que ir. Foi bom ver-te. – Pego novamente nos meus sacos e saio. Quando chego ao meu Mercedes, pouso os sacos no chão e tiro as chaves do carro da mala, carregando no botão e o porta-bagagens abre-se. Ponho todas as compras lá dentro e carrego no botão novamente, apenas para ver a tecnologia a fechar a grande porta, novamente.

- Safira. – A voz rouca que sempre conheci soa por trás de mim. Viro-me.

- Para com isso. – Avisei.

- Safira, nós temos que falar.

- Nós não temos nada que falar. – Contrapus, indo até à porta do condutor. Abro-a, mas Harry fecha, pousando a sua mão no vidro. Reviro os olhos e mordo o lábio inferior, para não me passar.

- Temos sim.

- Não, não temos. – Olhei-o, zangada. – Não quero falar contigo, Harry. Disseste tudo o que tinhas a dizer, quando deixaste aquela carta para mim.

- Estava assustado, Safira! Eu tinha vinte e um anos e tu apenas vinte.

- E agora? Sentes-te mais adulto? Eu tenho vinte e um e tu vinte e dois. Sentes diferença? Talvez em ti não, mas em mim sim.

- Tu sabias muito bem que merecias uma segunda oportunidade. Nós não éramos felizes!

- Tudo bem. – Levanto as mãos. – Agora, eu quero ir para casa! Deixa-me entrar no meu carro.

- Ele trata-te bem?

- Claro que trata! – Exaspero, levantando as mãos. – Esperavas que ele fosse como tu? Olha, faz-me um favor, Harry. Segue a tua vida e deixa-me em paz.

- Safira, eu-

- Vai-te lixar! – Abri a porta e entrei, trancando as portas na central.

Meto o comando na pequena ranhura, forçando-o para dentro e o motor ganha vida. Meto o cinto e rapidamente saio do parque de estacionamento, deixando Harry, sozinho, no meio de carros, a ver-me ir embora. Quando chego a casa, largo as compras. Não aguento a ideia de viver tão perto do homem que amava com todo o meu coração. Ele levou tudo consigo e tive que recomeçar do zero. Eu tive que lutar e deixar tudo para trás. Eu obriguei-me a sair de Nova Iorque e a seguir em frente, com o Sean. Quer dizer, quem diria que eu estaria com o Sean? O "gémeo mau". O que causava sempre problemas...mas...afinal esses problemas eram causados pelo Harry. Ele mesmo confessou. E porquê? Porquê agora? Agora que eu estava realmente feliz.

A carta cai-me das mãos e o silêncio domina o quarto, até as minhas cordas vocais se soltarem e eu grito. Grito mesmo muito alto. Os meus joelhos batem no chão e consigo ver a maquilhagem a cair-me no vestido, manchando-o de preto. Consigo sentir Summer a tocar-me nos braços e consigo ver a sua cara de preocupada, mas não oiço nada, não consigo.

E lembro-me que, por causa de tudo, tive um mês sem falar. Praticamente só bebia água e comia pão. Mas só comia de vez em quando. Não consegui ir às aulas e depois tive que ter explicações de noite, consegui acabar o meu curso. Consegui cumprir o meu primeiro grande objetivo.

- Safira Peterson! – O reitor chama e eu avanço na sua direção. Vou tão devagarinho, não só por precaução, como também por querer aproveitar este momento ao máximo e assim que me vejo com o diploma na mão, sinto-me como nunca me tinha sentido, desde há 3 meses: feliz e livre.

- Estou tão feliz por ti, Safira. – Sean abraça-me. – Desejo-te o melhor. Mesmo se esse melhor não for comigo.

 

E lembro-me que nessa noite, Sean e eu fomos para um hotel e passámos a noite toda na piscina interior, a namorar. No dia a seguir, quando acordámos, não foi preciso dizer nada. Mas depois ele foi para Londres e, quando voltou, já trazia tudo. Nessa altura, pensei que ele também me fosse abandonar.

- Safira, tens aqui uma visita! – A voz da minha mãe soa. Bufo e levanto-me da cama, descendo as escadas na maior das calmas. Quando entro na cozinha, Sean está encostado ao balcão da cozinha, a sorrir-me.

- Sean?

- Eu mesmo!

- Pensava que tinhas voltado para Inglaterra!

- Eu voltei...apenas para começar o nosso futuro. – Ele anda na minha direção, pegando na minha mão, quando está perto suficiente.

- Como assim, o nosso futuro?

- Safira, eu comprei uma casa em Los Angeles, para começares do zero, comigo, longe de Nova Iorque, longe de tudo. Só nós.

- Não estou a perceber.

- Estás a olhar para o dono da cadeira Styles Luxury Hotels.

- O quê?

- Eu comecei uma cadeia de hotéis de luxo, só para quem pode pagar. E tu, minha menina, vais ser a diretora de marketing e publicidade, design e tudo o que tenha a ver com o teu curso.

- Mas-

- Aceitas?

- Aceito o quê?

- Viver comigo?

 

Los Angeles é, definitivamente um sítio maravilhoso para se morar. Todas as pessoas aqui, andam felizes e há sol, calor...

E, às vezes, sinto falta dos dias cinzentos. Dias cinzentos fazem-me lembrar do dia em que Sean me pediu em namoro, na chuva. Deve ter sido a cena mais romântica que alguma vez me fizeram.

- Sean! – Gritei, quando ele me puxou para fora da minha casa. Está a chover torrencialmente e só posso pensar na grande constipação que vou apanhar, se não sair daqui, já. – Vamos ficar doentes!

- Não, não vamos, porque somos invisíveis! – Ele abre os braços e inclina a cabeça para trás, deixando a chuva bater na sua face. Agarro na sua camisola e puxo-o para mim, olhando-o nos olhos. – Eu adoro-te. – Diz e a sua mão direita agarra no meu pescoço, puxando-me para ele e juntando os nossos lábios. A chuva começa a cair com mais intensidade.

- Sean. – Riu-me, separando os nossos lábios. O rapaz de olhos azuis baixa-se, metendo-se apenas num só joelho. – O-o que é que estás a fazer?

- Safira, queres namorar comigo?

 

O meu sorriso cresce, só de pensar na minha felicidade. Nos sorrisos que Sean e eu partilhámos durante este ano e meio. E eu pertenço ao lado do rapaz de pele limpa e olhos azuis. Porque afinal, ele esteve sempre ao meu lado, quando os olhos verdes não tiveram.