Costumes.

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(Já sabem né )

Na sexta meu pai estava me levando pra empresa, aquilo era estranho,  já que eu tava acostumada  a ir ao lado de Valentina toda manhã.

Ela morava consideravelmente longe,  mas acordava cedo todos os dias para me levar, assim como me buscava, e me deixava em casa.

Eu sei que tudo isso tinha começado por puro ciúmes, mas com os dias passando, eu sentia que aquilo era sagrado pra Valentina, assim como todos nossos momentos.

Estar com ela era sagrado para mim também.

- Cadê a Valentina minha filha? Ela sempre te leva.

- Teve que viajar  pai, vai ficar uns dias fora..

- E com quem você volta?

- Com a Duda, não se preocupe.

Aqueles últimos dias eu me forcei ao máximo pra fingir para meus pais que tudo estava bem, apesar da minha mãe ter notado, e ter tido mais uma conversa comigo.

Sobre amor, paciência, e limites. Minha mãe concordou comigo sobre minha decisão, me disse que o tempo é rei, e que tudo bem se perder, desde que eu me encontre.

No sábado, eu me esforcei quase que de forma sobrenatural a ir pro aniversário do Roger, talvez Carol e Duda tenham me obrigado pra ser sincera.

Era estranhamente ruim estar com todos, mas não estar com Valentina.

Era costume sempre estarmos juntas, alegres com nossos amigos.

Eu estava dançando com o Vítor, depois de muita insistência, tá perto dele me lembrava a Valentina, e tinha o bônus dele ser a pessoa mais divertida e leve do mundo.

Começou tocar crazy in love da Beyoncé.

Como a primeira vez que nos vimos, e nos beijamos.

Eu sorri, com os olhos marejados.

Meu corpo foi invadido pelo corpo de Valentina.

Eu senti seu cheiro, suas mãos em mim, eu senti seu gosto.

Mas ela não tava ali, não como de costume.

Vitor percebeu, e deve ter se lembrado também pois o mesmo me abraçou apertado e dançou desajeitado comigo, logo seguido de Duda, Carol, Roger, Igor..

E assim fizeram um bolo de mim.

Sufocante e apertado, mas bom de se sentir.

A noite era sempre o mesmo inferno, por mais que eu tivesse ido bem pelo dia, eu dormia por exaustão, após chorar de saudade do cheiro de Valentina, do seu abraço, do seu beijo, dos nossos costumes..

Era incrível a capacidade única que o domingo tinha de ser o dia mais triste do mundo todo.

Eu tinha almoçado com minha família, e assistido um filme de comédia com todos eles.

Nesse momento eu tava deitada na minha cama, e de forma intrusiva, Valentina estava ali comigo, em meus pensamentos, mas estava.

Eu juro que minha cama ainda tinha o cheiro dela.

Me lembrei do dia que ela jantou aqui com meus pais, que ela oficializou nosso namoro, que me deu essa aliança linda, e disse que me amava depois de me fazer sua de um jeito que só ela poderia, mais uma vez.

Que saudade do corpo de Valentina, que saudade do seu gosto, que saudade do seu jeito de tocar em mim e fazer eu me sentir viva e desejada como ninguém.

A falta de Valentina me sucumbia, mas eu sabia que era o certo. Ainda doía, mas não tanto como  dias atrás..

Decidi ir ao shopping, tinha um bom tempo que eu não curtia minha própria companhia.

Me arrumei, fiz uma maquiagem leve, e fui, antes que eu desistisse.

Comprei algumas roupas, e em outras lojas entrei apenas para famosa olhadinha.

Eu tentei, mas tudo me lembrava Valentina e nossos costumes.

Na segunda meu pai me levou novamente.
Dessa vez, diferente de todas as outras, eu voltei pra faculdade com o Guilherme.

Eu me senti culpada, me senti verdadeiramente desconfortável.

Mas eu sabia que não estava fazendo nada errado, e me segurei nisso.

Quando cheguei Igor me contou que a Valen estava bem, mas que ainda não tinha dito quando voltaria e aquilo foi como um soco no estômago.

Eu quis saber mais dela, quis perguntar se ela estava com alguém, se ele sabia o que ela fazia pelo dia, se ela estava se alimentando e dormindo bem, se ela sentia minha falta..

Eu sentia falta da sua mensagem de bom dia, seguido do eu "estou indo te buscar."

Sentia falta das nossas fotos aleatórias trocadas pelo dia, sentia falta do seu jeito empolgado de me contar sobre o muay thai, ou de desabafar irritada sobre o quanto sua mãe tinha torrado sua paciência.

Era quarta, nove dias longe de Valentina, 9 dias sem se quer conversar com ela.

Eu me sentia bem comigo, estava tranquila com minha decisão, pois sabia que eu verdadeiramente precisava e que ela também precisava.

Não teve um dia que eu não senti falta dela.

Mas eu encontrava um pouquinho de mim, a cada um desses dias.

Eu não me arrependo de nada que eu tenha feito com ela, e por ela. Eu quis, assim como ainda quero fazer muito mais ao seu lado.

Mas Duda estava certa, eu tinha me anulado um pouco, colocado todo meu amor por Valentina acima de qualquer outra coisa, e deixei ela confortável e no controle, sem sentir necessidade alguma de nunca abdicar-se de algo também.

Valentina poderia muitas coisas, mas eu se quer sabia se ela mesma sabia disso, e acredito que não. Ela não manteria a Fernanda daquela forma, não consciente de que me magoava.

Afinal, somos o que conseguimos ser.

A verdade é que eu não aguentava mais de saudade, eu já tava de saco cheio dessa distância.

Eu me sentia pronta para uma conversa, eu me sentia pronta pra receber seu lado e sermos nós outra vez.

Mas e se ela não estivesse pronta pra mim? E se ela ainda não quisesse conversar comigo?

Tentei me desopilar da ideia, mas eu não conseguia.

Entrei no seu chat, várias vezes.

Digitei, apaguei, digitei, apaguei..

Era melhor esquecer, talvez eu devesse esperar o tempo dela.

Mas como esquecer todos os costumes se eu nem mesmo esquecia de Valentina por um só segundo?

Eu não quero me esquecer de nada.

Abri o WhatsApp novamente, olhei sua foto por alguns segundos.

Inferno de mulher linda.

Respirei fundo..

Mandei mensagem.

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