Você é problema meu - Taiju Shiba

Eu Não Tenho Nada

Vazio.

Acho que se lembra de quando o irmão da Misuki apareceu aqui em casa... Então, ele me bateu naquele dia, não foi pouco.

— É tudo culpa sua, seu desgraçado, você e os seus irmãos — Ele me segurava pela camisa e socava o meu rosto, ele chegava a babar de raiva

— Me larga, seu merda — soquei a cara dele e só assim consegui voltar a ficar de pé. — Quem você pensa que é?

Tinha sangue nos cantos da minha boca, eu sentia os cortes causados pelo impacto da pele contra os dentes.

— Você é um merda, um namorado de merda, um ser humano de merda que nem o desgraçado do seu pai — Ele gritava comigo como se eu tivesse algo a ver com o estado da Yachi agora.

— Não fui eu quem fez aquilo com ela, seu idiota — eu não ia pra cima dele, eu não conseguia! Ele estava me culpando por algo que eu não fiz! Contra uma pessoa que eu só queria proteger!

— Mas trouxe ela bem pra debaixo do nariz do seu pai — nessa hora o meu mundo caiu. — Ela só estava tentando ser boa e isso aconteceu. Ela sempre acaba se ferrando pelos outros... Toda vez isso acontece!

Ele puxa os próprios cabelos, Zayan parecia uma pessoa meio insana pra mim, não meio... Totalmente.

— Como assim...? — a minha voz não saiu mais do que um sussurro acovardado.

— O meu pai e o seu são digníssimos filhos da puta! — ele agita as mãos nervosamente — e eu tô no meio de dar um golpe empresarial nos dois, eu ia deixar você e a sua família na miséria e foda-se... Mas é claro que a Misuki não apoiava, aí ela conheceu os seus irmãos e quando te conheceu foi que fodeu de vez!

Ele empurra meu peito e eu dou uns passos pra trás.

— Ela não faria nada assim... Ela não era assim — eu balbuciei isso.

— O que você sabe da minha irmã, Taiju? — lágrimas começam a lavar o rosto dele — sabe que ela adora os personagens da Hello Kitty, mas não sabe que o motivo era que ela e a melhor amiga tinham mania de se fantasiar no halloween, não sabia nem que ela tinha uma melhor amiga né!

Não... Eu não sabia.

— Você nunca nem se ligou na mania que ela tinha de sempre oferecer comida pras pessoas quando chegavam na casa dela! — ele limpava o rosto na manga da camisa social e logo depois sua pele estava molhada de novo — Ela pegou essa mania da mãe, ela fazia administração porque eu pedi, mas o sonho dela era gastronomia... Você não sabe nada da garota que estava com você, pra você ela era só uma mulher que queria ficar com você

As palavras dele me acertavam com brutalidade em dobro, não por ele estar sendo agressivo, ele já estava quase desmontando de chorar na minha frente, mas era por eu realmente nunca ter sabido dessas coisas... Por eu nunca ter conhecido de verdade quem conheceu as minhas manias, e a gente ficou junto por um pouco mais de seis meses... Isso só era jogado na minha cara, eram coisas simples que eu podia ter percebido em conversas do dia dia.

— Taiju — ouço a voz de Zayan me chamando de volta a terra — eu espero que você melhore depois da ligação que a vida vai te dar... A minha irmã não pode ter aparecido em vão na sua vida.

— Do que você tá falando? — pergunto com a voz meio embargada. Esse cara fala estranho demais

— Eu sei que você vai amargar isso também, eu peço desculpas, mas também quero que melhore — ele passa a mão nos cabelos, ajeitando os fios escuros — eu exagerei, tinha vindo aqui só para dizer que eu sei quem fez isso e eles eventualmente vão pagar.

Eu não entendi ou me lembro do que ele disse depois.

Mas Zayan estava certo, eu amarguei os sentimentos dentro de mim, assim como o luto pela minha mãe e a injustiça que aconteceu com ela, acho que eu voltei a ser podre como sempre... Mesmo com a esperança que aquela folgada acordasse magicamente e fizesse as coisas terem mais sentido.. Eu fazia tudo no automático, o meu automático era meio cruel.

Assim se passaram seis meses, eu podia estar completando um ano de namoro com a Misuki, mas eu só a via numa cama, seus cabelos não estavam mais vermelhos na raiz como ela costumava deixar. Nem bem cortados, ela já estava muito mais magra e pálida.
Eu fui ao hospital quase escondido na véspera de Natal, bem no dia que recebemos a notícia de que ela não acordaria mais, eu já sabia que isso ia acontecer... Só que eu ainda tinha fé, um pouco pelo menos.

Eu estava péssimo, pra piorar, meus irmãos tentaram me matar, eu tive a primeira derrota da minha vida e foi humilhante... Tudo foi humilhante. A Black Dragons foi derrotada por minha culpa, se eu tivesse vencido o Mikey teria conseguido vencer os que estavam lá fora... Talvez se eu tivesse treinado com a Misuki como tínhamos prometido na viagem.

De novo ela vem na minha cabeça... De novo, de novo, o que aconteceria se ela estivesse lá comigo... Será que eu estaria menos triste ou humilhado sabendo que eu poderia ir até o apartamento dela, sentir o carinho e o abraço, conversar sobre e talvez até nessa conversa eu pensasse em retomar a gangue, desafiando o Mikey de novo... Sei lá, os "e se..." me matam sempre que eu penso neles.

Eu me levantei e caminhei pela neve, eu não sentia o frio da neve encostando na minha pele descoberta, sabe aqueles momentos em que você pensa "tomara que um raio caia na minha cabeça" ou "tomara que um carro me atropele"? Se você nunca teve, parabéns, eu estou nesse exato momento pensando em morrer de hipotermia.

— Taiju — ouvi a voz do Koko atrás de mim e eu me virei de cara feia, ele segurava o meu uniforme vermelho pela gola e estendia pra mim — Não vai querer isso?

— Pra que? — Reviro meus olhos — eu já vou ser deposto mesmo, prefiro deixar isso pra trás.

Ele suspira e trás o casaco pra perto de si.

— Eu pensei que poderia te apoiar, sabe... Quando eu vendi a sua localização, pensei mesmo que você os venceria — ele olhava pra baixo, eu não sei se era honestidade ou dissimulação.

— Você errou pelo visto, não dava pra contar com o Mikey o invencível aparecendo aqui — eu não sentia tanto ódio assim dele.

— Se eles não tivessem aparecido... Você estaria morto no chão daquela igreja, tenho certeza que estaria — ele não me olhava nos olhos — usa só pra chegar em casa, vai acabar ficando doente se tomar toda essa neve
Ele estende o casaco pra mim mais uma vez e eu pego.

— Boa sorte... Agora que vão entrar pra Toman — Digo vestindo esse casaco pela última vez.

— Vai abandonar isso de vez? — ele se referia a gangues.

— Eu só entrei pela bajulação do Inupi e sua, vou sair como se nunca tivesse estado — olho em volta, suspirando e uma nuvem de fumaça se ergue da minha respiração — Talvez fosse isso que ela queria.

— Tokyo dificilmente vai se esquecer de Taiju Shiba — ele me dá um sorriso, isso é tão estranho — e... Boa sorte recuperando esse coração

Ele dá as costas pra mim, voltando no caminho da igreja.

Eu também parti, um pouco mais aquecido, mas ainda péssimo.