Capítulo 26

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Quando entro em casa de novo, eu não consigo me manter tão alegre ou nervosa. Estou pensativa demais para qualquer interação social, então apenas sorrio nos momentos em que falam comigo e dou respostas rápidas.

Meus pais gostam de Gabe no fim da noite, mas não como gostaram de Stella. Eu peço que ele não durma aqui. Não quero isso. Dyanne me ajuda a arrumar as camas. Agora que o álcool foi embora eu me dei conta de que arruinei minha vida beijando-a na porta da minha casa. Quando nos vermos de novo será para assinar minha carta de demissão... ou o clima vai estar insustentável a ponto de me sufocar. A única parte boa é que a viagem para Hong Kong não foi cancelada, mas não duvido nada que ela me dispense quando voltarmos. É a cara de Stella deixar com que alguém viva um sonho e para destruí-lo com seu salto alto. Ninguém toca no assunto de eu ter saído atrás da minha chefe... Isso até o instante em que minha mãe me encontra comendo um pote de sorvete na cozinha as quatro da madrugada com meu pijama azul e nuvens cor-de-rosa.

— O que há com você? — Olga Hathaway-Diaz desliza pelo banco do meu lado. Eu gostaria de ter puxado os olhos azuis dela, mas pelo menos tenho um bocado de características genéticas boas, como os seios proporcionais e a textura de cabelo macia. Ela alisa meu braço. — Está assim por causa da Stella?

— Mais ou menos. — Espero que ela vá dizer que estou preocupada com se vou ser punida no trabalho ou coisa do tipo para que eu possa confirmar e não estender a conversa. Odeio o jeito que perco o sono quando estou uma pilha de nervos ambulante. — Hum, como sabe?

— Porque você ficou igual uma múmia quando aquele garoto beijou você na frente dela... Era quase como se não quisesse que ela visse os dois juntos. — Ela pega meu sorvete de mim e toma uma colherada generosa. — Eu estava pensando, Lena... Mais cedo você disse que estava gostando de uma pessoa e que era complicado demais... Não estava se referindo ao Gabe, estava?

Baixo a cabeça. Que droga. Ela percebe tudo mesmo. Não deixa passar nem um fio de cabelo fora do lugar.

— Não exatamente...

— Você está gostando da Stella? — tão certeira quanto um dardo atirado por profissionais.

— Sim...? Sou tão previsível assim?

Mamãe ri.

— Eu sou sua mãe. Te conheço do avesso e sei muito bem enxergar o que você sente. — Suas mãos alcançam as minhas, quentes e protetoras. Nossos dedos se alisam. — Se seu pai não tivesse tentado de tudo para que ficássemos juntos, não estaríamos casados a vinte e cinco anos. — Não preciso de mais para saber que ela está dizendo que devo ir atrás do que quero e tentar ficar com Stella.

A história dos meus pais foi um pouco triste. Os Hathaway tinham preconceito; não queriam que a filha se casasse com um latino de origem inferior à que eles tinham, então vovó tirou Olga Hathaway do testamento no dia em que eles concretizaram o casamento no civil. Mamãe não se importou com isso. Juntos, conquistaram casa, carro e uma filha muito bem-criada — no caso. eu. Minha família materna tentou consertar as coisas alguns anos mais tarde, mas o estrago já havia sido feito.

— Ah, mãe. É tão complicado... Eu nem sei se ela gosta ou pode gostar de mim desse jeito. — Deixo seu braço me envolver. Amo Dyanne e ela me entende perfeitamente bem, mas não há como comparar com minha mãe. Ela faz falta. Adoraria que morássemos perto, mas eu sou de Nova Iorque e ela mora no Texas ainda. — E se ela não me achar bonita ou atraente?

— Está falando sério? Filha, você é a menina mais linda desse mundo. E não só por fora. Eu pude perceber que Stella percebe seu desempenho, só não admite.

Olho-a.

— Tem certeza disso?

— Eu tenho. — Ela tem uma visão de águia que pega tudo no ar, como uma boa mãe.

Eu a beijo na bochecha.

— Obrigada pelos conselhos, mãe. Amo você.

— Que coisa boa é essa? — meu pai aparece pela porta com uma expressão de quem acaba de caçar a mulher ao lado da cama e não a encontrou. — Reunião das mulheres da minha vida e ninguém me chamou? — ela fica atrás da minha mãe e a abraça pelos ombros. Eles são um casal apaixonado mesmo após tantos altos e baixos no relacionamento.

— Senti tanta falta de vocês... — Faço com que ele se junte ao nosso abraço triplo. Meu peito acalenta-se aos poucos com o passar dos segundos.

Eu entendo que estou com a corda no pescoço e serei enforcada muito em breve por decorrer de algumas imprudências, mas não quero pensar nisso. Não quero pensar em Stella ou em como será da próxima vez que nós nos encontramos, provavelmente para a viagem... Se ela não cancelar minha ida de última hora. Me sufocar vai servir apenas para aumentar minha ansiedade e me deixar à beira de uma síncope nervosa. Por enquanto tenho tudo que preciso aqui comigo: a segurança dos meus pais. Stella não vai ocupar minha mente outra vez... por algumas horas.

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