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Cheguei na porta do estúdio com Flora no colo mais falante do que nunca. Ela estava animada e eu estranhamente nervosa, estava entrando no universo de uma pessoa que não conhecia direito, e pior, de uma pessoa famosa.

Entrei na recepção e conversei com os seguranças e com a recepcionista, eles já tinham sido avisados de minha vinda, então foi "tranquilo" para entrar no estúdio onde a loira estava.

O segurança que estava me levando abriu a porta e eu dei de cara com inúmeros aparelhos de som e algumas pessoas conversando. Uma delas era Taylor, que levantou o rosto e sorriu quando nos viu.

—Angelina, Flora!— ela veio até nós e colocou uma das mãos em minhas costas.— Gente, essas são as pessoas que eu falei que viriam passar a tarde com a gente. Essa é a Flora, uma criança incrível.— ela aponta para a pequena em meu colo e depois para mim.— e essa é Angelina, a mãe dela.

—Boa tarde, gente.— sorriso para todos que retribuem e vejo que tinha uma criança ali também.— essa é a irmã da Selena?

—Sim! Gracie, vem cá, meu bem.— a menininha que deveria ter lá pelo seus 8 anos se aproxima e encara Flora.— Essa aqui é a Flora, o que você acha de ir brincar com ela?

—Tá bem!— ela fala bem baixo e sorri.

Minha filha que estava tão falante antes de entrarmos na sala cheia de gente, agora estava caladinha. Ela me olhava e eu não conseguia entender o que queria me dizer.

—Filha, não vai dar oi para a tia Taylor? Você estava desde cedo louca para ver ela.

—Oi, tia Taylor!— ela sorri finalmente e encara a loira.

—Vem falar direito comigo, pequena.— a mais alta fica bem perto de mim e pega Florence no colo, brincando rapidamente com ela.— olha, sei que falei que ia brincar com você, mas acabei ficando um pouco atrapalhada aqui, então, vai brincar com a Gracie e depois eu vou lá ficar com vocês.

—Promete?— ela levanta o dedo mindinho e Taylor entrelaça o dela no de Flora.

—Prometo! Agora vai com a mamãe e com a Gracie para a sala do lado que eu vou daqui a pouco aproveitar com vocês.

Nós somos levadas para uma salinha confortável ao lado do estúdio em que estávamos e não deu um minuto direito e ambas as crianças já estavam brincando juntas no chão, desenhando e pintando com as coisas que Gracie trouxe.

Enquanto elas estavam ali, se divertindo, eu estava sentada em um canto da sala, no chão, com meu computador em meu colo enquanto escrevia.

Eu levava ele para cima e para baixo por precaução, nunca sabia quando teria tempo e criatividade para conseguir escrever.

Além de estar com o ouvido atento nas duas brincando, eu tinha música tocando em um dos lados fone, então não percebi que quando alguém se sentou ao meu lado, até falar comigo.

—O que você está escrevendo?— tiro o fone e me viro para ver Taylor com um sorriso no rosto.

—Estou escrevendo a minha nova história, sabe, sou escritora.

—Pode falar um pouco sobre?— ela se aproxima ainda mais de mim e eu fico com um pouco de vergonha.

—Claro, é... é um romance sobre a jornada de autodescoberta de uma jovem, ela namorava o melhor amigo, engravidou e no meio dessa bagunça de descobrir a gravidez, ela acabou percebendo que não gostava de garotos, o melhor amigo apoiou essa descoberta, mas acabou se afastando, dizendo que precisava focar na carreira para conseguir dar uma vida boa pro filho, só que a garota sabia que na verdade o ego do cara estava ferido por ela ter "trocado" ele por garotas.— só não completo com "e essa é a minha história".

—Eu adorei essa premissa, mas e a parte do romance?

—Ainda não pensei, na verdade, eu acho que vou fazer ela conhecer alguém, elas vão se apaixonar mas não vai dar certo, e talvez elas se reencontrem e se "reapaixonem", só que elas nunca pararam de se amar.— falo olhando para ela, um pouco pesarosa.

—Nossa, sua cabeça é bem criativa, queria eu ter talento para escrever uma história.

—Falou a mulher que criou um triângulo amoroso em forma de três músicas.— ela sorri e cruza os braços me olhando.

—Então quer dizer que é minha fã? Sabe até do triângulo amoroso que escrevi.— antes que possa responder sua pergunta, Flora dá um gritinho.

—Papai!— ela sai correndo até a porta, onde sigo meu olhar e vejo Kenny a pegando no colo.

—Ei, princesinha, oi meninas.— ele fala se aproximando de nós duas e se sentando no chão ainda com Flora no colo.

—Oi Kenny! Achei que ia ficar o dia todo fora.— fecho o computador e o coloco na bolsa de novo.

—Oi Kennedy!— a loira falou e sorriu de forma fraca para meu ex.

—Desculpa ter chegado mais tarde, espero não ter atrapalhado vocês.— ele simplesmente ignora minha fala.

—Sem problemas, Angelina só estava me mostrando a his...— eu corto ela e me levanto de repente.

—Vou aproveitar que você chegou, Kenny, e vou sair um pouco, preciso comprar umas coisas.— minha voz estava falhando, eu estava prestes a ter um ataque de ansiedade por conta de Kennedy.

Ele inventou a desculpa de que tinha reunião o dia todo só para não ficar com Florence enquanto eu resolvia algumas coisas, mas quando soube que eu sairia com Taylor e nossa filha, ele nem quis saber de reunião ou compromissos. Deveria ter simplesmente não enviado o novo local do encontro, para que ele ficasse perdido e pelo menos um pouco envergonhado por ter mentido para mim.

Deu para perceber que ele se importa mais em parecer um bom pai, um bom cara para conquistar uma mulher do que realmente ser essas coisas e eu já estava me cansando.

—Não, Angelina, fica aí.— a loira disse me olhando.— dependendo eu peço para meu motorista te levar e te ajudar, mas fica aqui aproveitando com a gente.

—Tudo bem, só pode me dizer onde tem um banheiro, por favor?— ela me explica e eu saio rapidamente indo até lá.

Fecho a porta atrás de mim e minha respiração descompensa, meu peito sobe e desce rapidamente, e a ansiedade me consome, os pensamentos de que eu estava errando como mãe, deixando Kenny negligenciar tanto minha filha, rondavam minha cabeça.

Ele estava errado mas eu que estava me sabotando com esses pensamentos. Eu que estava me matando de fazer trabalhos de meio período, principalmente aos domingos, para conseguir dar uma vida de qualidade para a minha filha, por que se pegasse um trabalho de tempo integral não conseguiria ver minha filha direito, e as vezes não conseguia passar o final de semana com ela. E Kennedy achava que fazia muito, pagava para mim 100 dólares, e achava que era só isso, como se desse para pagar tanta coisa assim da Flora.

Meus pensamentos só dispersaram quando percebi que estava chorando e o ar faltava em meus pulmões. Me encostei na parede e deslizei até o chão, abraçando minhas pernas para ver se aquilo passava.

Meu corpo doía tanto quanto meus pulmões e minha mente, e eu tentava me concentrar nessa dor para ver se de alguma forma ela iria embora. Mas fui interrompida de forma brusca, quando a porta se abriu de uma vez e alguém entrou.

—Angelina! O que aconteceu?— ela se agacha à minha frente e me olha nos olhos.

—Nada demais, está tudo certo.—seco minhas lágrimas e forço um sorriso.— de verdade, pode voltar para lá, claro, se você quiser.

—Eu vim te procurar, já está aqui tem um tempinho.— a loira segura em minhas mãos e sorri de leve.

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Nota da autora

E foi assim que a heroína encontrou a mocinha em seu momento vulnerável. kkkkk

O que acharam desse capítulo?

Dancing with our hands tiedOnde histórias criam vida. Descubra agora