— Caralho, que cuzona! — Dyanne berra para mim. — Você terminou com ele por telefone?!
— Eu não terminei com ele por telefone, ok? Não tive coragem de ir até o final..., mas nós marcamos de nos encontrar no Central Park. Vou dar um ponto final nisso de uma vez por todas. — Tomo cuidado de não olhar para a janela do táxi pelo medo de notar que estamos chegando perto do destino. Eu simplesmente sai do apartamento sem explicar pra Stella aonde estava indo e enviei um texto dizendo que precisava resolver umas pendências, que voltaria em breve. Desde então tenho passeado por Nova Iorque dentro de um carro amarelo. — Não sou tão ruim assim. Gabe foi o melhor cara que tive, ele merece um cara-a-cara. Não quero ser a escrota da história, apesar de meio que já estar sendo...
— Ele vai superar.
— Espero que sim... Te ligo depois?
— Se esqueça de entrar em contato comigo como da última vez e nem vai precisar mais se preocupar com nenhum dos seus problemas, porque eu corto seu pescoço, Elena Diaz.
— Também amo você. Tchau.
Eu teria rido, mas meu estômago embrulhado rosna incansavelmente e minha gargalha pula. Envio o valor da corrida ao motorista por aplicativo de banco quando a corrida se encerra e o agradeço o serviço. Desço para a entrada do parque e percorro, com cautela, para o ponto de encontro que pedi para ele me esperar: na estátua de Alice no País das Maravilhas. Não estou dando a mínima se algum fotógrafo ou curioso vai vir me atormentar — na verdade eu estou, mas tento fingir que não me assusta a ideia de ter que me esconder constantemente para não sair em matérias de fofoca. Além disso, não vou demorar aqui.
Como o esperado, Gabe já está ao lado de Alice, bulinando o cabelo endurecido da personagem infantil. Engulo à seco. O sol foi embora, mas vai demorar uns minutos para escurecer. Acho que agora eu já posso dar meia-volta e retornar para onde eu vim, não?
— Elena? — Ele me nota.
Ooops, não posso mais desistir e voltar ao plano inicial de fazer tudo por chamada, né? Encorajada por mim mesma, forço minhas pernas rumo ao louro e engulo à seco.
— Gabe... Que bom que veio.
— Por que não viria? Está tudo bem com você? Depois de toda a confusão sumiu e não deu mais sinal de vida... Fiquei preocupado. — Como um namorado protetor, ele segura na minha cintura. É diferente de quando Stella o faz, não me instiga a nada. Menos ainda faz meu coração errar as batidas. Acho que só ela tem esse poder sobre mim a esse ponto do campeonato.
— Gabe, é sobre isso que eu quero conversar com você... — Afasto-o de mim com pressa.
Ele apresenta suas linhas de expressão na testa imediatamente.
— Elena, tudo bem?
Ando de um lado para o outro, como de costume quando estou surtando. É difícil desiludir alguém que têm sentimentos por você, eu mesma nunca fui a mais indicada para términos, porque sou empática demais e imaginar o que a outra pessoa vai sentir acaba sendo mais forte que a minha vontade de cortar laços. Mas não dessa vez. Ficar com Gabe não é uma opção. Não se vou me dedicar totalmente a um novo alguém e jogar meus esforços em construir uma base sólida no meu relacionamento com Stella Falcone.
— Gabe... Eu... Eu não sei como te dizer, mas... Eu amo muito você como amigo e amo seus cafés, e eu adoro seu jeito, adoro conversar com você e... — Seus olhos brilham de expectativa. Os meus já estão quase que opacos, incapazes de alimentar a faísca dele. — ... É só isso.
Gabe desfaz seu sorriso.
— Como assim? Eu acho que não estou entendo...
— É só isso, Gabe. — Remexo nos pulsos, nervosa. Como ele vai reagir? Eu pensei em diversas possibilidades, mas agora, quando é real e palpável a cena, me pergunto se alguma teoria pode ter sido acertada. — Eu não quero mais sustentar algo que não me dá vontade. Não quero mais ir pra cama, fazer planos ou programas de namorados com você. Por mais incrível que seja..., quero que sejamos só bons amigos. — E eu não sei se o que tive com Gabe foi algo além de um desejo sexual de momento, porque de minha parte, pelo menos, as perspectivas que tive de futuro com ele nunca foram tão verdadeiras aqui, dentro do meu peito. Acho que estive iludindo a mim e a ele.
— Tem outra pessoa? — ele me questiona, baixando a face.
Ah, droga. A mesma coisa de sempre.
— Você quer mesmo saber? — diga que não, diga que não, diga que...
— Não. Não quero. Não de verdade. — Me alivia saber que não vou ter que dizer um "sim". Gabe inspira fundo. Sua animação de antes vai feito chuva no bueiro, um dos sintomas da frustração.
Não me agrada sua melancolia.
— Você me perdoa? — Eu também odeio esses diálogos clichês de "o problema não é você, sou eu", mas nunca uma frase foi tão perfeita para um momento quanto esse. — Estive confusa demais comigo mesma. Eu juro que não quis te magoar.
Gabe sorri de uma maneira tristonha.
— Eu sei. — Fico contente percebendo que ele não vai surtar dizendo o que pode fazer para mudar as coisas ou sair dando uma de incrível Hulk e quebrando as coisas — não que tenha algo bom para quebrar por perto, a não ser que ele queira esfolar a mão socando Alice. As coisas são muito mais fáceis quando um homem aceita que perdeu sem todo um dramalhão. Por isso eu gosto mais ainda de Gabe. — Você vai ser feliz?
Encaro o fundo de seus olhos; o imenso mar.
— Eu vou, Gabe. — E não é uma certeza tão sólida quanto a morte, mas vou ser feliz com Stella. Que seja por mais um dia ou uma semana, eu vou ser feliz com ela durante o tempo em que estivermos juntas.
Gabe faz um gesto positivo e abre os braços para mim, não de um jeito romântico. Me aconchego ali por três segundos. Essa é a nossa despedida de ficantes — se é que existe.
— Acho melhor ir agora, Elena... Ela deve estar te esperando.
Ela? Gabe... sabe? Ele esboça uma leve expressão conformada, de quem só precisou juntar um e um para somar dois. Outra coisa de que eu gosto é dos caras espertos que poupam o trabalho das garotas. Como ele, imito o riso conformado e dou meia-volta. Meu corpo fica bem mais leve com esse peso indo embora. Não tenho muito mais para lidar; tive muitos problemas em um dia. Gabe e eu seremos amigos e Philipe está cuidando do caso de Thommy junto a Hellen. Tudo que eu preciso agora é voltar para casa... E com casa eu não me refiro a uma residência, mas sim a uma pessoa. Estou voltando para Stella Falcone.
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Odiável
RomanceCom a aposentadoria de Anna Wintour, a VOGUE têm uma nova editora-chefe; a mais nova sensação crítica do momento no mundo da moda: Stella Falcone. Elena Hathaway, uma ex-universitária recém-formada, consegue o cargo mais disputado contra...