Canção de lamentações

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"Quando sua alma está cansada de mais para quebrar e, de alguma forma, você ainda está acordado."
— Friday Nights, Bitter's Kiss.



Sakura tentou contar as horas. Mas não soube quanto tempo ela foi consumida pela escuridão. A única coisa que lembrava, antes do alento da inconsciência, era a voz fúnebre que dizia palavras de lamentações pela perda daquele dia.

Sinto muito... era o que a voz dizia.

Não era a voz de Kizashi. Não. Era uma voz feminina, carregada de tanta tristeza quanto a que transbordava em seu peito, coberto por aquele fino tecido branco de cheiro forte.

Então sua mente se dissolveu em um vazio profundo e quando Sakura acordou... Sinto muito, a voz repetiu.

Ela tentou contar as horas de novo, conforme Tsunade ajeitava os acessos em seus braços e pernas e um tubo era colocado em sua garganta. Mas o tempo pareceu incrivelmente devagar enquanto Sakura encarava o teto escuro de madeira. Ela conhecia aquele teto, embora o chão fosse muito mais familiar.

Em meio aos intervalos de inconsciência, Sakura ouvira o motivo de estar naquele local, ouvira Tsunade falar de um espaço mais apropriado. Então um outro lugar fora sugerido.

O porão ainda continuava tão úmido e abafado quanto Sakura lembrava, devido as paredes grossas o suficientes para abafar os gritos. Não os seus, porque a caixa de vidro que fora colocada ao centro daquele lugar havia mostrado que sua tortura seria diferente, mas os de Kizashi, cujos os guardas ao comando de Indra quebravam o que havia restado dos dedos.

As paredes impediriam que qualquer pessoa no andar de cima pudesse ouvir as lamentações e o sofrimento... o som da água dentro daquela caixa.

Contudo, havia uma outra razão, muito mais importante, segundo a médica que repetia aquelas duas míseras palavras. As paredes ajudariam a conter o cheiro venenoso que Sakura exalava, que provavelmente mataria todos que ficassem no andar das celas do prédio do distrito central, e que já se misturava com o aroma do álcool que ainda restava em sua pele, que não somente a queimara, mas também a despedaçara.

Sim, ela estava despedaçada. Porque a dádiva do milagre, Sakura havia perdido. E o que por longos anos fora sua proteção, agora, havia se tornado algo amaldiçoado.

Uma coisa envolveu seus tornozelos, era o plástico conhecido das braçadeiras apertadas. As mãos foram cruzados sobre o peito e presas de modo que os acessos venenosos não fossem prejudicados, sem se importar se seu pulso estava quebrado. Quando seu corpo foi erguido, suas costas rugiram com tanta dor que quase ela fora levada de volta para a escuridão. Mas Sakura lutou contra aquilo e exigiu que a consciência se mantivesse.

Do chão, ela ouvira o sangue do seu sangue implorar em murmuro. Não por ele, mas por ela. Mas as súplicas de Kizashi não passaram de chiados nos ouvidos de Indra Ōtsutsuki ou dos guardas que o quebravam.

Quando seu corpo foi erguido sobre a caixa, Sakura tentou contar as horas mais uma vez. Tentou contar as horas que sua alma cansada levaria para se partir — se ao menos ainda tivesse forças para aquilo. Seria em vão, certamente, mas ela queria tentar.

Um, dois... três... a contagem se iniciou nos resquícios de pensamento.

Então seu corpo foi abraçado por aquela odiosa água gelada e selado dentro daquele enorme caixão de vidro.

                                    •••••

Sasuke era uma sombra negra e impaciente se movendo entre as fileiras de soldados ANBU enquanto verificava pela décima vez a organização daquela legião. Ele precisava manter a mente ocupada, então decidiu checar o nível de todos os homens que estavam dentro daquele enorme complexo de treinamento subterrâneo, gritando ordens como se fosse um Deus furioso.

Killshot - SASUSAKUOnde histórias criam vida. Descubra agora