Quando você voltar.

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(Mais um.
Escutem a música e curtam esse momento da estória.)

Concordei com Duda, ela me ajudou a levantar, lavei minha boca várias vezes e em seguida ela me deu um chiclete pra mascar.

Saímos dali, tentando ao máximo que ninguém nos visse, eu não queria responder nada a alguém.

- Duda, me leva pra sua casa.

Falei enquanto a mesma estava entrando em minha rua, ela assentiu e se direcionou pra sua.

Estávamos no seu quarto, eu me encontrava paralisada mais uma vez, olhando um ponto fixo.

- Luiza?

- Oi..

- Você quer tomar um banho?

- Pode ser.

Me levantei e fui em direção ao banheiro, me despi e deixei a água cair sobre meu corpo.

Fiquei ali, sendo bombardeada por pensamentos.

A última vez que vi os olhos de Valentina, eles estavam cheios, assim como os meus.

Cheios de receio, de medo, de amor, de desejo, de angústia, cheios de dúvida, cheios de imediatismo, de dor, e lágrimas.

E hoje, eu não consegui vê-los.

Porque doía tanto?

Seria a última vez?

Não, não poderia ser.

Pensar que aquela poderia ser a última vez que eu olhei em seus olhos, foi como despedaçar meu coração com minhas próprias mãos.

Me destruiu, eu não consegui me segurar e chorei, até não sentir mais forças em meu corpo.

Eduarda entrou no banheiro, desligou o chuveiro, me estendeu uma toalha, em seguida me deu algumas roupas minhas que já estavam lá, ela me ajudou a vestir e voltamos pro quarto.

- Lu, eu te dei espaço como me pediu, mas eu realmente to muito preocupada agora e preciso saber. O que a Valentina fez com você? Ela te machucou? Ela te agrediu? Pode me contar, você sabe que pode confiar em mim.

- Ficar longe dela tá me machucando. E não, ela não me agrediu, ela nunca faria isso.

- Como assim? Não foi você quem pediu um tempo?

- Foi, mas eu não sabia que ia doer tanto. Eu só precisava pensar e agora ela foi pra ainda mais longe de mim.

- Ela tá te dando espaço e tempo pra pensar.

- Não Duda, ela tava diferente hoje. Será que ela já desistiu de mim?

- Não pensa isso. Me conta, o que aconteceu.

Respirei fundo e comecei contar algumas coisas que aconteciam de um tempo.

- Duda, ela mentiu pra mim no domingo, dizendo que o Igor estava vendo o filme com elas duas. E porque Eduarda? E não foi a primeira vez.

Exercitei minha respiração e consegui conter meu choro que insistia, Duda me olhava com o semblante triste, parecendo assimilar tudo aquilo.

- Em alguns momentos parecia que eu tava me relacionando sozinha. Porque só eu cedia? Porque só eu abria mão? Porque só eu me subordinava? Eu tentei Duda, eu fui passando por cima, até porque não era nem um pouco difícil esquecer dos problemas com ela, só que segunda, eu me senti invisível, desrespeitada e invadida. Como aquela menina pode ter se sentido tão confortável em agir daquela forma comigo estando lá? Como a Valentina permitiu, ou pior, como eu permiti? Eu deveria ter enfiado aquela pizza inteira na cara dela e o restante na da Valentina, eu sou uma idiota, isso sim, que ódio Duda!!!

Nesse momento eu senti o choro em minha garganta outra vez, só que DE RAIVA.

- Você não é idiota, só é frouxa, porque só Deus sabe a raiva que eu senti na segunda, imagine você, eu teria quebrado fácil AS DUAS no meio, não teria militância certa.

- Eduarda..

- Tá, falando sério agora. Olha, eu tive receio do envolvimento de vocês, justamente por te conhecer, e conhecer um pouco da Valentina também. Ela sempre foi muito fechada sobre sentimentos, e vê-la daquela forma toda com você, me surpreendeu. Com o tempo eu fui vendo verdade, e eu vejo verdade. Eu acredito que ela te ame, e acredito também que ela nunca quis te machucar. Mas sabe? Ela vacilou. Ela realmente poderia muitas coisas, mas será que ela enxergava que poderia?

Eduarda me olhava, e eu acenei pra ela continuar.

- Eu to dizendo isso porque nem sempre temos a sensibilidade e o bom senso de se por no lugar do outro e ver que aquilo machuca ou que algo precisa ser feito. É do ser humano precisar ser comunicado, assim como se comunicar. O Igor já me magoou, eu já o magoei, por falta de comunicação, empatia e por comodismo.

- Eu sei Duda, mas tá doendo tanto e não precisava ser assim.

- Mas você entende que foram pequenas situações que você guardou pra si e que acabou virando algo imenso?

- Sim.

- Você entende também que não existe culpa? Você não errou em amar e se entregar dessa forma.

- E ela não errou ao não perceber que deveria fazer o mesmo por mim?

- Isso só ela pode te dizer. Fazemos e somos aquilo que podemos. Lembra? Se sou filha da puta, é o que eu posso ser no momento.

- E cabe a mim manter ou não o seu possível perto do meu..

- Isso.

- Como faz pra parar de doer?

- Eu não quero soar rude, mas isso tudo me parece muito um drama sapatão que pode ser resolvido facilmente com conversa e terapia.

- Eduarda, é sério!

- Eu também to falando sério. Você morre de ciúmes da Valentina, mas engolia tudo calada igual mosca morta. Era melhor meter o louco igual ela e competir qual era a pior, eu em.

- Duda!!!

- Olha só. Eu verdadeiramente to muito mal de te ver assim, e to com muita raiva da Valentina. E eu acho que vocês precisam de tempo, e de uma longa conversa, tudo isso pra mim me parece muito falta de comunicação. Amor demasiado, excessos.. sabe?

- Sei.. tudo realmente vem sendo em excesso..

- Então..

- E o que eu faço? Eu mal to conseguindo respirar Duda..

- Você vai se dar esse espaço. Vai esperar ela voltar. E quando ela voltar, vocês vão conversar com muita calma, você vai explicar todas as ausências e excessos que ela teve, e o que isso te causou. Você vai se impor, e tudo vai se resolver.

- E se não se resolver? E se ela não quiser mais ficar comigo?

- Vai se resolver, e ela sempre vai querer ficar com você.

- Certeza?

- Absoluta.

Respirei fundo, e tentei me convencer que tudo daria certo, que o tempo iria amenizar, e que iríamos nos resolver.

Quando ela voltar.

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