Ferimentos

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Pronto... Virou várzea.

Eu tenho medicamentos, um delinquente e um sonho... QUE ELE VÁ EMBORA ANTES DE AMANHECER!

- NEM PENSAR, DEITA NO CHÃO! - Grito quando ele está prestes a deitar na minha linda caminha felpuda, gostosinho com cheirinho de amaciante.

- TÁ ACHANDO QUE EU SOU CACHORRO PRA DEITAR NO CHÃO, SUA MALUCA?! - ELE GRITOU COMIGO????

- Eu já mandei - espirro álcool na ferida da perna dele - você - espirro na do abdômen - deitar - de volta na da perna - não chão!

Terminei quase lavando as mãos dele no álcool, durante esse ataque, ele não conseguia prever os meus movimentos mas ou pude ouvir ele grunhindo de dor.

Com um baque pesado ele se deita no chão, o rosto contraído de dor e uma veia saltando na testa.

- Porque veio aqui? - perguntei separando delicadamente pedaços de algodão e molhando no álcool. Me agachado perto dele e apoiando seu pé na minha perna, na melhor posição possível para tratar aquele ralado na canela dele.

- Eu... Aí porra - ele resmunga fechando os punhos com força, ele parecia tanto estar armando um jeb de direita que era assustador - conversei com a Yuzuha, ela disse que eles vinham até você se precisavam de ajuda...

Levantei minhas sobrancelhas, era uma surpresa das bem gratas, eu geralmente não sou de ajudar muito. O que aconteceu dias atrás é uma coisa extraordinária, os olhos de Taiju seguiram os meus movimentos, eu estava segurando ele com um certo cuidado, talvez apreço pela minha própria vida, temendo uma pezada desse cara na minha cabeça.

- Então você decidiu que pode fazer isso também? - pergunto pegando as ataduras para enrolar o ferimento dele com o remédio.

- Exatamente, ou toda a sua ajuda se restringe só aos meus irmãos? - o sorriso dele era sacana enquanto me observava através da perna dobrada.

- Eu não ajudo eles com nada, só escuto eles reclamando sobre como tem um irmão horrível - aperto o curativo mais do que deveria.

- Não é carne de cavalo, sabia? - ele resmunga quando largo sua perna no chão.

Pude contemplar essa cena, Taiju deitado no chão, respirando pesado e olhos afiados, aquele corpo forte estava todo machucado e ele ainda parecia capaz de virar um carro, seu lábio inferior estava inchado e levemente cortado, mas ainda parecia ser macio, na verdade... A boca dele parecia muito macia.
O que eu tô pensando?
Balancei a cabeça, isso me fez questionar muita coisa, por exemplo, por que eu estou cuidando desse cara, eu podia chamar a policia e expulsar esse maluco daqui! Fazer um escândalo, chamar os vizinhos. O problema é que... Eu não quero isso.

Na hora que eu comecei a cuidar das feridas pequenas no peito dele a situação ficou meio tensa, é meio diferente de tratar algo na perna, estávamos perto e eu estava encostando naquela escultura que ele moldou no próprio corpo em meio a brigas horríveis que ele mesmo arranjou.
Toda vez que ele expressava alguma reação por estar sentado dor ou respirava mais forte era o suficiente pra me fazer dar quase um pulo, e todo movimento mais brusco que eu fazia ele se encolhia brevemente, como se estivesse se preparando pra sentir dor.

- Isso são... Versos... - falo enquanto toco perto das costelas dele, eu nunca consegui ler direito do que se tratavam, ele anda bastante sem camisa mas as letras são pequenas, e também não é como se tivesse visto ele diversas vezes

- primavera e Ashura - ele toca no segundo verso que está mais para baixo de seu abdômen.

- Kenji Miyazawa... Ele é bom - Sorrio levemente, ele parecia ter ficado meio animado com eu conhecer o autor, mesmo que ele não seja um desconhecido.

Eu terminei de tratar dele cuidando de suas mãos, conseguimos até conversar casualmente no processo, as mãos dele pareciam estar mais acostumadas a mágoação que é ficar batendo na cara de pessoas o tempo todo.

- Eu gostei do Aquário que abriu lá em Kioto - Murmuro quando a TV solta alguma informação sobre isso.

- Fiquei sabendo que tem raias lá - ele me respondeu até bem rápido, ele demorava para falar qualquer coisa e geralmente era monossilabico

- Tem sim, e uns peixes muito estranhos - Dou uma risadinha, eu fui até lá faz um tempo - Vão abrir um espaço para mergulho também.

Eu juro que vi os olhos dele se iluminando assim que eu disse isso, foi um pouco fofo ver um homem desse tamanho animado.

- quando você acha que isso vai acontecer? - ele se sentou, ficando perto demais de mim agora.

- Eu não sei... Daqui uns dois meses, eu acho - digo incapaz de me concentrar em um ponto fixo, meu olhar passeava entre seus olhos e sua boca... Daqui de perto só me dá mais certeza de que ela é macia.

- Legal, acho que eu tenho algo pra fazer em breve - ele sorri um pouco.

- Podia chamar os seus irmãos pra ir com você - falei mais como uma sugestão, só que eu temia isso

Vai que ele decide afogar as crianças...
Droga, pela expressão dele foi justamente o que passou em sua cabeça.

- Eu prefiro levar você, que quase me matou, do que aqueles dois - em seguida ele faz aquele clássico "a" que as pessoas fazem quando lembram de algo importante, mas o problema foi quando ele espalmou aquelas mãos imensas nas minhas coxas - qual foi aquele lance de enfiar o pé na minha boca, bagulho esquisito do caralho...

Eu estava me recuperando do tapa quase acidental que ele deu das minhas pernas, já que estamos sentados no chão do meu quarto com as pernas cruzadas um na frente do outro, ele meio que apoiou as mãos com empolgação demais nas minhas coxas.

- Eu sei lá - passo a mão na cabeça, só de tentar lembrar desse momento eu sentia agulhadas do lado esquerdo do cérebro - Você não calava a boca, eu queria falar.

Ele pareceu indignadissimo quando eu disse isso.

- Eu não falo demais não - seus dedos começaram a apertar a minha pele e eu fiz questão de segurar seus pulsos para impedir possíveis amputações dos meus membros inferiores. - eu só queria explicações, é diferente.

- Aham, muito, maritaca - eu ia me levantar, só que bem na hora ele agarra o colar no meu pescoço, a cruz que tinha deixado comigo outro dia.

- Você ainda tá usando isso - Ele acabou puxando com um pouco de força, o que não ajudou muito enquanto eu levantava, me fazendo desequilíbrar e cair bem em cima dele.

Você é problema meu - Taiju Shiba Onde histórias criam vida. Descubra agora