Capítulo 7

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💵 Leôncio Hernández 💵

Eram onze horas da noite, enquanto esperava o Humberto extrair todos os dentes do desgraçado, estou fumando de lado de fora, ao meu lado Miguel usando óculos escuros escondendo as íris dilatadas por causa da heroína, ele é filho de um capataz da fazenda com uma americana que era uma das trabalhadoras da fazenda de café. Daqui a pouco irei dormir, amanhã irei viajar para outro lado da fronteira para me encontrar com a família Machado. Desde a morte da vagabunda, eles só querem ver a Guadalupe a cada seis meses para aproximar um pouco da sua filha. E o Bernardo é jogado no escanteio por eles, não querem saber de jeito nenhum do primogênito.

— Vai demorar muito? Quantos dentes esse sujeito tem? — Miguel resmungou — Estou com fome.

— Você sabe muito bem que o Humberto adora infligir dores nas suas vítimas. — Dou uma tragada no cigarro, solto o ar — Como está o Bernardo?

— Te xingando em quatro ventos.

— Quer conselhos? Nunca tenha filhos, são bando de filho da putas que dão trabalho pra caralho.

— Vou anotar, senhor!

A nossa conversa foi interrompida pelo Sebastião trazendo o homem arrastado pelo braço que esperneava e gritava, foi jogado perante aos meus pés.

— Que bagunça é essa? — Perguntei olhando o sujeito no chão, todo sujo de terra e as suas mãos marcadas pelo trabalho duro.

Sebastião apontou a espingarda na sua direção e começou a falar:

— Este brasileiro estava se escondendo nas plantações querendo fugir, pegamos a tempo antes de ele atravessar os portões.

A maioria dos nossos trabalhadores são estrangeiros querendo atravessar a fronteira da América, são capturados e enganados pelo grupo Demon no deserto. Nesses últimos meses estamos tendo escassez de pessoas, surgiu outro grupo que estão salvando esses estrangeiros do seu destino e estão dando muita dor de cabeça para nós. Cada cabeça é ouro para nós, mas ... infelizmente.

— Senhor... por favor tenha piedade de mim. A minha família está me esperando do outro lado, por favor.

As suas íris azuis transbordavam medo e angústia, sabia o veredito do seu julgamento, todos os trabalhadores sabem das consequências de tentar escapar das minhas terras, é a morte, incluindo mulheres e idosos. Mas sempre tem uma maçã podre querendo contaminar as saudáveis, e é o meu dever como chefe eliminá-los, mesmo contanto história muitos tristes. Olhei para o Sebastião, entendeu o meu recado, com uma bala só, explodiu sem piedade a cabeça desse brasileiro.

Sua cabeça explodiu e os seus miolos me sujaram.

— Desculpa, chefe.

Tiro os indícios do seu cérebro na minha camiseta xadrez.

— Leva o seu corpo e pendura na cruz, de manhã cedo os trabalhadores irão ver as consequências de fugir dos seus destinos.

— Sim, senhor!

Dou três passos para trás, esbarrei em algo duro. Humberto está atrás de mim segurando a cabeça decepada, seus olhos estão abertos mostrando o terror. O infeliz suspende e balança pelo ar sorrindo, e algumas gotas de sangue me sujam, o empurrei.

— Desgraçado, sujou a minha roupa.

— O meu trabalho já está feito — Humberto pegou a minha mão e me obrigou a segurá-lo — Ponha ele numa caixa e escreva uma carta usando sangue.

—Tá bom meu chefe! — Debocho.

Miguel e Sebastião sorriram.

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Manhã seguinte

Cristina coloca o bolo de cenoura no centro da mesa, enquanto estava bebendo o meu café estou lendo o jornal ao mesmo tempo. Daqui a pouco irei soltar o idiota do seu castigo, depois irei viajar para entregar a bastardinha para o seus avós, falando nela, Guadalupe chega saltitando toda feliz segurando uma boneca de pano que a Cristina fez a ela. Veio até a mim, deu bênção e foi para a sua cadeira adaptada.

— Estou morrendo de fome — Diz ela. — Tia Cristina, quero o seu pedaço de bolo, por favor.

— É claro meu bebê.

Guadalupe é idêntica à sua mãe, menos os olhos, a cor é diferente. Puxou ao seu pai desconhecido, tem olhos azul esverdeado. Alguns momentos gosto como filha, e em alguns momentos lembro que ela é a marca da traição da sua mãe e um dos meus homens, Patrícia era orgulhosa demais, odiava mais do que tudo esta fazenda, é muito mesquinha para abrir as pernas para os homens da fazenda. Talvez seja algum empresário, nós sempre iríamos para os eventos, também pode ser algum político. Vai saber quantos homens já entraram nela.

Cristina serve um pedaço considerado para Guadalupe.

— Coma devagar, Lupita!

Cristina Flórida, apesar de quase ter cinquenta anos. Está muito bem conservada pela sua idade.

— Está muito gostoso. — Guadalupe elogia de boca cheia. — Meu leitinho, por favor.

— Não pode falar de boca cheia, pode se engasgar. — Limpa a sua boca suja com o guardanapo. — Se apressa, daqui a pouco você irá sair.

— Cadê o meu irmãozinho?

— Passeando, Lupita!

— Ainda bem que ela me lembrou — Dobro o jornal em duas partes — Vou buscar aquele inconsequente. — Levantei na cadeira — Quero que ela esteja pronta daqui a vinte minutos.

— Sim, senhor!

Cumprimento os meus homens e mulheres quando passo por eles, o estábulo é um pouco longe. Tenho cinco estábulos contendo cavalos puros, cada um deles custaram um milhão a três milhões de dólares, eles são ótimos e bem treinados. No caminho encontro Juana a poucos metros conversando com Miguel, ela é a responsável pela saúde e bem-estar dos animais, e também classifica quem irá no abatedouro. Além de vender cocaína e trabalho escravo, a nossa família é o segundo lugar na exportação de carnes e café, só perdemos para o Brasil.

Os ignorei.

Chego no estábulo, os cavalos estão agitados como sempre. Vou na última casa, sorrio ao ver meu filho deitado no chão abraçando o próprio corpo, a cabra fazia companhia para ele.

— Bom dia, infeliz!

Bernardo acordou aos poucos.

—O que foi?

— Irei viajar e voltarei daqui há três dias, cuida bem da nossa fazenda.

Ele se levantou, ficou sentado e me encarando, ele tem o mesmo olhar do Alejandro.

— Por que os meus avós nunca querem me ver? Mamãe teve dois filhos, eles me tratam como se não fosse o seu neto.

Bernardo pode ser um adolescente rebelde e irresponsável, mas todo adolescente dessa idade são inseguros e ingratos, e o meu filho não é diferente. Nem mesmo a Patrícia dava carinho, sempre o afastou para longe.

— Eu não sei como te responder, talvez pareça bastante comigo. Eles me culpam pela sua morte, que é totalmente fora de contexto, quem a matou foi a sua irmã e não eu.

Bernardo se levantou, aproximou-se de mim.

— Traga alguns presentes para mim, pai.

Bagunço o seu cabelo.

— Trago sim — Abro a cela — Agora vamos, você está fedendo à caatinga.

No canto da parede tinha um prato e copo vazio, Cristina sempre passa em cima das minhas ordens. E sempre ignoro os pratos achados no canto.

— Que horas são? Preciso ir à escola.

— Hoje não vai para escola, primeiro tem que tratar as suas feridas.

— Se o senhor parasse de me bater, as minhas costas estariam lisas.

— Se você me obedecesse, às suas costas não ficariam marcadas.

Bufou, revirou os olhos.

BELA POSSE - LIVRO 1Onde histórias criam vida. Descubra agora