Capítulo 14

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Eu não devia ter me deixado levar por Savannah. Minha cabeça gira e tenho vontade de rir para tudo. Me controlar nesse estado caótico é complicado, ainda mais agora que ela foi embora e eu continuo na casa de Stella.

Ha poucos convidados lá embaixo, eu já me retirei para dentro da casa a fim de evitar passar outro vexame — como quando gargalhei alto demais de um comentário de S sobre a cor laranja do bronzeado de uma moça — e tive alguns olhares curiosos apontados para mim. Tento encontrar o banheiro mais próximo. Se eu lavar o rosto... Ah, não posso, porque estou de maquiagem. Por outro lado, ficar parada e esperar um pouco do efeito do álcool perder o efeito pode ser uma boa tática. Preciso de água urgentemente e a cozinha é longe... Eu acho.

— Elena? — Stella aparece no início do corredor. — O que significa isso? — Isso o quê? Olho para baixo e encontro meus dedos segurando um jarro. Na outra mão tenho as rosas que estavam dentro dele. Quando eu peguei isso? Devagar, enfio o caule de volta na água. — Não ia beber, ia?

— Não. Claro que não... — Empurro-o de volta a mesa encostada na parede com cuidado, não confiando cem por cento nos meus reflexos a essa altura do campeonato. — Eu só estava, hã... Vendo se essa água está muito velha para as rosas.

Stella obviamente não acredita na minha desculpa esfarrapada. Me arrependo de ter me deixado levar pelo gosto do champanhe agora que ele bateu de uma vez. Fiquei bêbada sem perceber. E quanto ao papo de saber me controlar... Bem, esqueça ele imediatamente.

— Você está muito mal, menina. O que Savannah tinha na cabeça te empurrando taças e mais taças? — Fala consigo mesma. Eu me surpreendo. Ela reparou nisso? Quando? Não me lembro de ter visto Stella nos olhando hora alguma.

— Não, não... Savannah... — Busco alguma desculpa. Minha cabeça lateja um pouco e tento buscar apoio, esbarrando no vaso de antes e fazendo-o encontrar o chão. Ponho ambas as mãos na boca. — Senhora Stella, eu... Era muito caro?

— Não se preocupe. Era só um presente da Vogue China pelo meu aniversário. — Brada ironicamente. Sinto que isso vai me render um bom sermão amanhã. Stella estende sua mão para mim, impaciente pela minha demora em me afastar dos cacos de vidro e a água aglomerada nos meus sapatos. Hesitantemente, a aceito e dou alguns passos cautelosos. Ela respira fundo e me puxa pela cintura para perto do próprio quando cambaleio. — Acho melhor tirar os sapatos antes que torça o tornozelo e cause mais problemas.

Obediente, eu o faço. Tiro um por um deles. Stella volta a me dar apoio. Suas mãos em mim causam certa curiosidade no meu corpo alcoolizado. Com cuidado, começamos a subir o inúmero lance de degraus para o segundo andar. Seu semblante, por incrível que pareça, não está travado ou infinitamente furioso feito quem quer me matar. Aproveito a brecha.

— Não sabia que podia ser gentil quando quer.

— Você não sabe muitas coisas sobre mim, Elena. — Replica. Noto que é a segunda vez na noite que ela usa meu primeiro nome e não o sobrenome para falar comigo. Isso quer dizer que estamos progredindo, certo?

— Eu gostaria de saber, mas acho impossível com você sendo tão insuportável vinte e quatro horas por dia. — As palavras voam pela minha garganta antes do cérebro raciocinar o que estou dizendo. Estar tão perto dela me dá essa coragem inexplicável. — Sem ofensa.

— Não estou ofendida. Sei o que todos pensam de mim... E não me importo nem um pouco com a opinião de todos os funcionários da empresa, se é o que quer saber. — Diz. — Sei que me vê como o diabo vestindo Prada.

— Bom, eu acho a senhora meio egoísta, mesquinha e chata na maior parte do tempo, mas sei que têm uma mente muito criativa, está movimentando a economia do país e no mundo, gera muitos empregos e etecétera. Acho que isso te dá uma carta branca para ser uma vadia má.

Stella para no degrau seguinte e me olha por um segundo. Sua surpresa com minha sinceridade e falta de papas na língua fica mais que evidente. Eu mostro os dentes como desculpa, mas não sei se vai funcionar. Ela provavelmente já me demitirá por causa do jarro. E estamos quase chegando lá em cima.

— Admiro sua coragem. Nenhuma outra pessoa ousou falar assim comigo antes.

— Porque estavam sóbrias, e pessoas sóbrias são inteligentes.

— Você tem razão. Pessoas sóbrias são inteligentes e agem como cães bem adestrados, porque precisam de um emprego acima do próprio orgulho e dignidade...

— Senhora...

— Não. Deixe-me falar. O que eu quero explicar é...

— Stella...

— ...que os funcionários da Vogue são um bando de charlatões fingidos sem personalidade ou atitude e...

Não tenho tempo de dar o terceiro avisa. Stella percebe o que vai acontecer tarde demais, quando estou curvando a coluna e vomitando tudo o que há no meu estômago em cima do gigantesco carpete branco que cobre os degraus de sua linda escada.


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