Sentimentos.

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As aulas tinham chegado ao fim, finalmente era sexta, estávamos todos sentados combinando de ir para praia amanhã.

Quando Valentina altera a voz e começa ser rude com o Guilherme do nada, ele tenta descontrair mas ela continua, fico parada e em choque, tentando assimilar aquilo, eu nunca tinha a visto daquela forma com ninguém, com aquele olhar e com toda aquela expressão corporal agressiva.

Após o episódio ela pergunta se pode me levar pra pra casa, e eu confesso que por um segundo, tive um pouco de medo, olho Duda e Carol que me transmitem a mesma sensação pelo olhar, mas aceito ir.

Estávamos no carro perto da minha casa, eu estava incrédula com o tom acusatório que Valentina estava usando comigo, como se tivesse moral pra me questionar ou cobrar algo.

Sua insinuação de que eu estaria tendo sim algo com o Guilherme enquanto estava com ela, tava me levando ao limite.

Mas sim, ele havia flertado comigo, e isso eu não iria confirmar a ela.

Ele não foi insistente ou invasivo, apesar de eu ainda notar seus olhares para mim, ele não me causa desconforto.

Como ela não via que eu estava absurdamente enlouquecida por ela e somente ela?

Começamos uma discussão, eu finamente vomitei o que estava guardando há dias, joguei em sua cara ao menos metade do que se passava em minha cabeça.

Isso me deixou um pouco leve.

Valentina praticamente me confirmou que esteve com outras pessoas durante nosso afastamento.

Isso doeu.

Toda aquela discussão havia me deixado com dor de cabeça e com isso decido encerrar e descer do carro, mas Valentina me segura pelo braço.

Ela não me aperta, mas quando percebo, ela estava apertando o volante do carro com uma força sobrenatural, e aquilo me assusta..

Respiro fundo, engulo em seco e volto pro carro deixando claro que não quero mais brigar.

Ela assente, parece pensar em algo e logo começa falar.

Eu ouvi com atenção tudo que ela me dizia, eu não posso negar, eu fiquei absurdamente feliz, leve, em êxtase em ouvir tudo aquilo.

Era tudo que eu queria saber.

Mas tinha lugares de chateação, de receio, de ansiedade em mim também.

Me sinto em um embate entre a razão e a emoção.

As coisas com Valentina eram muito intensas, e hoje isso se confirmou.

Eu estava me apaixonando, não tinha porque mentir pra mim mesma.

Ela conseguiu me por em sua teia, em um mês.

Meu coração foi aquecido.

- Você não faz ideia do quanto eu queria ouvir isso de você.
Não faz ideia do quanto já sou sua desde nosso primeiro beijo.
Não faz ideia do quanto é difícil saber e ver você com outras pessoas, porque eu gostaria que fosse eu, o tempo todo.
Não é só você quem sente ciúmes Valentina, não é só você quem se importa.
As vezes tudo é muito claro sobre a gente, e as vezes bem nublado.. E eu fico confusa.

Ela me olha com atenção, solta as mãos do volante e agora a mantém sobre sua coxa, vejo abri-la a boca pra dizer algo, mas logo interrompo.

- Me deixa continuar, por favor.

- Meu último relacionamento não acabou nada bem, tenho traumas e medos aqui dentro que já são de bagagens.. e as as vezes, certas atitudes que você tem, é como abrir essa bagagem e por mais uma coisa dentro dela.. é bem ruim..

Valentina me olha atônita, parecia absorver tudo que eu havia dito.

-Lu, eu sinto muito. Nunca imaginei que você receberia as coisas dessa forma. Na verdade tudo estava sendo normal para mim.

Ouço o que ela diz e continuo a falar.

- Eu me senti mal no domingo Valentina, era como se eu fosse só mais uma.. nem uma mensagem você mandou, e você omitiu que.. enfim.

Continuei.

- Eu to chateada, eu prometi esquecer tudo e ficar bem com você pois não consigo ficar longe.

- E você não esqueceu.. Ela disse com tristeza enquanto me olhava.

- É difícil já que todos os dias vocês estão juntas pra me lembrar..

-Lu, eu te juro, não fiquei com ninguém desde que dormimos juntas.

Eu olhava Valentina com atenção, ela mantinha os olhos nos meus, eu vi verdade neles, mas eu ainda estava chateada e assimilando milhões de coisas na minha cabeça.

- 5 dias, belo recorde.. Falei com certo desdém.

- Lu.. me desculpa, eu gosto de você.

- Eu também gosto de você Valentina, e muito, mas as vezes isso não me parece muito bom..

Ela engoliu seco, seu olhar que antes era de raiva, agora parecia surpreso e triste.

- O que eu posso fazer pra ficarmos bem? Eu faço, só me diz.

Ouvir aquilo me causou sensações que eu não consigo descrever, eu queria dizer pra ela nunca mais respirar perto de nenhuma outra, casar comigo e termos dois filhos, três gatos e uma casa enorme com piscina.

Mas eu não poderia.

-Você deveria saber. Respondi com a voz baixa.

Ela nada disse, apenas me olhava.

- Acho melhor eu ir.

Peguei minha bolsa novamente, destravei a porta do carro e ia descendo do mesmo, olhei Valentina.

- Tchau Valen, me avisa quando chegar?

Valentina assentiu.

Desci do carro e quando eu estava passando em frente o mesmo pra entrar em casa, ouço a porta abrir e em questão de segundos, Valentina agarrar o meu corpo e me abraçar.

Eu a abracei de volta, apertado como se fôssemos entrar uma na outra, seu cheiro logo tomou conta dos meus sentidos.

Ficamos ali por um bom tempo naquele abraço, até ela se afastar, me olhar de forma doce e acariciar meu rosto.

- Me desculpa tá? Eu vou me comunicar melhor, e não vou mais omitir nada quando você me perguntar. Você faria o mesmo?

Ela sorriu ao me ver concordar com a cabeça, e eu acabei lhe sorrindo de volta.

- Me da um beijo?

Nada lhe respondi, apenas segurei em sua nuca, colei nossos rostos e a beijei.

E ali naquele beijo, que continuava sendo o meu favorito no mundo todo eu esqueci de todo resto, só ela importava.

Em seus olhos.Onde histórias criam vida. Descubra agora