Capítulo 14 - Lady Marsalla

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Johanne sentou-se na cama abraçando os joelhos

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Johanne sentou-se na cama abraçando os joelhos. Durante a noite o vento tinha parado e, as nuvens, coberto o céu. A chuva tranquila caía agora na vidraça que dava para a sacada. Ela havia dormido muito, mas não se sentia descansada. A fadiga era grande demais para poder relaxar completamente, os pensamentos muito perturbados. Tinha tido novamente o mesmo sonho, que a deixava agitada.

Começava com uma frase simples ao piano, um tema leve logo seguido em sequência pelo violino até um elaborado contraponto. Mas assim que as duas linhas musicais começavam a se trançar como amantes sem corpo, uma gargalhada feminina rompia a harmonia e uma voz masculina, com ligeiro sotaque dizia: Você é minha companheira e não vai me deixar nunca. Depois outra voz, a sua, infantil, amedrontada, suplicando incoerentemente. Os sons todos se repetiam mais e mais altos até uma dissonância que culminava com o ruído de espadas se confrontando no ar pesado, no chão molhado ela via gotas de suor e sangue caírem, depois o som agudo de metal se amassando pela força de uma garra sobre humana, vidros partindo e uma explosão ensurdecedora, fogo e fumaça por todos os lados...

Johanne afundou o rosto nos braços. Logo depois da morte de Erich tinha ficado com medo de dormir, com medo dos sonhos que voltavam sempre; pouco depois estava absolutamente exausta, incapaz de reconstruir sua vida.

Foi então que encontrou uma bruxa chamada Pétala. Essa bruxa, mais velha, tinha entendido tudo ao olhar para a nova vizinha e, calada, adotara Johanne, alimentando-a quando esquecia de comer e levando-a para o emprego de pianista no bar de propriedade do Lycans onde ela própria trabalhava. Quando Johanne desmaiou ao abortar, sem saber sequer que estava grávida, tinha sido Pétala quem a havia levado ao centro onde suas demais irmãs faziam pesquisas e cuidavam de curar os demais seres, dizendo à bruxa Amora que ela não tinha companheiro nem parentes, guardando em segredo o fato de ouvir Johanne chorar todas as noites durante o sono, chamando um nome masculino estranho.

Com o tempo os pesadelos tinham se tornado menos frequentes, menos vívidos. Johanne recobrou as forças graças aos cuidados de Pétala, que nunca perguntara nada sobre sua vida passada.

E agora, em sua primeira noite na propriedade do clã Brishen, o pesadelo voltava e ela sentia que estava se apaixonando por um estranho arrogante que a lembrava em tudo o falecido marido.

Que é que havia naquela combinação de feições e maneiras que lhe era tão irresistível?

Por que é que um determinado conjunto de músculos e ossos despertavam nela uma reação instantânea?

Com Jeffery tinha sido instantâneo, e ela se sentira inevitavelmente atraída por ele, fisicamente.

Agora, a perspectiva de repetir a experiência com Drake era insuportável. Drake não tinha sido nada gentil no primeiro encontro, mas, ainda assim, ela reagira à aproximação nada sutil dele com a intensidade esfaimada de uma humana recém-saída de seu mundo frágil e delicado.

Talvez fosse mesmo uma questão de fome, de necessidade física.

Tinha vinte e poucos anos e jamais experimentara uma real satisfação sexual. Jeffery tinha sido sempre absolutamente indiferente às necessidades dela e mais tarde, quando outros seres do sexo masculino tentaram se aproximar dela no lugar onde trabalhava, não tinha tido coragem de aceitar o que ofereciam, ainda traumatizada. Agora, porém, estava saudável, a cabeça mais ou menos tranquila e o corpo pedindo coisas que ela havia conseguido reprimir por um longo tempo.

Lady MarsallaOnde histórias criam vida. Descubra agora