BELA POSSE - LIVRO 1

Capítulo 5

💵 Um mês 💵

Um mês depois, dei à luz a um bebê totalmente saudável que chegou trazendo uma paz interior e uma benção, Cândida está ao meu lado toda feliz e emocionada, como esse garoto fosse o seu verdadeiro neto, estava segurando com tamanha delicadeza como se fosse quebrar ou desmanchar, ele tinha bastante cabelo e parecia bastante com o Alejandro, está parte passará percebido. Leôncio e Alejandro são bastante parecidos, mas percebi que ele tinha uma marquinha de nascença na bochecha direita, igual a mim. Mas este detalhe ninguém ligará, a maioria das pessoas tem essa marquinha preta. O procedimento foi parto normal, eles queriam uma cesariana, mas recusei três vezes, o normal é fácil recuperação.

— Ele é tão lindo, gordinho e saudável.

A voz da enfermeira ecoou pelo ambiente, estamos no quarto de hóspede, a bolsa estourou três horas da manhã e quarenta minutos depois tive o bebê. O médico chegou dez minutos e logo começou a preparar o parto, Cândida esteve ao meu lado todo esse tempo, não largou a minha mão até o neto nascer e tirar algumas lágrimas suas.

— Vou limpar o bebê, senhora.

— Paola? Não quer ver o seu bebê.

A parte mais difícil chegou.

— Não quero vê-lo! Levo-o daqui, por favor.

Virei o rosto na direção oposta, lágrimas já desciam pelo meu rosto. No canto da parede três malas estavam prontas, daqui três dias irei partir mesmo no resguardo, não posso perder tempo, as aulas já vão começar. Não quero voltar atrás, eu não posso voltar atrás de jeito nenhum, prometi a minha mãe que venceria na vida a qualquer custo mesmo passando em cima das pessoas ou abandonando o próprio filho, este bebê venho na hora errada, nem deveria ter nascido. Sou apenas uma garota de dezoito anos de idade, vítima no esquema criminoso, tráfico humano.

Minha avó e minha mãe não tiveram a mesma sorte de ir embora daquela fazenda. Se ficar com este bebê, iria traí-las, e deixaria que eles vencessem, então não posso fazer isso. Iria contra os princípios e a sobrevivência delas, sou a única mulher a conseguir concluir o ensino médio e migrar numa das melhores faculdades do mundo.

— Por favor, não insista.

—Tudo bem, querida!

As duas se afastaram e levaram o bebê com elas, as lágrimas que tanto insistem em inundar os meus olhos começaram a transbordar até eu começar a soluçar, tapei a minha boca contendo os meus gritos, não posso ficar com este bebê, é errado. Ele morreria de fome, seria infeliz ao meu lado, nós dois seríamos um pesadelo um para o outro. É melhor assim, é melhor para mim.

💵

Três dias depois

Estou usando um vestido bastante largo para o meu corpo e legging preto, para esconder o tamanho das minhas coxas, prometi a mim mesma que quando chegar no solo americano irei fazer uma dieta extrema. Irei fazer academia todos os dias, com este dinheiro posso mudar tudo, meu rosto e o meu corpo, olhando bem no espelho, uma plástica do nariz valeria bastante a pena e colocar silicone dos meus seios, talvez, vai depender o estrago que o leite materno causará sobre eles. Escutei um choro de alguém, via no outro quarto, parecia um choro de criança.

É o bebê chorando. Tento ignorar, penso nas outras possibilidades de fazer outras cirurgias, fazer uma lipoaspiração na barriga, com essa gordura deixará muita pele sobrando e também vou fazer nos braços.

— Cinco milhões de dólares, nada mal.

Ouço o seu choro, ele continua chorando. Saio do quarto e caminho para o quarto dele, abro a porta, o ambiente está totalmente escuro exceto pelo abajur ligado próximo ao berço. Ligo o receptor. O choro dele se tornou incessante quando liguei a luz, olhei em volta, nunca entrei nesse quarto porque não era problema meu, a parede está pintado da cor azul, estantes tinham ursos de pelúcias e brinquedos espalhados pelo quarto, sorrio ao ver um cavalo de madeira. Está muito bonito este lugar, tenho quase certeza que foi a Cândida, se dependesse da Patrícia este quarto ainda seria um quarto de hóspede.

Com passos lentos aproximei-me do berço, ele está com os olhos bem abertos. O pego com todo cuidado, o observo, ele tem enormes bochechas vermelhas e os seus olhos são tão escuros quanto o seu pai, é cagado e cuspido, não tem nada parecido comigo exceto pela mancha de nascença na sua bochecha esquerda, só isso.

— Qual seria o seu nome?

— Bernardo Luís Hernandez Machado

Virei para trás, era Patrícia. Daqui há dois dias Leôncio virá para Itália buscar o seu filho e a sua esposa.

— Bernardo? Nome bonito e forte.

Aproximou-se de mim, ficou ao meu lado.

— Ele é muito bonito — Seus dedos começaram a acariciar os cabelos espessos dele — Não serei uma ótima mãe, mas, não vou deixar faltar nada para ele. Às vezes eu penso, "que bom ela entrou no meu quarto e descobriu o meu segredo" Falei por impulso para o Leôncio, mesmo a morte do suposto filho, o nosso casamento não iria durar muito. No máximo dois anos até ele arranjar uma amante, foder com ela e ter um herdeiro.

— Para que esta mentira prevaleça até o fim, tem que fazer o seu papel. — Digo — Faz cara de sofrida e reclama constantemente sobre o seu corpo, principalmente os seus seios. Inventou alguma mentira, acaso ele pergunta porque não está amamentando o Bernardo?

— Sim, o médico explicou direitinho.

Dou o Bernardo para ela, Patrícia pega com receio.

— Eu preciso ir, daqui a pouco o motorista vai me buscar.

— Tem certeza que quer ir agora? Posso te hospedar num hotel de luxo.

— Não, obrigado, preciso ir para os Estados Unidos. O meu trabalho já foi feito.

— Sabe? Pensava que você iria amarelar no último momento, até arranjei um bebê morto, não me pergunta como. Mas, você está se mantendo firme até o fim.

— Se você vivesse a minha vida por dez minutos, ficaria fria como a mim. Estou fazendo o que posso para mantê-lo seguro, mesmo ele se transformando em Hernandez. Adeus, Patrícia!

— Adeus, Paola!

Beijo a testa do Bernardo demoradamente, adeus Bernardo! E saio perto deles, fechando a porta atrás de mim, não aguentei comecei a chorar até chegar no meu quarto. Me joguei na cama, e fiquei assim até o dia amanhecer.

Perdoa-me, Bernardo!