Válvula de escape.

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Após o jantar eu e Valentina fomos pra minha casa, eu percebi o quanto ela estava frustrada e nervosa, aquilo apertava meu peito e causava uma leve ansiedade.

A convidei pra entrar e após insistir um pouco, ela aceitou, transamos por um tempo que não consigo medir, e depois tivemos uma conversa que me deixou confusa, assustada e desconfortável comigo mesma.

Eu tive receio de me entregar e me envolver com Valentina no início, eu já sabia que ela é o tipo de mulher que te vicia, que bagunça sua vida por completo.

E eu me encontro completamente e absurdamente viciada.

Valentina não era a pessoa mais fácil do mundo de lidar, existem muitas camadas e complexidades ali, como em com qualquer um, mas ela, é única, em tudo que a compõe.

Em muitas das discussões que já tivemos, eu me sentia perdida, eu me sentia fora do meu próprio corpo todas as vezes que ela gritava comigo, teve momentos onde tudo que eu queria era surtar de volta, mas eu sei que seria pior, então sempre procurei ser o mais racional e calma possível.

Com o passar dos dias eu aprendi a ir lidando com seu jeito, assim como ela com o meu, com muita conversa e as vezes silêncio, pra não ser dito o que pode não ter volta. Aliás, eu pensei ter aprendido a lidar, mas hoje, me sinto estranha..

As vezes Valentina era teimosa e cabeça dura como ninguém, e eu não achava solução a não ser o sexo, no fundo eu sempre soube que aquilo não era o correto, que era uma válvula de escape.

Mas era a única coisa a se fazer. Tudo ficava bem logo após o ato que quase sempre depois de uma briga,  era violento, até não estar novamente, e mais uma vez, o sexo ser a solução.

Hoje eu percebi que eu estava tentando a controlar com isso.

Assim como Fernanda fazia, e pior, por pedido da pior pessoa que eu conhecia.

Chorei durante o banho, eu me senti suja, burra, e insuficiente, é insuportável pensar em perder Valentina, é doloroso me ver sem ela outra vez, mas também é insuportável se relacionar com todas as sombras que ela carrega.

Me lavei com cuidado, estava com o corpo absurdamente sensível, e assim que finalmente parei de chorar, voltei pro quarto.

Valentina já estava dormindo, me deitei agarrada a ela e logo adormeci também.

No dia seguinte acordamos já ao meio dia, ela tomou banho e saímos do quarto, ajudei minha mãe no almoço e Valentina ajudou meu pai com o jardim.

Tivemos um dia leve e delicioso, era incrível o quanto ela se dava bem com minha família, era lindo ver o quanto ela era feliz aqui.

Insistimos para que ela dormisse aqui mais uma vez, e depois de muita luta, ela aceitou. Jantamos, bebemos cerveja, jogamos cartas e conversamos sobre infinitas coisas, Valentina e meu pai estavam entrosados como nunca.

- Amor, lavei sua roupa, tá? Amanhã cedo já deve estar tudo seco.

Falei entrando no meu quarto e dando de cara com a mesma vestindo o pijama que eu havia lhe emprestado.

- Que susto Lu!!

Sentei na cama e fiquei a observando, Valentina parecia ser esculpida pelos Deuses.

- Porque não trancou a porta? Poderia ser a Carol ou minha mãe.

- Acabei me esquecendo.  Me respondeu enquanto secava o cabelo com a toalha.

- Você é uma delicia, sabia?

Valentina me olhou e sorriu, - Sabia.

- Convencida. Vem cá, deixa eu te dar um beijo.

- Nem vem com essa cara de canalha, eu vou pra sala ver jogo com meu sogrinho.

- Você o que? Perguntei incrédula.

- Vou ver jogo ué.

- Tá fugindo de mim Valentina? Logo você que me chama de fraquinha..

- Claro que não,  e não me provoca..

A olhei travessa, eu sei que ela não iria resistir, mas sei também o quanto amo vê-la se dando bem com minha família.

Me dei por vencida após um beijo, Valentina me entregou a toalha e foi para sala, eu fui tomar banho e depois me juntei a eles.

Voltamos pro quarto assim que o jogo acabou e eu tratei de dar um orgasmo delicioso pra aquela mulher, ficamos de carinho em seguida e logo pegamos no nosso.

Na manhã seguinte tudo correu como de costume, assim como todo o restante do dia.

Duda me abraçou apertado do seu jeito desengonçado na hora de nos despedimos e eu soltei um gemido involuntário.

- Ih, que foi? Se afastou e me olhou desconfiada.

- Nada, só to com um pouquinho de dor e você me apertou.

- Ah, eu que te apertei? Eu sei muito bem porque você tá dolorida, tá na hora da Valentina medir a força dela em você, ela se esquece que luta, e você parece se esquecer também.

- Minha pele que é sensível demais, você sabe, eu em garota.

- Você tá uma viciada safada depois da Angelina Jolie, isso sim.

Duda riu maliciosa enquanto me encarava.

- Você já viu aquela mulher nua? Não tem como não ser viciada.

- Já, e realmente, até cogitei em trocar de irmão..

- Eduarda!!! Dei um tapa no ombro da mesma e revirei meus olhos.

- To brincando sua maluca.

- É bom mesmo, e agora vou indo porque minha Angelina Jolie estressadinha tá me esperando.

- Vai lá meu casal bombinha favorito, amo vocês!!

- Eduarda para com esse apelido horroroso.

- Ué, mas vocês são.

- Chata!!

Mostrei língua a mesma e ela me retribui.

Valentina me deixou em casa, namoramos um porquinho no carro e ela logo se despediu.

Fiquei sozinha com meus pensamentos, e aquela sensação estava presente outra vez, aquele desconforto e o medo de perdê-la de alguma forma, revirava meu estômago.

Eu já tinha decidido comigo mesma não mais usar o sexo como válvula de escape e de controle. Valentina deve ficar comigo e somente comigo por amor, vontade própria e inúmeros motivos, mas não por manipulação, sexual, ou qualquer outra.

E eu sei o quanto ela me ama, eu vejo, eu sinto, e sei que seu desejo por mim é verdadeiro e intenso, e somente meu.

Pensei e repensei se eu deveria contar isso a ela, ou se só impedir que não se repita já seja suficiente.

Nossa comunicação estava bem melhor, e as brigas eram quase mínimas agora, então decidi guardar aquilo pra mim, esquecer, e não repetir novamente.

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