Capítulo 21

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Paola Flórida 

Fui direto para o quarto quando cheguei no casarão, abro a porta e flagro Cristina arrumando a cama e a Guadalupe sentada na penteadeira brincando com a sua boneca e alheia de tudo. Cristina levanta a cabeça e sorri, olhava para ela com doçura que jamais olhou para a minha mim. Não acredito que estou com ciúmes de uma garotinha que acredita em Papai Noel. As interrompo tossindo propositadamente, Cristina me olha e faz aquela cara, decepção.

Engulo a seco.

— O que você faz aqui? — Pergunta severamente — Você deveria arrumar as suas malas e ir embora daqui, para bem longe.

Fecho a porta do quarto atrás de mim.

— Estava resolvendo alguns problemas no Centro.

Guadalupe sai do banco e vem em minha direção, agarrou as minhas pernas e mostra os seus dentinhos pequenos para mim.

— Quer brincar comigo? — Suspendeu a sua boneca de pano — Pega!

Peguei gentilmente e encaro a boneca, nunca tive uma. Cristina não deixava ter uma boneca, dizendo ela: "Uma criança como você não precisa de bonecas e sim de uma vassoura e um esfregão"

— É muito bonita.

— Foi a tia Cristina que fez para mim.

Olho para ela magoada. Cristina fez isso? Irônico, tratar a sua patroa como filha e nunca tratou a sua própria filha como filha, sim, um capacho, um erro.

— Bonito, nunca fez uma para mim. — Falei isso dando essa boneca estúpida para esta menina.

Cristina riu.

— Eu já te falei há muito tempo atrás, tem pessoas que nascem para servir e outras para mandar. E você, minha querida, nasceu para servir e não precisava de uma boneca.

Fria como sempre, nem parece aquela mulher que apanhou feito bicho quando defendeu a sua filha de dez anos nos trabalhos braçais. Talvez, o tempo mudou. Morando nesta casa sendo tratada como ninguém a fez pensar sobre isso de maneira errada.

— Mudando de assunto, está melhor? Não precisa trabalhar, mãe..

— E quem vai fazer o almoço e o jantar?

— Eles.

Cristina ajeitou os travesseiros bufando.

— Ata, como se eles fizessem a sua própria refeição. Parece que vivendo longe daqui a fez uma dondoca de nariz em pé — Veio à minha direção com passos largos — Venha! Vamos relembrar o debaixo onde você veio.

Pegou o meu braço bruscamente e gentilmente pegou o bracinho dessa garota irritante e saímos do quarto.

💵

Meus pés e mãos estão me matando, nunca imaginei que trabalharia de volta nesta cozinha infernal e usando esse avental, se não fosse a songamonga da Amy estaria numa sala de cirurgia ou fazendo compras no Shopping como de costume.

Estou há quase vinte e cinco minutos cortando o tomate e a cebola, lágrimas descem com ardência. Olho para trás, e vejo Cristina dando frutinhas para essa menina na boquinha. Por que? Não tem mãos? Garota mimada, tudo nela me enjoa, até a voz infantil dela ou poderia ser ciúmes falando alto.

— Vai mexer o arroz, aposto que está agarrado no fundo da panela.

Respiro fundo e vou para o fogão irritada, pego a colher de pau e começo a mexer. Arroz está duro feito pedra, acho que não botei água suficiente.

BELA POSSE - LIVRO 1Onde histórias criam vida. Descubra agora