Epílogo

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— Se passar mais um pouco de perfume eu vou morrer de parada respiratória. — Dyanne resmunga.

Eu não dou trela, mas deixo o frasco sob minha penteadeira para ajeitar a correntinha de ouro com a Santinha de Guadalupe no pingente da ponta. Adoro esse vestido de alcinhas solto. Não é a maior tendência da moda, contudo, confortável para um passeio de carro com minha ex-chefe. Bom, não exatamente ex-chefe, mas eu não sou mais assistente de Stella Falcone. Agora tenho um papel importante como vice-diretora de redação na Vogue. Já faz mais de um ano e meio que comecei lá, e não foi uma trajetória nada fácil subir de cargo. Pelo lado bom, tenho um apartamento alugado no Upper East Side, ainda moro com minha melhor amiga e namoro uma mulher espetacular. Desde que eu me pronunciei sobre Thommy Crueser como Hellen instruiu, ele tem recebido menos ataques de ódio e ganhei alguns odiadores que cismam que eu deveria tê-lo metido num processo, mas as pessoas da internet não sabem um terço do que rola atrás das câmeras. Além disso, eu tenho um punhado de seguidores que gostam de mim, que são a maioria.

— E ai, como eu tô? — dou uma pequena rodadinha, agitando a saia verde-água.

— Fofa. É tão estranho não te ver toda produzida hoje em dia... — Ela desaba em cima da minha cama, dobra o cotovelo no colchão e deita a bochecha na palma da mão.

— Vou receber como um elogio. Gabe vem mais tarde?

— Não sei, acho que sim. — Ela dá de ombros. Faz mais ou menos duas semanas que Dy e Gabe estão de rolo. Ele aparece para dormir aqui algumas vezes, e não é estranho. Acho que estou tão feliz com Stella que não ligo pra quem meus ex ficam, mesmo se for minha melhor amiga. — Têm certeza que não fica bolada com nosso lance?

Nego fielmente.

— Não mesmo... Mas se inventar de ficar com Stella se a gente, por um acaso, terminar um dia, você nunca mais vai me ver na vida. É sério.

— A senhora quem manda, capitã.

Meu celular vibra. Espio a barra de notificações depressa.

— É ela. Tenho que ir... Te vejo mais tarde. — Estico-me para Dyanne e nós nos abraçamos, depois firmo meus lábios na bochecha dela e endireito a postura.

Eu saio para o elevador com minha bolsinha e desço a portaria do prédio em questão de poucos minutos. Aceno para o senhor Smiters, o porteiro. Ele retribui o gesto e abre o portão automático para mim. Meu salto plataforma — que eu costumava odiar por ser brega, mas agora adoro o conforto para os dias de domingo e passeios — afundam na calçada. O carro da minha namorada me espera na calçada. Abro a porta e deslizo o traseiro pelo banco. Stella está linda com essa nova franjinha. A deixa até um pouco mais simpática. Nós nos beijamos rapidamente.

— Tia Lena!

Eu olho para trás. O pequeno Ryan está sentado na cadeirinha de criança. Assim como Stella, possui um cabelo vermelho e usa óculos de grau redondos, como os do Harry Potter. Pálido como a neve, baixinho e magrelo; é um amor de garoto. E ele me adora. E eu o adoro como se fosse sua tia... Uma tia que namora a mãe dele... É estranho quando coloco dessa forma, melhor deixar minhas comparações de lado.

— Oi, Ryan! Animado para ver a exposição de dinossauros no shopping?

Ryan agita seu tiranossauro rex de borracha na mão e gargalha.

— Muito! Dinossauro! Dinossauro!

Fito Stella.

— Você ouviu o menino.

— E lá vamos nós...

✿ ✿ ✿


Passeio ao redor dos fósseis de brinquedo que formam escorregadores e um punhado de itens para a diversão da criançada. Ryan se diverte na piscina de dinos com um amiguinho de pele retinta. Ele tem uma boa criação, Stella vai fazê-lo se tornar um bom homem — muito diferente do pai dele, diga-se de passagem. Quando conheci Ryan, ele triste, solitário e carente... Vendo a evolução dele eu compreendo que esses dois são apegados e que ele precisava da mãe por perto. Vejo um maternal em Stella que me fascina, quase me deixa a imaginar que ela tem uma irmã gêmea boazinha incapaz de comandar uma empresa de moda com tamanha severidade.

— Adoro Ryan. — Eu digo. — Ele é um bom menino.

Ela suspira.

— Thommy nem fala de ficar com ele. Acho que esqueceu que tem um filho.

— Não é como se ele já tivesse se importado tanto com o fato de ser um pai. — Um cafajeste daqueles... Estremeço só de me lembrar do nosso último encontro em Hong Kong. — Desculpe, não é direito meu falar assim do pai do seu filho.

— Você sabe que é. E não está mentindo. — Ela se vira para mim e nos sentamos em um banco. Ryan está à vista, saltitando feito um menino maluquinho. — Eu tenho um presente pra você, aliás. — De repente, Stella remexe no bolso de seu casaco e pesca uma caixinha, a qual me estende. Não é grande ou espalhafatosa. O embrulho vermelho roça calorosamente nos meus dedos quando o pego. Stella adora me mimar, geralmente com joias, acessórios e roupas de grife. Tudo que ela escolhe me agrada, e nunca foi preciso de troca. Ela conhece os meus tamanhos de cor. Carinhosamente, desenrolo o laço em cordinha dourada e revelo uma caixa de veludo. Engulo à seco. Ainda que a ansiedade ferroe meu estômago e o ar falte, abro-a. Uma chave prateada brilha para mim. — Eu quero que se mude para a minha casa e more comigo... e com o Ryan. Ele quem deu a ideia, na verdade. Eu não sabia se era a escolha certa a se fazer, e tudo bem se quiser continuar com Dyanne. Sei que vocês são bem próximas. — Falcone fala com uma calma tão plena...

Assemelho a informação aos poucos. Uma gota de lágrima escorre pela minha bochecha e cai diretamente em cima do metal.

— Ah, eu amo Ryan. — Esse menino é mais um dos presentes que veio de brinde com o relacionamento com Stella. Ela sorri para mim e limpa meu choro. A emoção é tão inexplicável e genuína que eu me sinto tonta. — Eu aceito. É claro que aceito!

Stella agarra minha cintura para amenizar o impacto do meu abraço. Fogos de artifício se arrebentam no meu estômago. Quando Ryan vê nossa proximidade, para de brincar e vem correndo se unir a nós.

— Mamãe, ela aceitou? — ele pergunta, eufórico.

Stella acaricia a cabeça dele.

— Sim, aceitou. A tia Lena vai morar com a gente. — E se vira para mim, contente quando Ryan grita de animação.

— Êeeeeeeeee! Tia Lena! — o pequeno Crueser-Falcone abraça o meu pescoço. Ele ama abraços.

Por cima do ombro dele, convido Stella. Ela afaga as costas do filho e me beija na boca. O público observa a cena com curiosidade, e eu não me importo, porque eu vou morar com ela! Nós dormiremos juntas, acordaremos juntas, vamos trabalhar juntas e criar Ryan juntas. E teremos uma incrível vida feliz pela frente. No fundo, eu tenho medo do que o futuro à dois nos reserva, mas a expectativa do que vem por aí é muito maior... Não é o fim docemente adorável?


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