Aquela Noite PT2

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Meu coração palpitava e a minha respiração era puro descompasso, quando a gente chegou eu faltei largar a moto no chão, subia as escadas pulando dois degraus ou o máximo que fosse possível, chegando no andar dela a minha ideia de algo de errado se confirmou.

Tinha sangue no corredor, marcas de sapato com sangue.

— HAKKAI, LIGA PRA EMERGÊNCIA! — eu esperava encontrar coisas muito ruins, a porta do apartamento dela estava aberta...

Eu corri pra dentro e senti vontade de vômitar, o local estava completamente bagunçado, a bolsa de roupa estava no chão e tinha sido pisoteada, chegando no quarto tudo estava uma bagunça, a TV estava soltando faíscas no chão e a estante estava destruída, sem falar do sangue que tinha pra todo lado.

Eu virei o meu olhar na direção do corredor que leva pro banheiro eu a vi no chão, era quase impossível de reconhecer, Misuki estava com o rosto inchado, a boca dela estava entreaberta e seus dentes estavam tingidos pelo sangue, seus dedos apertavam algo entre as camadas de roupa, quando mexi nela percebi ser o cruxifico que dei pra ela antes de começarmos a namorar...

Reprimi as lágrimas, "ela ainda tá respirando então ainda está viva", foi o que eu pensei pra conseguir segurar ela fragilmente em meus braços, manchando a camiseta cinza que eu usava. A emergência não vai chegar a tempo... Ela tá muito machucada.

Me levantei com ela nos braços, eu já fiz isso tantas vezes, sair com ela por aí no colo, tendo a Yachi sorrindo ou brincando com o meu jeito... Por que eu tenho que lidar com isso agora? Por que fizeram isso com ela?

Era o que passava na minha mente enquanto eu fazia o caminho até a minha moto no dobro da velocidade.

— Taiju, onde você vai? — o Hakkai me seguiu, ele parecia totalmente perdido.

— Levanta a moto pra mim, eu vou levar a Yachi pro hospital e você chama o que precisar chamar — eu estava falando rápido e meus dedos não paravam de tremer, cada vez mais a respiração dela parecia mais fraca, o corpo dela estava mole nos meus braços.

Subi na moto mantendo ela segura contra o meu peito, isso era perigoso mas eu tinha certeza que esperar era certeza que eu ia perdê-la... Eu tinha certeza disso.

Os prédios e luzer passavam muito rápido a medida que eu cortava entre  carros no caminho, em trechos mais limpos eu podia olhar pra baixo e verifica-la... Ela sempre teve a mania de andar na minha frente, sempre se aconchegando contra o meu peito, sempre ali... Ela não pode morrer, esse é o lugar dela, ela não pode...

Cheguei no hospital e eu mal a vi ser tirada dos meus braços, mas eu segui onde eu pude até ela ser levada pra sala de operações. Eu disse que não podia preencher nenhum tipo de documento, eu não sou parente dela e fiz dezoito e poucos dias... Que inferno.

Eu me sentei em uma sala de espera, aquela luz vermelha acesa em cima da porta era minha única confirmação de que nada tinha acabado ainda, que ainda tinha tempo...

— Taiju! — ouvi a voz da Yuzuha e levantei meu rosto, eu não conseguia chorar, eu estava tremendo, meu rosto estava gelado e eu estou aterrorizado — irmão, não se preocupa... Ela vai ficar bem...

Os olhos dela carregavam uma esperança de quem não viu o estado do apartamento nem dela... Ela não viu o rosto da Misuki, ela não viu nada...

— É... Ela vai... — abaixo meu olhar, eu não tenho energia para um diálogo de verdade agora... A minha camisa tá suja com o sangue de alguém que eu amo e eu não sei o motivo de ter acabado assim.

— Olha... A gente ligou pro irmão da Yachi, ele deve estar chegando — a voz de Yuzuha começou a vacilar, pouco depois eu ouvi os passos dela se afastarem.

Depois disso eu só me lembro de horas... Se tinham pessoas em volta? Não as vi.
Se alguém falou comigo? Nem cheguei perto de reparar.
Eu só vi quando o médico apareceu, e nessa hora já estava amanhecendo.

Ela sobreviveu... E eu digo isso com pesar, já que ela não vai acordar mesmo estando viva, o médico foi bem sério quanto a isso. Ela sofreu danos no cérebro, a perda de sangue e as costelas quebradas que perfuraram vários órgãos...

Eu não conseguia entrar no quarto do hospital, eu não passei no limiar da porta, o cheiro do hospital estava me transformando em uma criança de novo... Na criança que viu a mãe morrer em um hospital por algo que ele sabia o motivo e não podia fazer nada!
Dessa vez eu nem sabia do motivo, mas era tão impotente quanto. Quando a gente chegou não tinha ninguém, nada.

— Taiju... Eu... Fiquei sabendo que você estava aqui — a voz do Koko era a última que eu esperava ouvir.

— É... E já tô indo — Tentei limpar a garganta pra conseguir falar algo coerente.

— Quero que saiba... Que eu entendo a sensação que está tendo agora — Ele observa a janela de acrílico que permitia ver um pouco do quarto que a Misuki estava.

— Qual delas? — um riso de indignação sai da minha garganta, não sei se isso existe mas foi isso, um breve riso de indignação

— O ódio, a impotência perante o destino, o "e se..." que com certeza está na sua cabeça agora — ele diz com as mãos nos bolsos.

— É... Você sabe... — ele pos em palavras isso, era ainda pior saber que alguém já tinha sentido o mesmo... É o tipo de coisa que você pensa que nunca vai acontecer com quem você ama.

— Trouxe uma camisa pra você — ele empurra uma sacola no meu peito, ainda estou usando a suja — Inupi está esperando lá fora, vamos te levar de carro pra casa, precisa descansar.

Por um momento eu não questionei nada, só concordo e vou trocar a camisa. As manchas de sangue me faziam ver flashes do momento em que eu a levava até o hospital, onde eu ainda tentava imaginar o que tinha acontecido com ela nos minutos que eu quase cheguei até a minha casa.

O Inui e o Koko me levaram pra casa num esportivo vermelho, eu fui com a cabeça encostada no vidro do passageiro enquanto os dois iam na frente, teria que repensar muita coisa.

— Taiju... — Inui me chama antes que eu abra a porta do carro pra sair em frente de casa — pode tomar um tempo pra você, eu e o Koko cuidamos da Black Dragons.

Ele deu um sorrisinho?

— Conto com vocês — foi o que me restou dizer antes de sair.

Eu entrei em casa, me escondi no meu quarto e só aí que eu chorei... Chorei de verdade, até a minha cabeça doer e o meu nariz escorrer, eu chorei pra descontar o que eu reprimia pela minha mãe e pela raiva de nem saber por onde descobrir o que aconteceu com ela.

No dia seguinte eu estava sozinho em casa e sem a intenção de me levantar, mas a pessoa continuou tocando a campainha... Muitas vezes.

Assim que eu abri a porta dei de cara com olhos vermelhos e cabelos escuros, uma pessoa que eu já tinha visto antes mas bem rápido. Eu não tive muito tempo de pensar antes de tomar um soco no nariz

Você é problema meu - Taiju Shiba Onde histórias criam vida. Descubra agora