Capítulo 38

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Paola Flórida

Estou encostada na parede vendo a Cristina arrumando a sua cama com tamanha delicadeza, trata melhor os panos velhos do que da sua própria filha. Hoje de madrugada fiquei bastante perplexa ao ver uma cena que deu arrepios na espinha, estava com sede e com fome, ultimamente estou tendo essas duas coisas à noite por causa do estresse que esta família está me causando diariamente. Tenho que tomar cuidado para não engordar novamente, voltando ao assunto, quando entrei na cozinha. Encontrei o senhor Hernández comendo gostoso a bunda da minha mãe.

Quando lembro da sua expressão de puro deleite, lembro-me da última conversa que tivemos treze anos atrás. Me contou que era obrigada abrir as pernas para o senhor das terras, estranho, não parecia que estava sendo forçada. Parecia que estava gostando de ser fodida por trás, deliciando com o pênis entrando do seu cu, com estocadas firmes e grotescas. Parecia uma quenga, julgava tanto a filha dos comportamentos profanos que esqueceu dos seus próprios pecados. Maria sebosa.

E teorias vieram à minha mente, sobre a minha paternidade. Sou filha de quem? Senhor Hernández? Não! Impossível! Estou transando com o Leôncio quase todos os dias, ela falaria alguma coisa.

— O que você está olhando? Desde que entrou no quarto não para de olhar para mim, perdeu algo no meu rosto?

— Talvez a sua dignidade, mamãe?

Franziu a testa — Não sei nada do que você está falando, para de corpo mole e venha me ajudar.

Aproximo-me dela com os braços cruzados. Avaliando-a friamente.

— Entrei na cozinha hoje de madrugada e vi uma cena detestável, mamãe.

Cristina parou que estava fazendo, só ficou parada escutando silenciosamente. Sentei na extremidade da outra cama, cruzei as pernas.

— Essa carinha que a senhora tem engana todo mundo. Carinha de sofredora, trabalhadora e sofre horrores nesta fazenda, agora eu sei o motivo de você não querer ir embora desta fazenda. Motivo: Héctor Hernández, você é amante dele e eu do seu filho, pelo menos nós combinamos dessa parte.

Cristina pega o travesseiro e joga no meu rosto.

— Eu, estava...

— Forçada o caralho, Cristina! — Me levantei — Tão dona de si, julga os pecados da filha como se fosse uma santa que na verdade é uma rameira de quinta.

Ela vem para cima de mim, batendo-me. Tento desviar dos seus tapas, ela não tem mais o direito de pôr o dedo mais em mim. A empurro, as suas costas bateram no colchão macio, tirei alguns fios no meu rosto.

— Imagina a Dona Maitê souber que a empregadinha que serve almoço e o jantar, não passa de uma prostituta barata, uma rameira. Todos esses anos, iludida, pensava que a senhora comia o pão que o diabo amassava. Mas, me enganei, fica ajoelhada e bebendo o seu leite, não é Cristina?

— Eu posso explicar!

— Tem uma explicação?

Cristina começou a chorar, deveria sentir pena dela. Mas não sinto, deveria me sentir culpada, mas não sinto nenhuma culpa dentro do meu peito. Talvez essas características poderiam ter puxado do meu pai, ele é assim também?

— Desculpa, eu não queria que você seguisse os meus erros da sua mãe.

— Héctor é o meu pai?

Arregalou os olhos e balançou a cabeça várias vezes.

— O quê? Jamais! Nunca deixaria você abrir as pernas para o Leôncio.

— Então quem é o meu pai? Está vivo ainda?

Deveria ter medo da resposta, afinal, eu poderia ser fruto de um abuso sexual. Antigamente a Cristina era apenas uma funcionária sem reverência nenhuma desta casa, quem poderia ser?

— Mamãe me responde, agora.

— Quando tinha apenas dezoito anos conheci um homem, na época quando sua avó estava viva e deu permissão para ir a uma festa.

— E? — Cruzei os braços.

— Ele era adulto e maduro, me encantei de primeira, ele me convidou para dançar e aceitei. Fomos ao lugar reservado, me entreguei a ele, três meses depois descobri que estava grávida de você e seis meses depois, descobri quem era esse homem.

— Quero o nome e o sobrenome.

— Não vou dizer, não direi nada. Mas a única coisa que vou dizer é, ele é perigoso e ele sabe da sua existência.

— É tão ruim assim?

— Ele é um demônio convivendo entre nós.

Em suas íris vejo medo, medo do meu pai. Não irei fazer mais perguntas, só essa explicação matou a minha curiosidade.

— Estou satisfeita... por enquanto.

— Por enquanto nada, só isso basta. Estou tentando te proteger nas garras dele, por sorte ele não tem mais influência.

A porta foi aberta, María entra toda euforia segurando algumas revistas.

— Olá!

— O que foi? — Pergunto.

— Mamãe e eu queremos falar com você, decidimos fazer uma festa de noivado que acontecerá daqui a três dias.

💵

Tomando chá e comendo alguns biscoitos enquanto olhava as duas conversando como se eu não existisse. As duas estão bastante animadas vendo essas revistas de decoração, estou desconfiada, Maitê organizando a festa de noivado do seu filho e a filha da empregada. Ela não se importa com as suas amigas falarem sobre esse assunto?

— Vamos no centro procurar vestidos - Maitê olha para minha direção, a sua aparência não mudou quase nada ao passar do tempo.. Talvez seja as lágrimas dos trabalhadores desta fazenda - Quer ir ao shopping com a gente?

Dou um gole no meu chá.

— Recuso a oferta, fiz algumas compras com o Leôncio na cidade dias atrás.

— Ah, sim! Escolha um vestido belíssimo, vamos apresentar você para sociedade elite mexicana.

Bebo outro gole, essa conversa está ficando chata. Graças à Deus o Leôncio entrou na sala de visita, e quase cuspi o chá ao vê-lo dessa forma: Meus olhos desviaram-se imediatamente para o seu abdômen marcado pelo suor, as gotinhas deslizavam na sua pele maltratada pelo sol, usando calça jeans escura com o cinto de fivela grande e dourada, botas de couro e o seu chapéu preto de costume.

Leôncio se aproximou e eu tive que me recompor, desviei o olhar para o chão e tento imaginar outra coisa. Mas o seu cheiro de macho está um pouco me incomodando.

— O que vocês três estão fazendo? — Perguntou sentando ao meu lado.

— Estamos preparando uma festa de noivado, teremos que apresentar vocês à elite. Ou você já esqueceu?

Sinto o seu olhar sobre mim.

— Concorda com isso, Paola?

— Sim, concordo! — Depositei a xícara no centro da mesa — Assim, pensarei quais os convidados iremos convidar para o nosso casamento.

— Que dia vai ser?

— Daqui três dias — Respondo.

Tento me concentrar, mas o seu cheiro e o seu tronco molhado está ficando difícil. Estou entre a razão e a loucura, o meu papel é só à noite, talvez poderia mudar.

— Leôncio? Vamos para cima, tenho alguns assuntos que eu quero discutir. — Levanto no sofá, e puxei ele — Agora!

Saímos na sala, subimos as escadas correndo até o segundo andar.




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