C A M I L L E
Naquele final de tarde, eu me sentei em uma das cadeiras da varanda e, embora meus olhos estivessem acompanhando a mudança de cores do céu por conta do pôr do sol, minha mente estava à quilômetros de distância, mais especificamente, nos acontecimentos de horas atrás.
Ao ouvir as palavras de Nolan, eu havia ficado momentaneamente congelada ali, como se tivesse levado um soco no estômago. Fazia tempo desde que alguém não usava minha surdez como forma de ataque, trazendo lembranças de todas as maldades que já haviam me dito desde que eu era criança, mesmo que as ocasiões não fossem frequentes. Com o tempo e ajuda, eu havia aprendido a lidar com isso e, Bray, por ser o mais velho e mais assustador, sempre afastava qualquer um que viesse mexer comigo, enquanto meus outros amigos não ficavam muito atrás.
Ainda assim, embora essas lembranças estivessem enterradas em uma caixinha no fundo da minha mente, elas afloravam em momentos como esse. Eu me lembrava. De cada pessoa que já havia tirado sarro de mim, de cada vez que eu havia sentido os olhares e os susurros pareciam ter sido capazes de rastejar sob a minha pele. Algumas coisas não podiam ser completamente esquecidas, mesmo depois que você superava o ocorrido.
Eu sabia que as palavras não eram verdadeiras, mas nunca doía menos. Minha confiança construída não era impenetrável e as palavras maldosas pareciam atravessar minhas barreiras diretamente até o meu coração. Eu me sentia estúpida por me importar, mas era incapaz de não sentir, pelo menos por um tempo.
Eu não havia esperado que Theo me seguisse quando eu escapuli para o sótão da pousada, mas ele o fez, aproximando-se com olhos tristes para pedir desculpas pelo que Nolan havia dito. Eu havia balançado a cabeça, querendo dizer-lhe que ele não precisava se desculpar pelo irmão. Eu gostaria de poder assegurar que estava tudo bem também, mas a verdade era que as palavras de Nolan haviam me machucado.
Theo havia me visto chorando e tentou me consolar. Não querendo que ele ficasse chateado por minha causa, eu sequei meu rosto rapidamente, tentando me recompor. Mas então, eu mudei de ideia e desisti de lutar contra as lágrimas. Estava tudo bem chorar e Theo deveria saber disso. Estava tudo bem chorar quando você estava triste, quando algo te machucava. Você só tinha que encontrar o sol de novo depois disso.
Theo também desistiu de tentar me apartar e simplesmente se sentou ao meu lado, silenciosamente me apoiando enquanto eu expressava minha mágoa. Eu chorei de maneira irregular pela próxima meia hora, as lágrimas secando e voltando a escorrer conforme minha linha de pensamento mudava, conforme as lembranças me assombravam e me puxavam para baixo. Aquela era uma tristeza de várias camadas e nunca era exatamente fácil lidar com ela, a única maneira era: deixar rolar.
E eu fiz isso.
Finalmente, eu fui capaz de me recompor para valer, respirando fundo e esfregando meu rosto molhado. Meu coração ainda estava melancólico, mas eu ficaria bem, eu sempre ficava.
Agora, horas depois, ali estava eu, ainda remoendo de certa forma. Mamãe voltaria para o jantar a qualquer momento e eu sabia que ela imediatamente perceberia que havia algo errado. Eu a manteria fora disso, no entanto. Primeiro, porque eu não era uma dedo-duro e segundo porque, se eu quisesse que as coisas funcionassem entre mim e os Houston, eu precisava lutar minhas próprias batalhas. Eu não pediria para minha mãe repreender Nolan como se fôssemos crianças, não era assim que as coisas funcionavam mais.
Uma sombra caiu sobre mim e meus ombros ficaram tensos por um instante, sem saber o que esperar. Rowan se sentou devagar na cadeira ao meu lado, observando-me com atenção. Ele, que era bom em ler as pessoas, podia ver meu semblante chateado e olhos ainda inchados. Ele sabia que eu estava magoada.
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Where We Belong
Novela JuvenilWest Valley | Livro 1 "Esses garotos são problema" era a frase mais usada para explicar os garotos Houston. Quatro irmãos órfãos que só podiam contar um com os outros e lutavam contra a dura realidade da vida desde cedo. Rowan e Collin, os mais velh...