Escapulario

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A minha visão ficou vermelha, era uma clássica crise de raiva, os músculos contraídos e tensos ao extremo, a adrenalina dentro do meu corpo super alta e os movimentos feitos somente pra machucar, a incapacidade de formar uma frase que fizesse sentido já que a minha mandíbula estava super cerrada, era capaz de quebrar um dente.

Quando voltei a enchergar novamente, o bico da minha sapatilha estava dentro da boca dele, minha respiração ainda era como a de um touro bravo que tinha acabado de empalar o toureiro com o chifre.

— Eu acho bom que você não encoste neles de novo — a minha voz sai rasgada da garganta. Tiro meu sapato de dentro da boca dele e limpo em sua jaqueta, os olhos amarelados dele estavam turvos depois de algo que eu fiz e simplesmente não lembro.

Só reparei que tinha outra pessoa perto quando dei as costas e vi um homem sentado no chão com a cabeça jogada pra trás, eu bati nele também? Não importa muito.

Meus olhos já estavam ardendo e eu corri dali, de um jeito meio burro na real, já que eu corri pra dentro do colégio em obras, já sentindo o peito apertar por outro motivo, as lágrimas que começam a escorrer nas minhas bochechas também são infelizes que parecem só ajudar a me afogar ainda mais, eu me encostei em um dos lances da escada, agarrei meu escapulario e puxei, acabou arrebentando no caminho mas eu o agarrei e comecei a rezar baixinho, focar nessas palavras e na sensação me ajudavam a ficar calma

Não sei quanto tempo eu fico ali com a cabeça entre os joelhos, sentindo as lágrimas escorrerem e o meu corpo tremer, a sensação de isso ter acontecido de novo era péssima, mesmo que eu tenha ajudado a Yuzu e o Aoiinchi. Mas eu fui me ligar de novo quando passos pesados andaram até o meu lado, me assustei ao ver olhos quase felinos me encarando, o rosto dele estava todo esbagacado e pelo jeito dele isso definitivamente não é normal.

— O que tá fazendo? — A voz dele saiu seria, e não irritada, sua mão enorme segura a minha, a fazendo abrir.

O escapulario estava sujo de sangue, eu consegui machucar minha mão apertando a imagem da Nossa Senhora enquanto chorava.

— Já acabamos com isso... Vai embora — eu pedi rouca, eu definitivamente tomaria um sacode agora.

— Porque eles te obedeceram? — nossos olhares se encontram, o tempo deu uma congelada.

— Não sei, eles são só crianças... — a mão dele ainda segurava a minha, reparei que nossos olhos estavam indo para os mesmos lugares, agora estávamos realmente encarando meu sangue tingindo a corrente prata.

— Eles nunca me ouvem — enquanto ele fala eu ponho o escapulario apoiado na minha coxa e limpo a ferida com o cachecol.

— Claro, você bate neles — minha voz sai entre os dentes

— Eu educo eles! — a voz dele já se eleva um pouco pra mim

— Que educação bosta hein! — me levanto, tentando prender meu escapulario no pescoço.

— Cala a boca — ele me puxa e prende o escapulario no meu pescoço

— Cala você a boca — Empurro ele, me virando pro homem.

— Eu tô sendo muito legal com você hein, não fica me testando — ele fala apontando aquele dedo enorme na minha direção.

— É melhor você não me testar — Digo agarrando o dedo dele e torcendo, eu vi seu semblante orgulhoso tremer um pouco de dor — criança.

— Criança? — ele grita enquanto eu desço as escadas.

— É... Seus irmãos me disseram que você acabou de fazer dezessete — Levanto meus ombros, sem olhar pra ele.

— E quantos anos você tem hein?

— Vinte — olho pra ele por cima do ombro, dançando uma piscadela um pouco debochada.

Acho que o queixo dele caiu, o meu também quando eu lembrei que esse cara era mais novo do que eu! Ele parece ter bem mais! Vai ficar acabado quando for velho.

Eu voltei pra casa sentindo meus pulmões sendo congelados de dentro pra fora pelo ar frio da madrugada.

— O que vocês estão fazendo aqui de novo? — Pisco diversas vezes vendo Yuzuha e Hakkai na frente da minha porta.

— A gente tava preocupado com você, Yachi! — Yuzu corre na minha direção muito preocupada — ele te machucou muito?

Ela parecia tão culpada, tadinha.

— Relaxa, a gente só bateu um papo, gente... Eu sou uma adulta, esqueceram disso? — sorrio levemente e vou abrir a porta pra gente.

— Bateu um papo? — Hakkai e Yuzuha se olham — você bateu um papo com o Taiju?

Os dois falaram juntos e eu acabei rindo.

— Sim, nossa, que surpresa — era realmente uma surpresa, ele parece mesmo um monstro.

— Sim...

Os Murmurios e sussurros dos dois me fizeram rir, eles acham que estavam falando muito baixo mas eu ouvi coisas tipo.

"eles devem ter conversado mesmo, ela não tá nem muito machucada"

"será que eles não fugiu?"

"mas ela chegou muito calma né?"

— Pronto, pronto, tomem um chazinho enquanto eu limpo isso daqui — falei deixando duas xícaras na mesinha do meu quarto.

Tinha sangue seco na lateral do meu rosto, acho que foi o maior dano que o taiju me causou.

Mas na hora que eu estava inclinada, algo pendeu pra fora da minha blusa, os garotos arregalaram os olhos e eu percebi.

Era uma cruz de madeira, grande e enfeitada...

— Isso... Isso é do Taiju — Hakkai gagueja.

— Então ele prendeu mais alguma coisa no meu pescoço... — Seguro a cruz, ela é muito pesada, não sei como não percebi na hora — Garoto esperto.

Os dois se olharam em puro pânico.

— Relaxa, gente, eu me cuido — me afasto e vou no banheiro, limpar o meu rosto.

Foi quase um parto mandar esses dois pra casa hoje, eu mandei que eles me avisassem se o irmão se saísse para cima deles, mas eu tinha quase certeza que isso não ia acontecer.

Os próximos dias a vida foi meio normal, eu ia pra faculdade, fazia meus trabalhos, ia na igreja antes do trabalho as vezes e voltava pra casa pra dormir e começar tudo de novo.

O problema foi um dia que uma mão bem pesadinha bateu na minha porta.

— O que tá fazendo aqui? — falei assim que abri a porta, dando de cara com um Taiju Shiba arregaçado na minha frente.

Ele estava com um pedaco daquela calça vermelha faltando, exibindo um machucado imenso, além de um monte de machucados no peito e na cara... Mas é óbvio que a mão dele estava mais detonada do que tudo.

— me dá essa merda aqui, vaza — tinha alguém com ele, Taiju puxa uma sacola de farmácia da mão do coitado que some de vista pouco depois.

Aquele folgado se forçou pra dentro da minha casa, sem nem tirar aqueles sapatos imundos.

— Opa opa — Digo segurando os cabelos dele pela nuca.

— Ei! — ele se vira pra mim, consegui impedi-lo de sujar o meu lindo carpete.

— Tira o sapato — mando e puxo a sacola da mão dele.

— Sério? — o homem olha pra baixo, ele tá bem detonado.

— se eu falei é sério né, porra — reviro meus olhos e vou indo pro meu quarto, vendo o que tem dentro dessa sacola.













Você é problema meu - Taiju Shiba Onde histórias criam vida. Descubra agora