R O W A N
O pequeno relógio sobre a mesa de cabeceira marcava 7:47. Eu estava checando os números brilhantes periodicamente há pelo menos duas horas. Dormir sempre havia sido uma tarefa complicada para mim - estava acostumado a passar madrugadas em claro fazendo entregas para gangues locais ou qualquer outro trabalho que rendesse dinheiro rápido. Dinheiro extra era uma necessidade em vidas como nossas. Quando meus irmãos estavam famintos, suas roupas esburacadas ou eles tinham gripes maldosas, era, na maioria das vezes, minha responsabilidade garantir que eles tivessem o que precisavam.
O último ano havia sido particularmente difícil para nós. Entre Collin no centro de detenção e meus irmãos mais novos sempre precisando de auxílio, eu havia trabalhado mais do que nunca. Era um verdadeiro milagre que Big-D havia me deixado ir livremente. Ele era enorme e coberto de tatuagens que podia fazer homens adultos gelarem de medo com apenas um olhar, entretanto, ele parecia ter um pouco de compaixão pelo garoto órfão com três irmãos para cuidar.
A expressão de alívio de Collin quando eu lhe disse que estávamos fora me fez querer poder prometer que nunca mais teríamos que fazer algo fora da lei para nos manter. Infelizmente, poderia ser só uma questão de tempo até que precisassemos de dinheiro rápido de novo. Eu odiava entregar drogas, me meter com gangues, colocar meu irmão mais novo em perigo, mas a urgência nos tornava imprudentes e nos obrigava a fazer coisas que não gostávamos para sobreviver.
— Você está preocupado? — a voz de Collin me tirou de meus pensamentos e eu me virei para o meu irmão, deitado na cama ao lado da minha. Era uma das raras vezes que não estávamos todos amontoados no mesmo quarto e era de certa forma estranho, porque todos nós estávamos acostumados com a proximidade.
Collim ergueu a cabeça para me olhar. Ele era capaz de me ler como se eu fosse um livro aberto, me conhecendo melhor do que qualquer outra pessoa. Eu deveria saber que ele também já estava acordado, afinal Collin dormia tão mal quanto eu, principalmente quando estava nervoso, além de ter o sono leve, pronto para se levantar e agir ao menor sinal.
— Eu sempre estou, Collin. — eu suspirei, enconstando-me em uma das paredes e cruzando os braços sobre o peito. — O que você acha?
— Nada mal até agora. Poderia ser muito pior. — Collin deu de ombros — Eu nunca nos imaginei vivendo no meio do nada, mas isso é melhor que a maioria das casas na cidade que nós já estivemos.
Collin estava certo. Essa casa era diferente de todas as outras por si só — fora da cidade, cercada pela natureza e enorme, porém vazia. Nenhum de nós sabia como era viver ali, sem o perigo das ruas, trânsito ou bairros pobres e inseguros, com casas pequenas de famílias infelizes. Antes daqui, o maior lugar em que já tínhamos vivido provavelmente tinha sido a casa de Willow Ruth, uma mulher velha de clase média e hábitos rigorosos, quase militares e que simplesmente abominava o comportamento natural de crianças, apesar de ter adotado várias ao longo de sua vida.
— Você acha que tem uma fechada falsa? — eu perguntei. Eu era atento e cauteloso ao redor de qualquer um que não fosse meus irmãos, mas Collin era melhor lendo as pessoas do que eu.
— Eu acho que não. Quer dizer, elas são todas sorrisos e arco íris, mas eu não vejo más intenções. — ele respondeu honestamente — Porra, Camille me levou para correr com ela ontem, no meio do nada. Ela é muito boa ou muito louca.
— Me diga se você achar que tem algo errado, ok? — eu pedi.
— Nós contra o mundo. — eu concordei. A frase que havia se tornado nosso lema havia surgido comigo, quando meus irmãos eram pequenos e eu precisava assegurar-lhes que nos sempre estaríamos juntos, nos bons e maus momentos, e enfrentaríamos o que quer que viesse.
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Where We Belong
Novela JuvenilWest Valley | Livro 1 "Esses garotos são problema" era a frase mais usada para explicar os garotos Houston. Quatro irmãos órfãos que só podiam contar um com os outros e lutavam contra a dura realidade da vida desde cedo. Rowan e Collin, os mais velh...