Capítulo 10

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— Conseguiu chegar a mais uma semana viva, hein? — Gabe empurra outro duplo descafeinado para mim. Ele continua com seu boné vibrante e o cabelo está levemente maior.

Acho que ele quer pedir meu número e só não o fez por medo de eu dar um chilique e ele acabar sendo demitido por assédio. Nem todos os caras estão a fim de arriscar o emprego por um rabo-de-saia, segundo Dyanne. E sim, comentei com ela sobre ele a alguns dias.

— Isso é uma dádiva e tanto, não acha? Sou mais resistente que a Mulher-Maravilha. — Me gabo, dando de ombrinhos.

Ele sorri.

— E o que essa Mulher-Maravilha planeja para o fim de semana? Assim, por curiosidade de amigo. Posso te chamar assim? — óbvio que ele tem outros planos. Espero que tome coragem e me chame para sair de uma vez.

— Bom, minha colega de apartamento quer me levar a boate Lux hoje à noite e depois acho que vou tirar sábado e domingo para me renovar espiritualmente na cama... Uh, você tem um papel ai? — Mordo o lábio. Gabe coloca seu bloco de anotações na minha frente e entrega-me sua caneta. Anoto o arroba do meu Instagram e empurro a ele por cima da mesa. Me sinto ousada mais que nunca. Se posso sobreviver a Stella Falcone, também consigo ter um encontro bacana com o rapaz da cafeteria. — Me chama pra beber depois. Podemos falar mal de nossos chefes por horas e afogar as mágoas.

Gabe simula o riso de canto.

— Não vejo programa melhor para o meu fim de semana, querida Elena.

Não dou mais delongas. Pego meus produtos e vou ao caixa pagar, mas Harry me diz que esse é por conta da casa e assisto Gabe acenando atrás do balcão. Faço uma curta reverência antes de me retirar. Savannah está na recepção quando eu passo pelas portas duplas.

— Por que todo esse sorriso? — Ela levanta uma das sobrancelhas para mim.

— Bom, Stella está de bom humor por tudo andar nos trilhos com relação a festa de amanhã e provavelmente vai me dar folga, já que estará ocupada o dia inteiro se embelezando. Acho que ela não precisa de mim pra isso.

— Ela não te convidou?

— Não acho que ainda esteja confortável para levar uma secretária para uma "comemoraçãozinha íntima em casa". — Essas foram as palavras dela. — Mas não importa. Posso usar o dia para me fundir ao meu colchão até o meio-dia. Céus, eu preciso de uma boa noite de sono sem ficar atenta a se ela vai me ligar mais cedo e me fazer sair voando do edredom. Aliás, preciso de um vestido pra mais tarde.

Savannah contrabandeia um olhar conspiratório.

— Pegue o que quiser, amor.

Sorrio para Savannah e entramos no elevador juntas. Para minha grande surpresa, Stella aparece tarde e fica na empresa por cerca de duas horas. Ela mal fala comigo além de diferir minhas tarefas do dia e elas são tão poucas que consigo me desvincular da Vogue mais cedo. Eu ligo para Dyanne avisando que estou indo para casa antes dela e levo um xingamento engraçadinho. Aproveito para ir direto ao banho e cuidar de minha pele com todos os cremes que me deram. Apesar de Stella me odiar, estou fazendo algumas amizades por lá, me tornando mais querida a cada dia nos setores. Dyanne chega por volta das sete do estúdio de tatuagem e me encontra enrolada numa toalha, em cima da cama, com um espelho encostado na parede enquanto finalizo a maquiagem dos olhos. Ela, como de costume, pega meu celular.

— Quem é esse arroba Gab underline quente que te mandou mensagem no Insta? — ela interroga, fuçando minhas redes sociais. — Espera, esse é o atendente que me contou? — Dyanne se senta perto de mim e abre o feed dele. Há um bocado de Gabe sem camisa, exibindo o físico em fotografias na praia com seu abdômen trincado.

— Espera, ele mandou? — tomo o meu celular e verifico as informações dele na bio. Vinte e seis anos, solteiro, canadense e amante de esportes. Ele é muito... lindo! Coloco uma mecha para detrás da orelha ao inspecionar seus destaques. Há fotos dele com um grande cachorro preto — aparentemente chamado Milo — e mais umas com a mãe. Sem anel ou alguma menina. Ele não namora, então. Eu não sabia disso antes de entregar meu perfil num papel, mas estou aliviada em saber do estado civil. No chat de mensagens há uma saudação seguida de emoji. "Sou eu, o Gabe", ele diz. Sei quem ele é, penso comigo mesma, mas não dá pra se esperar muita inovação de homens quando se trata de puxar papo. Pelo menos ele não me chamou de gostosa tão de primeira, o que certamente me broxaria. — Vou responder. O que eu digo?

— Nada disso. — Dyanne rouba meu aparelho e salta de pé no corredor. Eu faço careta. — Eu te conheço bem. Não quero te ver deixando nosso programa pra flertar com uma obsessão que vai evaporar depois de duas semanas.

— Dy, não faz isso!

Me ignorando, ela sai pela porta às pressas.

— Sem discussão, minha querida! Termine de se aprontar e pode ter seu telefone de volta!

Bufo de frustração, mas não estou com vontade de sair correndo atrás dela de toalha. Às vezes eu não entendo o porquê de ter pegado amizade com essa criatura. Sem muitas escolhas, abro novamente minha maleta e tiro o lápis de sobrancelhas para terminar o que comecei. Vou ter uma ótima noite e, se Gabe estiver acordado quando eu chegar bêbada de madrugada, posso conversar com ele até pegar no sono. 



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