Valentina.

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Luiza assentiu e manteve as mãos nas minhas enquanto me olhava de forma doce.

Respirei fundo e abaixei meus ombros.

- Eu nunca tive uma relação fácil com minha mãe, ela sempre achava uma forma de me lembrar que eu não era perfeita como ela gostaria que eu fosse. Ela sempre dizia que eu podia melhorar, do desenho de dias das mães no prézinho, até passar na maior faculdade do rio por único mérito meu, e não por dinheiro da nossa família.
Eu desenvolvi ansiedade quando criança.
Não era muito perceptível, até ir piorando..
Em volta dos 14 anos, veio outras coisas, a enxaqueca constante, a variação de humor, a irritação fácil, atitudes impulsivas, e uma raiva que tomava contava de mim, e eu me acabava em culpa logo depois..
Em um desses ataques, eu acabei quebrando um jarro muito caro da minha mãe na época, e também, acabei machucando o Igor..
E então minha mãe brigou comigo como nunca e me bateu, e não foi a última vez..

Luiza apertou minhas mãos, em sinal de que estava ali comigo.

Respirei  fundo, fechei os olhos e continuei:

- Eu fui diagnosticada com TEI (transtorno explosivo intermitente).
Foi quando morei com meus avós, até  meus 16 anos.
Fiz terapia, e eu estava indo bem.
Até voltar a morar com minha mãe novamente, e todo aquele julgamento e cobrança sobre mim, ir destruindo todo o avanço e entendimento que eu tinha feito comigo mesma..
Eu tentei continuar com a terapia, eu me sentia bem nas sessões, mas quando voltava pra casa, dona Catarina estava lá, pronta pra me olhar com desdém e fazer eu me sentir um monstro.
Foi quando eu conheci a Fernanda, através do meu pai, começamos a sair juntas, a beber, a transar, e foi com ela com quem experimentei cannabis a primeira vez, e me ajudou muito na ansiedade.
Mas eu ainda sentia raiva, todos os dias, e antes disso, me sentia vazia. Então entrei no muay thai, mas ainda não era suficiente..

Nesse momento minhas mãos suavam, e tremiam, tentei solta-las de Luiza, mas ela não permitiu.

- Eu to aqui pra você.

Ela me olhava com afeto, eu assenti e prossegui:

- Eu conheci uma pessoa, foi com ela que eu tive minha primeira experiência de BDSM, e aquilo foi fascinante. Eu me sentia bem em finalmente poder estar no controle de algo. De me sentir capaz, de conseguir me sentir no controle de mim mesma, e no de outra pessoa. Era prazeroso ter alguém completamente a minha mercê, ao meu controle.
E era um algo só meu, minha mãe não poderia intervir e me dizer o quanto eu era ruim por isso.
A partir dali, eu me descobri uma pessoa dominadora, e o sexo se tornou quase que um vício.
Passei a controlar meus sentimentos, aprendi a lidar com a Catarina e fui tentando ao máximo lidar comigo também.
Eu ainda sinto raiva, mas quase sempre eu consigo dominar, ou conseguia, até me ver sem controle algum novamente.

- Até você se apaixonar por mim.

Luiza concluiu.

- Até eu me apaixonar por você.

Olhei a mesma e sorri fraco.

- Eu nunca tinha me apaixonado antes, nada nunca tinha sereno e leve pra mim. Eu nunca tinha sentido tanta necessidade de alguém, do corpo, do abraço, da companhia, eu nunca tinha sentido necessidade de fazer alguém sorrir, e eu senti e sinto necessidade de ser o motivo de um sorriso seu.
A verdade é que eu também fui sua desde o primeiro beijo, mas eu não quis assumir isso nem pra mim.
Eu me senti perdida, afinal você faz com que eu perca meu controle, e ele era a única coisa que eu tinha.
Me apaixonar por você estava sendo minha ruína, meu desequilíbrio. Eu sentia vontade de você o tempo todo, como um vício e aquilo me desconcertava, então pra me provar que eu ainda podia me controlar, eu ia atrás de outras pessoas, eu ia me machucar, antes de te machucar.

- Nunca senti tanto medo de perder algo ou alguém, como eu sinto medo de perder você Lu.
E pensar nisso, me faz ficar cega de ciúmes, e eu acabei descontando em você.

Nesse momento minha voz estava trêmula, eu tentei me segurar, mas o choro estava presente.

- Me desculpa pelas vezes que gritei com você, que fiz você se sentir ameaçada e que te machuquei, me desculpa, verdadeiramente, me desculpa.

Luiza me puxou pelo braço e me abraçou apertado, fazendo um carinho em meu cabelo.

- Valen.. eu to aqui pra você.

Ela me apertava cada vez mais em seus braços, e ficou ali comigo até meu choro diminuir.

- Me perdoa pela minha impaciência, pelo meu controle e também pelo meu descontrole, me perdoa pelas vezes que te silenciei, por puro medo meu, medo de sair da minha zona de conforto e não enfrentar com coragem questões antigas minhas, me desculpa por ser uma covarde, me desculpa por não ter sido boa pra você o quanto você merecia.

- Eu usei o álcool como escape por um tempo,  depois a Fernanda, o muai thay, o sexo, até usar tudo ao mesmo tempo e ainda sim nada ser suficiente..
A verdade é que eu me sentia no controle, mas tudo isso era minha mãe ainda me controlando, me aprisionando em todos aqueles lugares ruins que ela tinha me colocado, e eu ainda não tinha saído.

- Até você chegar. A verdade é que ter me apaixonado por você me fez conhecer coisas bonitas sobre mim também, que eu achava que não existiam, ou me fizeram acreditar que elas não existiam.
Amar você foi me curando de coisas que eu nem sabiam que precisavam ser curadas Luiza.

- Esses dias longe me fizeram perceber o quanto eu preciso de você, o quanto eu te amo e o quanto quero te fazer feliz. Mas eu também percebi que preciso de mim, e o quanto quero me amar e me fazer feliz, longe das amarras que minha mãe me pôs, e que eu acabei me colocando também.

- Eu quero voltar pra terapia, e também quero voltar pra você, caso você me queira. E por favor me queira. Eu não vou mentir e dizer que não vai ter mais ciúmes, mas prometo não te culpar por isso e aprender a lidar, assim como prometo parar de sempre apenas prometer, mas cumprir. Eu amo você e quero passar o resto da minha vida com você, quero aprender estar em paz sendo minha, e assim ser sua, por completo.

E aí?? 👀

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