1. Country Town

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C A M I L L E

— Cami, querida, você está aqui? — minha mãe chamou, soando apressada. Seus pés faziam barulho contra o piso de madeira enquanto ela caminhava de um lado para o outro, provavelmente arrumando coisas que já estavam perfeitamente no lugar. Segundos depois, ela estava entrando na cozinha, sorrindo suavemente ao me encontrar ali. Eu estava ocupada tirando do forno a torta que ela havia deixado assando quando saiu apressada mais cedo.

— Obrigada, querida. A casa provavelmente já teria pegado fogo sem você. — mamãe disse em tom de brincadeira e eu esbocei um sorriso, balançando a cabeça. Uma vez que deixei a torta para esfriar sobre o aparador no balcão eu perguntei:

— Qual era o problema com a Eva?

— Havia um vidro solto em uma das janelas que se caiu e quebrou quando Eva foi limpar. Já achei alguém para substituir. — minha mãe respondeu — Como estão as coisas por aqui?

— Tudo sob controle. — eu disse, em seguida, ao notar sua inquietação, acrescentei: — Mãe, está tudo perfeito. Ninguém vai achar um defeito na casa nem que procure com com uma lupa.

— Eu sou estou ansiosa, quero fazer isso direito. — minha mãe suspirou. Ela havia estado desde de que recebera a confirmação, duas semanas atrás, que poderia receber os quatro garotos Houston.

Quando minha mãe me contou sobre os quatro irmãos órfãos para os quais sua amiga Sarah, uma assistente social, estava procurando uma casa onde todos eles pudessem ficar juntos, ela disse que havia sentido que precisava acolhê-los. Meu primeiro instinto havia sido achar que ela estava maluca, afinal, apesar de vivermos cercadas de pessoas incríveis que considerávamos uma grande família, sempre havíamos sido só nós duas dentro dessas quatro paredes desde que meu pai falecera e ambas vivíamos muito bem.

Mamãe era proprietária de uma linda pousada, recebendo vários hóspedes o ano todo que vinham visitar a cidade e simplesmente amavam a tranquilidade da pousada campestre, bem como o estilo rústico e acolhedor. A pousada era o seu sonho profissional e ela amava a vida fora da cidade, cercada de verde e silêncio e eu amava esse estilo de vida também. Além disso, tínhamos o pequeno rancho e os animais, bem como o campo onde plantávamos todo tipo de fruta, mas que não eram nosso foco. Assim, Elena Weston era uma mulher de negócios bem sucedida que vivia em seu lugar favorito em todo o mundo e cercada pelas pessoas que amava. Entretanto, eu havia visto o brilho em seus olhos e sabia que ela precisava fazer isso.

Eu estava nervosa, mesmo que estivesse escondendo minhas preocupações de minha mãe. A surdez parcial podia ser complicada, mesmo com o aparelho auditivo. Considerando as faixas que eu conseguia ouvir com ele, ouvir de um jeito tão específico podia se tornar completamente exaustivo às vezes, de modo que eu preferia o silêncio dos meus próprios ouvidos ocasionalmente. Além disso, eu sabia que minha deficiência auditiva afetava minha fala, que meu tom e pronúncia eram distintos por serem uma reprodução do que eu podia ouvir. A deficiência auditiva podia trazer muitas vezes julgamentos e preconceitos, mas eu havia crescido em um ambiente seguro e amoroso no qual aprendi a aceitar minha condição e tirar o melhor proveito do que tinha. Entretanto, a interação com novas pessoas, no fundo, sempre me traria uma pontinha de medo da rejeição e do julgamento, uma insegurança da qual eu não conseguia me livrar.

— E você vai fazer isso brilhantemente, mamãe. — eu sorri, empurrando minha própria ansiedade de lado — Você é a melhor mãe do mundo. Esses garotos tem sorte de ter você, assim como eu.

— Eu te amo, Cami, com todo o meu coração. Minha menina doce e especial. — mamãe sorriu, beijando o topo da minha cabeça - Eu acho que algo muito bom pode surtir disso, meu bem.

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