O Rei Do Gelo

Park Jimin

3 anos depois:

O rádio está ligado na sessão de esportes, como sempre, o ventilador gira e trás o vento que faz tudo ficar melhor, pois o meu ateliê faz as sensações serem sufocantes mesmo no inicio do inverno, não sei ao certo porque eu escolhi o inverno para a minha primeira exposição na Coréia, na verdade eu sei sim.

A três anos atrás em um inverno eu sofri um acidente, eu não consigo me lembrar muito bem como foi, ou o que aconteceu e a minha família também nunca toca no assunto, mas eu seu que foi feio, sei que algo muito ruim aconteceu, porque isso ficou marcado em mim de um jeito que rasga a minha pele e entra na minha alma.

E no inverno tudo piora, tudo, os pesadelos, os flashes de memórias que nunca vivi, as sensações de dor por todo o meu corpo, como se faltasse algo, como eu tivesse incompleta quebrada, mas de uma forma diferente da qual eu me sentia antes do acidente.

 Mas quando neva, quando neva o meu peito arde, arde tanto como se tivesse fogo o queimando e eu me torturo, me torturo olhando o gelo que congela a janela do meu quarto, no meu novo apartamento, foi por essa tortura que eu escolhi ele, com janelas enorme por todo o lugar, para eu assistir enquanto a neve cai, enquanto o gelo congela, enquanto o rei do gelo manda o frio pra mim.

" O rei do gelo anuncia a sua despedida do gelo, o ano de 2023 será a sua última temporada do nosso brilhante esportista Park Jimin"  

Fala o locutor, depois de todo um programa em homenagem ao patinador que eu não sei o motivo, mas toma os meus sonhos e vaga pela a minha cabeça como se fosse o seu ringue de patinação.

Eu nunca patinei na vida, mesmo o meu pai sendo professor de patinação e sempre que eu me aproximo de um ringue o meu coração quase explode e eu não consigo respirar, eu também nunca assisti uma apresentação, mas de alguma forma eu sei tudo que se pode saber sobre patinar.

Sei os movimentos e os nomes deles, de todos eles, as vezes me movo pela minha sala e se fecho os olhos, posso me ver dançando sobre o gelo. 

Mas eu nunca vi ele, nunca assisti nada sobre ele, apenas ouvi as rádios enquanto imaginava, imaginava ele, mas eu quase conseguia o ver diante dos meus olhos, eu sabia como eram os seus movimentos, com que leveza ele patinava, como seus cabelos voavam quando gira e até mesmo como o suor caia sobre a sua pele.

Termino o último quadro da minha primeira exposição principal na galeria nacional de Seoul com um sinal de interrogação, sobre o rosto que desenho na maioria dos meus novos quadros. 

- Por que você? - eu pergunto encarando o quadro com o homem de traços delicados, sentindo o peito doer, como sempre dói quando olho para ele, como sempre me parte ao meio.

- Sun-n-ny!! - ouço a voz da minha agente, que por acaso também é a minha cunhada, como se ela tivesse cantando uma música com o meu nome e logo em seguida a porta é aberta de supetão, me viro na minha baqueta para ela que sorri, tem um jornal em sua mão que ela faz a questão de ler , mas não antes de soltar um pigarro, engrossando a voz - New York, Londres, Paris, Australia, Nova Zelândia e agora finalmente a Coréia do Sul , o lar de uma das maiores pintoras da década finalmente vai ter o prazer de ter uma exposição dela, Sun Clay! 

- Essas matérias são exageradas, até um mês atrás eles me criticavam dizendo que eu troquei nosso país por dinheiro, só porque eu escolhi ir para New York para terminar os meus estudos e o tratamento do Tae.

- Mas essas manchetes são boas, para uma coisa - ela fala e eu a olho esperando que diga algo que realmente me convença disso - Dinheiro, elas atraem público.

Reviro os olhos e volto a olhar para a minha tela, ignorando Agatha.

- Não revire os olhos para mim mocinha, sabe que dinheiro é importante, ele que paga o seu e o meu salário, ele paga a sua casa e suas tintas - concordo com a cabeça fingindo que concordo com ela - A Galeria Nacional pediu uma lista de pessoas da sociedade que você quer que vá ao lançamento da exposição, como atores, cantores, grupo de Kpop, jornalistas, artistas.... - ela sabe qual é a resposta não sei porque ainda tenta falar isso comigo - Esportistas.