— Porra, Elena. — Gabe dá um passo à frente, então me abraça com toda a força do mundo, esmagando minhas costelas. — Eu estive tão preocupado com você depois daquele vídeo... Eu pensei que... Meu Deus, quem é o desgraçado?
— Gabe... — Eu dou alguns tapinhas em suas costas, aguardando pacientemente ele me soltar do aperto de urso. — Ele, hum, não é ninguém que valha à pena. Bom, é, mas não se preocupe. Estou resolvendo isso com minha chefe.
Gabe alisa meus ombros.
— Ela não quer que você não o denuncie, né? — sonda ele.
— É... complicado. — Não preciso dele metido nisso. Definitivamente não. — Eu gostaria que você não se metesse nisso... e deixasse por minha conta.
Gabe recua um pouco. Será que eu estou sendo dura demais? Coço a parte detrás do couro cabeludo com a unha do dedo indicador. Dar o fora em garotos é mais fácil online, sem toda a coisa do contato físico e presencial.
— Tudo bem, eu acho...
— Acho melhor eu dar espaço para os pombinhos se resolverem. — Dyanne cantarola. — Vou ir comprar um pouco de comida chinesa para descansar o spaguetti e molho de tomate do nosso armário. — Tão alegre e entusiasmada para não presenciar o que vai acontecer, ela dá no pé e me abandona com uma bomba em mãos.
Dyanne quer que eu me resolva sozinha com Gabe, e sei que terei seu apoio em qualquer que for a decisão tomada. Não me deixe sozinha!, grito em pensamento. Tarde demais. Faz muito pouco tempo que cheguei de uma viagem romântica — nem totalmente — com uma mulher mais velha e gostosa. Minha vontade é relembrar todos os momentos do que vivemos, minuto por minuto, sem parar... Não lidar com um cara da cafeteria que, pode até ser bonitinho e fazer um ótimo duplo expresso, mas não me deixa tão eufórica quanto minha chefe. Gabe e eu não é uma coisa que vá rolar. Eu tenho uma pontada no coração em dizer a ele assim, sem mais explicações — porque não vou expor minhas intimidades e ser uma escrota.
— Gabe... — meus dedos pequenos e delicados seguram os dele, que são banhados por pequenas cicatrizes brancas que podem ser tanto de conchas afiadas quanto de anzóis de pesca. Gabe devia trabalhar na praia como Salva-vidas, não numa cafeteria. — Precisamos ter uma conversa.
Ele assente, desconfiado.
— Tudo bem. Sobre o quê?
— Sobre nós. — Aí, Deus. Sou péssima nisso. Por onde começo?
Faço um gesto para ele se sentar no nosso sofá e paro sob o tapete, descalça. Eu ando de um lado para o outro remexendo nas pulseiras em meu pulso, buscando em tudo que conheço no dicionário uma palavra para dar início a um discurso.
— O que tem com você? — Pergunta ele, curioso. — Está nervosa demais. Não é assim que eu costumo te ver.
— Esse é o ponto. Eu sou nervosa. — Explico a ele, gesticulando. — Eu sou... nervosa, ansiosa, muito pensativa e impulsiva quando não tenho de ser. Quando minha vida depende disso... Sei bem controlar meus sentimentos em grande parte dos casos, mas às vezes eles simplesmente fogem do meu controle e voam pelos céus atrás de alvos estranhos. — Isso é a coisa mais desconexa que eu já falei em toda a minha vida. Que horror. — O que eu quero dizer é que eu... Olha, como falar disso sem te assustar... — seguro minha cintura, em cima do cinto grosso e preto, e enfio um polegar na boca, roendo a unha.
Gabe engole à seco.
— Elena, espere. Você não está...?
Dizendo que me apaixonei por uma velhota ranzinza e maluca? Que tenho expectativas com ela e não sinto desejo por você? Sim, eu estou!
— Gabe, eu... — ele se levanta e eu expiro todo o ar preso nos meus pulmões. — Eu sinto muito.
— Não sinta. — Diz Gabe, segurando-me na cintura. O sorriso galante me desconcerta. Um brilho percorre os círculos azulados ao redor das pupilas. — Não tem que expor todos os seus defeitos achando que vou sair correndo de medo. Eu não tenho medo das suas partes ruins, Elena. Nada que você faça vai me assustar, menos ainda me afastar de você.
O quê? Ops, o tiro saiu pela culatra. Não foi o que eu quis... Mas Gabe sufoca minhas palavras com um beijo. A boca dele nem de longe é tão macia quanto a de Stella ou excitante daquele jeito maduro. Na verdade, sinto a aspereza de sua língua me enjoar. Recuo com a cabeça.
— Gabe, acho que você não entendeu...
Contudo, a porta é aberta e fechada depressa e nós dois assistimos Dyanne se atirar contra a fechadura depois de trancá-la. O peito dela sobe e desce depressa.
— Elena, não quero que se assuste, mas têm algumas pessoas lá fora tentando falar com você.
— O quê? — solto-me de Gabe depressa e corro para o meu quarto, onde há uma janela com vista para a calçada que quase nunca é usada. Eu empurro o vidro para cima e coloco a cabeça para fora. Dyanne foi gentil ao mencionar "algumas pessoas"... Têm repórteres, jornalistas e pessoas com camisetas estampadas pelos ícones de páginas de fofoca no Instagram espreitando na minha calçada. — Puta merda... Que porra é essa?
Um deles me vê e grita. Os outros se alteram e chamam por mim, pedindo por entrevistas.
— Parece que descobriram seu endereço rápido demais. — Dyanne se une a mim.
Pela primeira vez na vida, tenho um sentimento que nunca imaginei que pudesse partilhar.
— Eu odeio a internet.
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Odiável
RomanceCom a aposentadoria de Anna Wintour, a VOGUE têm uma nova editora-chefe; a mais nova sensação crítica do momento no mundo da moda: Stella Falcone. Elena Hathaway, uma ex-universitária recém-formada, consegue o cargo mais disputado contra...