Capítulo 12

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Bip! Bip! O maldito celular me acorda, e dessa vez não é o despertador atormentando. Empurro a horrível dor de cabeça ganha pela ressaca para o lado e me remexo em busca do aparelho, tateando a cabeceira para achá-lo.

Atendo a ligação.

— Alô...?

Aonde diabos você está? — Stella Falcone vocifera.

— Hã... Em casa? Por quê?

Não olhou sua caixa de e-mails? Por Deus... O que está esperando para chegar ao ateliê da Runaway?

Merda! É lá que ela vai provar o vestido da festa..., mas como eu podia imaginar que Stella ia querer minha presença na sua última prova de roupas aos quarenta e cinco do segundo tempo? Ela é tão imprevisível que... Urgh!

— Estarei aí em cinquenta minutos.

Você até as oito e meia. Se não conseguir, não vai precisar voltar na segunda. — Simples: Stella encerra a chamada sem me dar chance de uma barganha.

Espio o relógio. São oito horas. Tenho trinta minutos. Caio da cama na tentativa de sair dela o mais rápido e corro para o chuveiro. Meu banho dura três minutos. É literalmente o tempo que tenho de entrar embaixo d'água, me molhar para tirar o cheiro de suor e sair enrolada numa toalha.

— O que você está fazendo? — Gabe pergunta da cama, se remexendo.

Gabe! Ele ainda está aqui. Dormimos juntos depois de um bom sexo e ele continua sem roupas embaixo dos lençóis. Eu daria tudo pra continuar aqui e ter outra rodada, mas é impossível. Me enfio num vestido verde-mar.

— Minha chefe precisa de mim. Tenho vinte e cinco minutos para estar com ela ou vou ser demitida. — E onde estão sapatos fáceis de calçar e bonitos quando preciso deles?

— Isso não é, tipo, abuso de poder? — Gabe se apoia nos cotovelos.

— Não acho que ela ligue pro que é ou não abuso de poder. — Se Stella precisar que alguém faça um milagre, vai conseguir na base da mais pura e velha opressão. Todo mundo teme o que ela pode fazer, incluindo a mim. — Têm geleia na geladeira e pães nos armários, eu acho. Nos vemos na segunda?

Ele afirma.

— Segunda. — Assente.

Jogo um beijo, que ele pega e coloca no coração. Queria ter tempo para ser brega e romântica, mas estou mais que atrasada, então saio correndo.

— Me deseje sorte!

— Vou desejar!

✿ ✿ ✿


Consigo chegar as oito e vinte e oito depois de deixar metade das minhas economias com o taxista. Voo para a recepção.

— Stella Falcone. Preciso saber da Stella Falcone.

— Você é a assistente, não é? — uma mulher baixinha pergunta. Faço um gesto positivo e recebo instruções para subir um lance de escadas.

Me inspiro no Flash para ir de dois em dois degraus e entrar na porta da direita. Ouço de longe a voz da minha chefe cuspindo exigências.

— E aquela inútil da...

— Estou aqui! — corto-a. Tenho que fazer uma pausa, me abaixar e segurar os joelhos. Estou sem fôlego depois de correr em saltos altos.

Ela olha por cima do ombro para mim e inspeciona seu relógio.

Atrasada. — Pontua. Tecnicamente sei que ainda devo ter dez ou vinte segundos. — Mais um minuto e você estaria na sarjeta.

Não nego que sim. Quando me permito reparar, há uma arara de roupas dispostas nos cantos da sala. Stella está com um lindo vestido carvão acima das coxas de alça única na diagonal. O tecido molda cada parte do corpo perfeito. Sim, perfeito. Ela costuma vestir camadas e algumas blusas de botões folgadas, calças elegantes fazem parte de seu closet, mas nunca a vi assim — a não ser em fotos. Não há uma elevação sequer na barriga reta, as pernas são torneadas e seios voluptuosos. Meu Deus, odeio não ver um errinho sequer nessa mulher para detoná-la comigo mesmo em pensamento. E ela têm, tipo, mil anos — ok, sei que ela está na casa dos quarenta ainda.

— Hum, do que precisa de mim, exatamente? — ouso perguntar.

— Você vai levar meu vestido no colo mais tarde. Ele não pode ser dobrado ou amassar daqui para de noite. E antes vai pegar meus sapatos e passar para acertar a conta do buffett. Taylor sabe onde é e vai te levar. Pegue meu cartão de crédito. — A longa unha aponta para um sofá de veludo e uma das inúmeras bolsas de marca que eu daria anos de vida para ter. Minha cabeça lateja um pouco. Já sei tudo o que vem por aí: um dia péssimo cheio de correria desenfreada. Vou chegar em casa com torcicolo e a enorme vontade de não levantar mais cama. Stella alisa os próprios quadris, admirando-se no espelho.

— Me ajude a abrir o vestido. — Pede.

Não percebi que as duas mulheres que estavam aqui saíram para pegar mais alfinetes e sair de perto do diabo por uns minutos. Apresso-me a ficar atrás de Stella e segurar o zíper da peça com o maior cuidado e delicadeza do mundo. Estragá-lo vai custar meu pescoço. Lentamente, o som preenche a sala e as costas de Stella se abrem do preto. São costas lisas, com poucas sardas chamativas. Me recordo da foto anterior que vi na internet, como ela estava bonita e radiante, com o cabelo maior e um brilho no olhar. Chegando um pouco mais para à base da coluna, enxergo um risco curioso na pele dela. É... Uma tatuagem? Estou louca ou Stella têm uma tatuagem tribal dos anos dois mil no cóccix? Tento espiar um pouco mais, contudo, ela pigarreia.

Quando ergo o olhar para cima, nossos olhos se encontram no reflexo e ela está com uma expressão de curiosidade. Imediatamente dou um passo atrás e coloco os braços para detrás do corpo. Ela reparou nisso? Engulo à seco. Stella não pode pensar que sou uma tarada ou coisa do tipo. Em minha defesa, só tentei sanar um pouco da curiosidade. Sinto a vermelhidão na base do meu pescoço. Ela vai me dar uma bronca e fazer com que eu me sinta um pedaço de lixo... de novo. Olho para baixo, esperando o que vêm por aí.

— ...e, como eu estava dizendo, depois que fizer tudo isso, vai voltar pra cá e nós vamos escolher algo bonito para que você use mais tarde.

Meu cérebro apita.

— Eu usar? — repito, buscando alguma certeza.

— É claro. — Stella diz. Se eu estiver certa... — Não vou deixar minha assistente aparecer de qualquer jeito na minha festa. Ou têm planos melhores?

Masco o lábio. Não acredito que ela está me convidando — do seu jeito — para o evento que passou a semana planejando. É estúpido me sentir hm pouquinho especial por isso? Tento evitar, mas ser emocionada está no meu sangue desde muito pequena. Comprimo a boca numa linha fina para não transbordar de felicidade e abraçá-la.

— Pode apostar que não tenho. 


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