"Não a Diferença Entre Viver & Receber Permissão pra Viver. Assim Como Não há Diferença Entre Morrer & Ser Morto."
Drake Brishen afastou as cortinas de pesado veludo verde esmeralda e olhou as árvores lá fora. Da janela de seu apartamento de gala, estendia-se um vasto gramado que terminava num grupo de eucaliptos altos, tremendo e curvando-se incessantemente debaixo do sopro do vento quente de suas terras. Além dos troncos claros dos eucaliptos, carvalhos frondosos cobriam a colina, o verde das folhas muito vivo, quase luminoso sob o sol de novembro. Drake podia enxergar dali um braço do lago brilhando entre as árvores, a superfície da água agitada e perturbada, como se fosse um reflexo de seu próprio estado de espírito. Pequenas flores de diversas cores contrastavam vivamente com a água que era ainda mais azul que o céu da capital Ameonna, também conhecida pela capital Fantasma, mas pela primeira vez a incrível beleza daquela cena não o apaziguava.
Era tudo muito familiar e amado por ele desde o seu nascimento, mas agora sentia um arrepio percorrer sua espinha. Inúmeros Brishen antes dele tinham estado exatamente ali onde estava, admirando a mesma vista, aceitando tudo aquilo como um direito de nascença. Mas será que os que viriam depois dele poderiam fazer o mesmo?
O mundo inteiro estava passando por mudanças bastante radicais. E Drake não sabia se a nobreza estava preparada para tais mudanças e muito menos acompanha-las.
Ainda olhando pela janela, Drake procurou nos bolsos a cigarreira, mas lembrou-se de que a tinha deixado no bolso do paletó jogado sobre o encosto da cadeira giratória na qual estivera sentado até há poucos minutos, tentando inutilmente trabalhar. Com movimentos nervosos, que não lhe eram usuais, apanhou a caixa dourada e abriu. Apertou os lábios. Estava vazia, apesar de ele tê-la enchido de cigarros ainda pela manhã. Pigarreou irritado, olhando para o cinzeiro transbordando sobre a escrivaninha. Cruzou a sala em longos passos para pegar mais cigarros, pensando que se os cigarros não o matassem seu médico provavelmente o faria, por fumar tanto. Tinha lhe dado ordens de reduzir o fumo.
Do armário detrás do bar tirou um pacote de cigarros fortes, sem filtro. Com prática, rasgou o selo entre o polegar e o dedo mínimo da mão esquerda. Parou então e olhou para a mão aleijada. Normalmente não se preocupava com aquela deficiência, tanto quanto não se preocupava com os dedos longos e torneados da mão direita normal, mas agora, com a chegada próxima de um visitante, punha-se a pensar. Depois de vinte e cinco anos a cicatriz tinha se reduzido a uma linha finíssima ao longo da pele bronzeada, logo abaixo das falanges. Era quase invisível, aparecendo apenas quando se esforçava por dobrar os dedos médio e anular.
O maldito curandeiro de seu clã já havia lhe dito, uma vez, que sua capacidade de mover ligeiramente aqueles dedos rígidos era sinal de que os nervos seccionados poderiam ser restaurados através de uma microcirurgia, algo até em tão nunca imaginado dentro de seu clã. Drake, porém, tinha respondido que não se interessava. Se a tecnologia humana já tivesse atingido esse ponto de desenvolvimento na época do seu acidente, quando ele era um imortal de treze anos, toda a sua vida teria sido inteiramente diferente.
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Lady Marsalla
WampirySINOPSE ***LADY MARSALLA*** Johanne conhecia bem o orgulho e a cólera da família Brishen. Fora casada com um deles - Jeffery - e, até que ele morresse, experimentou todas as provações que o inferno lhe poderia oferecer. Conhecia também a luxúria, a...