Procura-se um padrinho

Capítulo - 3

"Estou apaixonado pelos seus contornos
Nos atraímos e nos repelimos como um ímã
Embora meu coração esteja se apaixonando também
Estou apaixonado pelo seu corpo"
Shape of You - Ed Sheeran

RAVI HENRIQUE 

Esse é meu terceiro e último copo de café, me permito no máximo dois. Mas depois de doze horas intensas de trabalho, com quase dez óbitos, digo quase pois a equipe da Doutora Lima - a mesma que a minha - conseguiram salvar duas vidas nos últimos segundos. Da mesma maneira que fico radiante em salvar um paciente e uma chama dentro de mim se acende um pouco mais, quando alguém morre a chama vai se apagando. É um sentimento de incapacidade, raiva e medo ao mesmo tempo. Se apegar nos pacientes e familiares é inevitável, deixar com que eles acreditem no seu potencial para curar sua enfermidade, também é inevitável. Quando você não consegue cumprir suas promessas, é dilacerador. Infelizmente precisei sentir essa dor por algumas vezes, poucas mas senti, por isso prometi algo a mim mesmo, antes de dar a hora do óbito, vou fazer de tudo para salvar a vida que está em minhas mãos.

- Cara, você não tá me escutando né? - meu amigo pergunta me encarando enquanto seu copo enche de café também.

- Não - digo a verdade e dou um gole no meu café saboreando o amargor.

- Brother, você é um péssimo amigo, sabia?

- É, eu sei - lancei um sorriso debochado.

Yudi é meu amigo desde a época da faculdade, fazíamos nossos trabalhos juntos, saímos juntos e moravamos juntos, até as mulheres já dividimos. Nossa amizade foi construída de imediato por sermos bem parecidos e ao mesmo tempo diferente. Meu amigo é sansei e muito rico, enquanto sou negro de classe media. Nossas diferenças de classes sociais não interferiram em nossa formação, amizade e muito menos a fama que ganhamos na universidade.

- Tá, mas o que eu tava dizendo é que estou pensando em dar um passo maior com a Maria Júlia. - Diz com um enorme sorriso em seus lábios enquanto caminhamos para pegar nossas coisas no vestiário.

- Yudi, seu mal é sono.

Não deve ser possível que o Doutor pegador esteja com os quatros pneus arriados pela garota do marketing. Há dois anos eles se conheceram por um aplicativo de relacionamento, depois descobriram estudar na mesma faculdade, quando completaram um ano e meio de namoro decidiram noivar e morar juntos. Não pensei que daria certo, a garota é seis anos mais nova que ele, os dois têm horários diferentes e Yudi sempre teve a fama de pegar sem se apegar, então ganhou o apelido de Doutor pegador. Provavelmente meu amigo está doido de café e o sono já está interferindo, ele não está batendo bem da cabeça.

- Dá para me levar a sério? - pediu.

- Qual é mesmo seu apelido?

- Doutor pegador - revirou os olhos.

- Não posso acreditar que vai abandoná-lo - disse rindo enquanto retiro meu uniforme.

- Ravi, eu acho que amo aquela garota - soltou me assustando.

- Você acha? - franzi as sobrancelhas

Ele deu uma pausa dramatica, como se estivesse pensando a respeito. Não sou contra a casamentos, relacionamentos nem nada do tipo. Tive uma ótima influência dos meus pais, era nítido que se amavam e tinham um casamento saudável, trazendo felicidade e alegria para o lar e os filhos. Não é atoa que sou exemplo de filho para as mães dos meus amigos e um grande concorrente para um perfeito marido. - Palavras das pessoas, não minhas. - O único problema é que não sou a favor de casar apenas por um rótulo, sem saber se é a coisa certa e o mais importante sem amor. Por isso desfruto da minha juventude e só me casarei quando achar a pessoa certa.