Um engraçadinho conseguiu meu endereço e soltou na rede, agora tem um verdadeiro pandemônio no lado de fora do meu prédio. Enxames de demônios sedentos por me devorar, cada informaçãozinha que eu possa fornecer.
— Inferno! — massageio minhas têmporas. — Que... inferno!
— Se acalma, Lena. Eu posso jogar água neles... ou atear fogo. Teoricamente estamos no nosso direto, na nossa propriedade. — Dyanne argumenta, sentando-me na beirada da minha cama. — E também podemos simplesmente chamar a polícia. É a solução mais sem graça, mas tudo bem.
— Não. Nada de polícia. E nada de agressões. Já chamei atenção demais na última semana. — Raciocino. Preferia quando tinha a cabeça quase explodindo por ter que conseguir realizar o pergaminho de tarefas que Stella me entregava sempre que queria me deixar descrente. Bem melhor do que uma fama polêmica e rapazes. — Eu acho que vou falar com eles.
— Tá louca? Você não lembra do que eles fizeram com a Britney?!
— Claro que sim. Mas não estamos mais em dois mil e seis e não acho que vão ser tão invasivos... Não tanto quanto naquele ano. — Mas, pensando por outro lado, podem surgir perguntas as quais eu não quero responder e claramente qualquer coisa que eu falar pode ser distorcida. — Não, você tem razão. Não posso falar com eles sem uma consultoria. Eu preciso sair daqui. Urgentemente.
Mas como?
— Eles não vão embora tão cedo, amiga.
— Talvez eu possa distrair eles. — Como o bom-samaritano que é, Gabe faz a oferenda. — Só por tempo suficiente pra você poder dar uma escapadinha. Quando eles virem que você não tá mais aqui, devem cair fora.
— Ou formarem acampamento aí na frente. — Dyanne completa, otimista tal que um temporal.
— Eu já sei o que vou fazer. — Eu tenho um plano. — Gabe, preciso da sua ajuda. Quando eu disser, vá lá embaixo e diga que sabe sobre mim. Invente alguma mentira convincente, diga que é meu amigo e eu estou fora... Qualquer coisa. Pode fazer isso?
— Claro que posso. — Ele afirma.
— E quanto a mim? — Dyanne odiaria ficar de fora.
Fito-a.
— Você, minha amiga, vai me ajudar a construir uma corda. — Com o canto do lábio, eu sorrio.
Isso vai funcionar.
✿ ✿ ✿
Não demora para mim e Dyanne ligarmos alguns lençóis por meio de nós. Gabe nos ajuda com essa parte, certificando-se de que esteja firme antes de jogarmos pela janela da mini lavanderia que dá para um beco escuro atrás do nosso prédio.
— Têm certeza de que quer fazer isso, Lena? — Dyanne não está tão certa quanto a minha decisão impulsiva. — Pelo menos calce um sapato!
— Vai ficar ruim se eu estiver calçada. Ora, não seja tão pessimista. Eu já subi e desci de árvores quando menor... Isso é quase a mesma coisa, né?
— Com a diferença de que as árvores que você escalou não deviam ter seis metros de altura.
— Vai dar tudo certo, ok? — sento meu traseiro no beiral e respiro fundo. Por meio de um aceno, dou um sinal a Gabe. — Vai.
Ele maneia o queixo e dá meia-volta. Dyanne imediatamente me abraça.
— Promete que vai ficar bem?
— Eu prometo. Vou pegar um táxi para a Vogue ou ir para a casa de Savannah... Consigo me virar. Só até saber o que fazer. — Beijo-a na testa.
Dyanne, muito relutante, me solta. Eu me certifico de que a mochilinha que preparei esteja com as alças bem ajustadas e passo ambas as pernas para o lado de fora. São apenas alguns metros. Se eu cair, o máximo que pode acontecer é quebrar uma perna ou acertar a cabeça no metal de uma lata de lixo e ter traumatismo craniano. Super de boa. Devagar, viro-me, segurando o apoio na janela e depois a corda improvisada. Eu aperto firme e vou descendo com o corpo pelo pano cuidadosamente. Dyanne está se assegurando que ela não vá balançar do nada. Quando passo em frente a janela do apartamento do senhor Norman — um vizinho mal-humorado e gorducho que quase nunca fala com ninguém — e o pego no flagra experimentando um conjunto de sex-shop com orelhas de gato preto e rabinho felpudo. Vou ter tremendos pesadelos com essa vista pavorosa.
— Eca... — É o bastante para que eu me desestabilize — físico e mentalmente — e meus dedos percam a firmeza.
Meu corpo desliza em diagonal depressa e caio pelos três metros restante bem em cima de um monte e sacos pretos.
— Elena!!! — Dyanne berra.
Minhas costas doem quando rolo para fora do monte de lixo e tenho uma casca de banana presa na franja. Fora isso, estou bem. Consigo me pôr em pé e faço um jóia para a asiática lá em cima. Cuidadosamente, eu me movo para fora do beco e, de longe, vejo Gabe tentando distrair nossos xeretas, mas o grito de Dyanne chamou a atenção.
— Elena?
— Elena!
— É ela!
Droga, do que adiantou tentar sair pela janela? Dyanne vai me pagar. Sem pensar, adquiro impulso e começo uma corrida no rumo oposto, mas os abutres me seguem pela calçada. Meus pés em contato com o asfalto doem. Eu sou pequena, não vou ir muito longe sem que eles cheguem perto... Não desisto. Rezo comigo mesma para que a Santa Guadalupe envie um auxílio divino e inesperado dos céus. Tudo o que eu preciso é de um milagre. Como resposta, um SUV preto dobra a esquina e freia bruscamente. A porta do passageiro é aberta.
— Entra! — Stella Falcone ordena.
Não penso duas vezes ao terminar a corrida de poucos metros e mergulhar dentro do automóvel.
— Dirige! — grito com ela.
Stella engata a marcha e acelera. Meu coração relaxa, crente de que escapamos de uma confusão e tanto. Imagine o que eu diria se fosse confrontada por todas essas pessoas sem pausa para raciocínio? Poderia tornar as coisas bem ruins.
— Por que você está fedendo banana podre? — Stella engenha o nariz naturalmente arrebitado.
— Longa história. — Estico meus dedos no assoalho. Eles doem. — O que você estava fazendo aqui?
— Soube que expuseram seu endereço na internet e peguei o carro de Philipe para vir o mais rápido que pude ver como você está. — Philipe é o advogado dela. Isso explica o carro.
Eu relaxo no banco confortável e fecho meus olhos.
— Apesar de odiar essas soluções clichês e bobas de roteiro, vou aceitar de bom grado... Só dessa vez.
Ouço um riso de Stella. É melhor lidar com as coisas quando se tem humor envolvido. Mas não me empenho tanto em fazê-la rir. Em meu cansaço pelos recentes exercícios físicos, tudo que eu quero é dormir um pouco.
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Odiável
RomanceCom a aposentadoria de Anna Wintour, a VOGUE têm uma nova editora-chefe; a mais nova sensação crítica do momento no mundo da moda: Stella Falcone. Elena Hathaway, uma ex-universitária recém-formada, consegue o cargo mais disputado contra...