O diabo veste vermelho

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Enquanto guardava os materiais após o sinal do intervalo, Tzuyu viu a mão repousar de modo violento sobre seu caderno. Olhou para cima, pronta para estapear aquela pessoa atrevida. Entretanto, o olhar amedrontador e a expressão de poucos amigos fizeram Tzuyu desistir de qualquer reação.

A mulher de vestido vermelho a olhava fixamente, esperando que os outros alunos se retirassem da sala. Afinal, havia uma acusação esperando para ser feita naquela manhã.

— Até onde eu sei, a aula já acabou há dois minutos — Tzuyu resmungou, apontando com o queixo para a mão da mulher sobre o seu caderno.

— Só acaba quando eu disser que acabou. — Taeyeon jogou sobre a mesa o contrato assinado por Sana. — Não vou aceitar isso. Refaça!

— Tá de sacanagem? Eu fiz exatamente o que você pediu!

— Seu trabalho não é válido. Quero que refaça, e desta vez, totalmente escrito. Você tem até amanhã.

Tzuyu arregalou os olhos, pegando o contrato em suas mãos, tentando encontrar ali algum erro que justificasse a anulação do trabalho. Naquele dia, em que Sana se interessou pelos serviços de Tzuyu na feira da faculdade, a Chou decidiu improvisar um contrato fictício, em que as cláusulas pudessem favorecê-la. No entanto, Sana também assinou o modelo de contrato dado por Taeyeon a todos os alunos da turma, aquele que, sim, valeria nota se assinado.

— Por que não pode aceitar? Não tem nada de errado. É o modelo de contrato que você mesma criou.

— Não é óbvio? — Taeyeon arqueou as sobrancelhas. — Não vou aceitar porque a contratante foi Minatozaki Sana. Sua namorada. É claro que ela compraria seu produto ou serviço para ajudar você com o trabalho!

— Não, não, Sana e eu somos apenas conhecidas distantes. Isso de namoro definitivamente não existe!

— A faculdade toda já sabe, Chou. Não tente me fazer de idiota! — Taeyeon enraiveceu, batendo seu punho contra a mesa à frente. — Refaça o trabalho. Escreva vinte laudas sobre as estratégias de publicidade em comércios físicos locais. Você tem até amanhã.

— Não seria nada mal me dizer que não aceitaria o trabalho quando entreguei a você. Não vou conseguir escrever tudo isso até amanhã. É crueldade.

— Crueldade é tentar me enganar desta forma. Ou melhor, é burrice! — a mulher debateu. — Estou dando uma segunda chance, mas se eu descobrir que há envolvimento dela no seu trabalho, ainda que seja pequeno, Sana vai sofrer as consequências. Vou cuidar disso pessoalmente.

— E quem deu a você o direito de ameaçar ela assim? — Tzuyu indagou, desacreditada dos insultos daquela mulher maluca. — Quero dizer, a Sana, a Minatozaki Sana, uma amiga distante. Uma conhecida, na verdade.

— Não é uma ameaça. É um aviso. — Taeyeon aproximou-se, o suficiente para cutucar impacientemente a testa da Chou. — Vamos nos ver muito ainda no próximo semestre, Tzuyu. Pode anotar.

A tosse pouco discreta fez com que Tzuyu e Taeyeon olhassem em direção à porta. Uma Sana confusa e um tanto incrédula as encarava com um olhar não muito pacífico. Taeyeon afastou-se da Chou, pegou sua bolsa sobre a mesa e destinou seus passos à porta, passando por Sana com um olhar assustador.

A Minatozaki a acompanhou por alguns segundos, ainda tentando identificar que tipo de olhar havia sido aquele. Virou-se para Tzuyu, que juntava seus materiais em um desespero incomum.

— Aconteceu alguma coisa aqui?

— Quer mesmo saber o que aconteceu? — Tzuyu olhou em direção à porta. — Eu estou oficialmente com meus dias contados. Já pode ir se despedindo de Chou Tzuyu porque ela vai conhecer o senhor barbudo que mora nas nuvens.

— Tem a ver com a Taeyeon?

— É claro que tem! — a Chou assentiu, já se levantando, ajeitando a mochila nas costas do modo mais estabanado possível. — Essa mulher me odeia. Agora odeia nós duas.

— O que eu tenho a ver com isso?

Tzuyu caminhou até a rosada, segurou sua mão, puxando-a pelo corredor afora, buscando algum cantinho silencioso e escondido o bastante para Park Jihyo não fotografá-las e dizer que estavam se encontrando às escondidas.

Enquanto passavam de mãos dadas, ouviam dos outros corredores os gritinhos desesperados, comemorando o simples fato de seus dedos estarem se tocando.

SATZU! — alguém gritou tão alto do outro corredor que Tzuyu e Sana puderam imaginar as cordas vocais vibrando. — ELAS ESTÃO DE MÃOS DADAS!

— Aparentemente eu não posso mais segurar a mão de ninguém, certo? — Tzuyu perguntou à Sana, indignando-se com aquele fato. — Mas que merda!

— Corrigindo, você não pode segurar a minha mão, ou todo esse circo vai acontecer de novo e de novo — Sana concluiu. — Também, nem temos motivos para segurar a mão uma da outra, então não vai ser um problema.

A Minatozaki puxou sua mão de volta ao se dar conta do contato desnecessário com Tzuyu. Embora a mão da Chou fosse delicada e confortável, não existiam motivos para continuar daquela forma. Só estavam alimentando as paranoias daqueles desocupados, e isso definitivamente não era a intenção.

— Enfim, eu preciso de ajuda! — Tzuyu exclamou, parando ali mesmo e direcionando seu corpo à Sana, o que só atraiu mais e mais olhares. — Taeyeon não quer aceitar o trabalho de publicidade porque você assinou o contrato e, bem, nós meio que temos um maldito vínculo.

— Nós não temos um vínculo — Sana resmungou de volta.

— Mas todo mundo acredita que temos, então nós precisamos resolver essa patifaria. Tem ideia do quanto eu vou sofrer nas mãos daquela mulher, Sana?

— Taeyeon é declaradamente sua inimiga número um — a rosada soltou o ar que segurava, concluindo algo óbvio. — Ela não vai poupar esforços para destruir todas as suas chances de conseguir passar no semestre.

— Jura?

— Ela tem algo contra você. É pessoal. Ficou nítido.

— Sim, eu sei disso desde que reprovei pela primeira vez! — a Chou abriu um sorriso nervoso ao lembrar da decisão ridícula da docente. — Se eu ao menos soubesse de algum podre dela.

— Você não vale nada mesmo, Chou Tzuyu! — Sana esbravejou. — Nem sei por que fui confiar em toda essa palhaçada de contrato.

— Ei, ei, se acalma aí porque eu não falei sério. Não chantagiaria alguém para ganhar nota, muito menos a Taeyeon, aquela cretina.

— Olha aqui, Tzuyu, eu não vou te ajudar com absolutamente nada. Você que faça a porcaria do trabalho sozinha! — a rosada rosnou, impaciente. — E é melhor conseguir um encontro com o Taemin no sábado. Ele é minha última cartada.

Sana e Tzuyu sentiram as mãos sobre seus ombros, as direcionando para frente, onde uma garota as aguardava com um celular nas mãos, já tirando algumas fotos.

— O que é isso, Mina? — Sana perguntou, completamente perdida.

— É para o Instagram de casal que fiz para vocês, ué! — a Myoui as trouxe para perto de si, ainda sorrindo para a sessão amadora de fotos. — Uma foto da presidente do fã clube com o casal do século é essencial, meninas.

— Nós temos um Instagram de casal? — Tzuyu olhou para Sana, um tanto surpresa. — Como assim tem um Instagram com nossos nomes e nós somos as últimas a saber?

— Claro que tem! — Mina exclamou. — Vocês estão ficando populares fora da faculdade também. O perfil já chegou em um total de cinco mil seguidores. Acreditam que até o reitor da faculdade e a professora Taeyeon estão seguindo vocês?

Tzuyu e Sana se olharam, completamente apavoradas. Aquele seria um bom momento para se esconder no armário de vassouras e não sair por nada no mundo.

Ela tá TÃO na sua!Onde histórias criam vida. Descubra agora