Capítulo 5

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É o meu quinto dia e afirmo: Stella continua odiável; terrivelmente ácida em respostas perversas que buscam destruir a autoestima de qualquer um que a rodeie. Eu não compreendo o porquê de tanta amargura. Ela é uma mulher bonita, bem-sucedida, divorciada — o que me parece um benefício contando que ainda é amiga do ex-marido, pelo que as redes sociais me passam — e vive postando fotos que transpassam uma alegria imensa com seus filhos — que são uma graça.

Stella têm o emprego dos sonhos, vive cercada de pessoas famosas e consegue tudo que quer estalando os dedos. Não há motivo para ser tão má... Ou talvez ela seja apenas soberba e orgulhosa. Savannah está impressionada sobre como eu pareço ter me acostumado tão fácil com o jeito medonho da editora-chefe, só que eu vejo como um desafio: a cada insulto de Stella me esforço duas vezes mais para tentar ganhar um elogio — ainda não funcionou, mas um dia eu sei que vai.

— Entre. — Ela ordena. Empurro a porta com cuidado e sustento minha agenda em mãos. É o fim do dia já e, como ela não esteve aqui pela manhã, tive um pouco de paz para organizar meus pensamentos e as pendências. Ela está com o cabelo preso em um coque hoje. — O que quer?

— Vim dizer que Mark retornou avisando que conseguiu trazer Bey para o nosso lado hoje e ela aceitou nos dar uma entrevista. Uau, nem acredito que vou vê-la de verdade! Não é incrível que a maior estrela pop desse século esteja vindo para cá? Quer dizer, eu amo tanto quanto Ariana Grande e Alaska Willson, sabe? — Estou ansiosa por esse momento.

Hathaway. — Stella trinca os dentes, então percebo que estou tagarelando demais.

— Desculpe. Eu me empolgo e acabo falando demais as vezes.

— Sim, você fala demais. — Ela me chuta.

Entrego um sorrisinho cínico de volta.

— Enfim, as tulipas estão acertadas antecipadamente para semana que vêm, assim como pediu e Ted enviou os arquivos. Estão na sua caixa de e-mail. Conversei com o gerente da Gucci e ele vai fazer questão de selecionar os casacos que pediu na segunda. Estão agendados para entrega as nove e meia. Também revisei os novos layout's e selecionei alguns para que a senhora verifique assim que tiver tempo. — Fiz tudo que ela me pediu depois do horário de almoço com perfeição. Não há um defeito sequer que ela possa apontar para alfinetar. Em minha percepção, nós criamos esse joguinho de "Ache um erro da Hathaway a qualquer custo". Me recuso a deixá-la sair vitoriosa. — Posso ir?

Stella flexiona as costas na cadeira e repousa a ponta da caneta nos lábios.

— Pode... — diz. — Assim que conseguir me trazer um pouco de caviar do Lee'Mounts.

Meu queixo cai. Ela não está fazendo isso.

— Mas é do outro lado da cidade... — Espero, novamente, indícios de brincadeira, mas Stella apenas têm um afogueado vigor nos olhos verdes de quem acaba de aprontar uma travessura ao alterar as regras do jogo.

— Minha sugestão? Se apresse.

✿ ✿ ✿


Maldita vadia. Lee'Mounts é um restaurante muito específico próximo a Manhattan. Não preciso nem dizer que o trânsito é mais que horrível a essa hora, preciso? Minha ansiedade ataca dentro do carro do motorista da senhora Stella, o pobre Taylor que precisa a levar para todos os lugares e aturar sua personalidade terrível. Eu balanço meus pés para cima e para baixo repetidas vezes cada vez que um sinal se fecha e precisamos esperar mais para ir ao restaurante. Quando desço, faço uma competição com Barry Allen, porque em tempo recorde estou saindo de lá com uma sacola em mãos e ordenando que Taylor voe para a cidade. Está ficando tarde e marquei de ir ver um jogo de baseball e tomar algumas cervejas com Dyanne em um bar que adoramos em nosso bairro. Como não há nada de ruim que não possa piorar, as nuvens no céu se fecham e uma ameaça de temporal rasga os céus. Me controlo para não roer minhas unhas. Meu coração galopa às pressas dentro do peito ao entrarmos na rua da Vogue e eu praticamente salto do automóvel.

Infelizmente, assim que passo pelas portas duplas e me preparo para a corrida do século, as portas do elevador se abrem e Stella aparece desfilando com sua bolsa muito cara. Ela está com a cara mais limpa do mundo. Por um momento, para e me inspeciona. É óbvio que minhas roupas estão amarrotadas e a aparência péssima, mas me mantenho otimista.

— Hathaway... Você demorou demais. Já terminei o que tinha pra fazer e perdi o apetite completamente. Jogue no lixo. — São suas únicas palavras antes de partir, largando-me feito uma idiota parada no saguão.

✿ ✿ ✿


Eu empurro a porta do meu apartamento com dificuldade. Estou ensopada, arrasada e não preciso de um espelho para entender que pareço péssima. Stella usou Taylor para ir embora e eu tive que esperar por meu ônibus e descer na estação depois de três minutos que a chuva começou a cair. Meus ombros doloridos reclamam. Decidi tirar os sapatos e minha maquiagem está borrada. Derrotada é um ótimo termo a definir a forma que me sinto com toda essa situação de merda. Não tenho nada além de raiva e uma enorme vontade de dormir por três dias sem trégua para ir ao banheiro ou qualquer atividade que não envolva abraçar meu travesseiro com força e fugir do desastre que é Stella Falcone.

— Meu Deus, você está horrível! — Dyanna aparece da nossa cozinha com seu iogurte de coco em mãos e o horror estampado nas linhas de expressão.

Comprimo minha boca numa fina linha. Um trovão rasga os céus, cruzando as janelas num clarão púrpura.

— Acho que mudei de ideia sobre o estilete... Quero matar essa cadela. 


✿ ✿ ✿

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